Outrora tratado como o favorito para comandar a Câmara, o deputado federal pela Bahia, Elmar Nascimento (União Brasil) acabou desistindo da campanha ao ser atropelado por Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa — antes disso, ele chegou a ter sinalizações de apoio de oito partidos, mas sua candidatura encolheu com o tempo. Para completar, no fim do ano passado, a Polícia Federal deflagrou uma operação que investigava um esquema de corrupção por meio do desvio de emendas parlamentares. Um primo do deputado foi preso no interior da Bahia depois de atirar uma mala de dinheiro pela janela durante a batida dos agentes. Além disso, foram encontradas nas buscas documentos com citações a Elmar. O caso está agora segundo Marcela Mattos, da Veja, sob os cuidados do Supremo Tribunal Federal (STF).
Frustrado pela série de reveses, o parlamentar disse a alguns aliados recentemente ainda conforme a Veja, de que estaria decepcionado com a política e que cogita não disputar mais eleições. Nos últimos dias, contou que pensa em concorrer a uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Trata-se de um projeto político distante, pois a primeira vaga na Corte só será aberta em fevereiro do ano que vem, com a aposentadoria do ministro Aroldo Cedraz. Já a segunda está prevista apenas para outubro de 2027, quando o ministro Augusto Nardes completará 75 anos de idade.
Fora isso, a nova pretensão de Elmar esbarra em acordos políticos feitos para ocupar os mesmos espaços no futuro. Para consolidar sua bem-sucedida candidatura à presidência da Câmara, o deputado Hugo Motta assumiu certos compromissos. Em troca dos votos do PT, prometeu apoio à indicação de um deputado do partido para a próxima vaga que surgir de ministro do TCU. A mesma oferta já havia sido feita ao deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), que também era candidato à presidência da Câmara e abriu mão da disputa. Acordos políticos de longo prazo, como se sabe, quase sempre ficam pelo caminho, inviabilizados pelo imponderável ou pelas circunstâncias. Os interessados no cargo, porém, garantem que existe um trato para que os dois ministros antecipem suas aposentadorias. Estaria, portanto, tudo perfeitamente acertado. Estaria.
Caso se confirme, a pretensão de Elmar gera uma situação curiosa: vai embolar uma disputa por um cargo que ainda não existe. O tribunal é composto por nove ministros, sendo três deles indicados pela Câmara, três pelo Senado, um pelo Executivo, um pelo Ministério Público e um auditor de carreira completa o quadro. As vagas de Aroldo Cedraz e Augusto Nardes são da cota da Câmara. Por isso, os substitutos serão escolhidos pelos deputados. Com o acordo, bastaria realizar uma votação protocolar. Sem ele, o futuro ministro será eleito no voto. É por esse caminho que Elmar Nascimento pode ter alguma chance. O parlamentar baiano jura inocência, se diz perseguido por adversários políticos e acredita que derrotaria os demais concorrentes, especialmente o do PT — o nome cotado hoje para o cargo é o deputado mineiro Odair Cunha. Elmar conta a seu favor com o apoio de deputados bolsonaristas e de centro que teriam resistência a endossar uma candidatura governista para o TCU.
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Braço do Congresso na fiscalização das contas públicas, o tribunal vem ganhando protagonismo e visibilidade — decisões recentes atingiram o ex-presidente Jair Bolsonaro, que teve de devolver presentes milionários recebidos em missões oficiais, e bloquearam temporariamente os recursos destinados ao programa Pé-de-Meia, uma das principais vitrines do governo Lula. Por isso, interessa aos partidos, quaisquer que sejam eles, acomodar aliados na função. A aposta é que Augusto Nardes, um ex-deputado, deve se aposentar até o fim do ano para arriscar uma candidatura ao Senado ou ao governo do Rio Grande do Sul nas próximas eleições. Para Cedraz, também ex-deputado, o governo Lula ofereceria alguma embaixada ou função em um organismo internacional de prestígio, abrindo espaço para que o acordo de Hugo Motta com os petistas seja cumprido.
Para acirrar um pouco mais a cobiça de alguns, há uma terceira cadeira do TCU que também pode ficar livre nos próximos meses. Ao deixar a presidência da Corte, no fim do ano passado, o ministro Bruno Dantas teria aventado a possibilidade de uma aposentadoria precoce. Só que essa vaga, se surgir, pertence à cota do Senado, hoje presidido por Davi Alcolumbre, correligionário de Elmar Nascimento. É um trunfo que o deputado baiano pode usar para reforçar sua posição na disputa que se avizinha com os colegas da Câmara. Sonhar não custa nada.