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sábado 8 de fevereiro de 2025 às 09:23h

Países bálticos se desligam da eletricidade da Rússia

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Em sinal de fortalecimento de laços com a UE, Estônia, Letônia e Lituânia vão se desconectar da matriz energética russa e se sincronizar com o sistema europeu. Assim se extingue uma herança da era soviética.Uma nova era começa para as nações bálticas neste sábado (8), quando Estônia Letônia e Lituânia vão cortar sua conexão com a rede elétrica russa, e isso 10 meses antes do previsto.

A medida é meramente simbólica, já que desde maio de 2022 as três não compram eletricidade russa ou bielorrussa. Os usuários, portanto, sequer vão notar alguma diferença ou sofrer qualquer interrupção.

Para fortalecer seus sistemas elétricos, os países bálticos vêm lentamente se conectando ao sistema compartilhado de Rede Síncrona da Europa Continental, a segunda maior do mundo atrás da da China.

Estônia, Letônia e Lituânia e se tornam assim os últimos países da União Europeia a aderir ao sistema, que também inclui a Turquia, Ucrânia e Moldávia, não pertencentes ao bloco internacional.

Fim de uma história soviética compartilhada

Por mais de cinco décadas, os países bálticos foram Estados satélites da antiga União Soviética. Uma anomalia histórica desses tempos é a rede de transmissão de energia compartilhada Brell. Ela conecta os sistemas elétricos da Rússia – incluindo seu exclave Caliningrado –, Belarus e os três países bálticos. “Brell” é um acrônimo com as iniciais desses países.

A União Soviética reconheceu a independência do Báltico em 1991. Para os países da região, uma abertura à Europa e à UE era uma meta estratégica, mas desconectar-se de toda uma rede de energia integrada leva tempo.

Todos os três se filiaram à UE e à Otan em 2004, e usam o euro como moeda oficial. Com uma população combinada de pouco mais de 6,1 milhões, são pequenos em comparação a gigantes europeus como a Alemanha, com 84,5 milhões de habitantes, ou a vizinha Polônia, com mais de 38 milhões.

Kaspars Melnis, ministro do Clima e Energia da Letônia, diz que os países bálticos são um “mercado pequeno” para a eletricidade, como um todo. O projeto de desconexão, portanto, tem muito mais a ver com “defesa, segurança energética, independência e economia”. Nesse contexto, os acontecimentos recentes na Ucrânia mostraram que “a decisão de desligar foi a correta”.

Melnis não espera que o abandono do sistema Brell afete os preços da eletricidade. O que pode, sim, acontecer é que as novas energias renováveis que entrarão em operação em breve impliquem uma redução dos preços até o fim de 2025, avalia.

Países bálticos e a segurança energética da UE

Ao apostar inteiramente na rede elétrica da UE, os três Estados fortalecem seus laços europeus, enquanto se distanciam ainda mais da Rússia e de seu passado soviético.

Desde a independência, têm sido cautelosos com a Rússia e com a influência do Kremlin sobre a região. Após a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, Moscou reteve o fluxo de seu gás natural e atacou a infraestrutura energética ucraniana, forçando também os países bálticos a investirem em alternativas não russas para se garantirem.

Kristine Berzina, diretora do projeto Geostrategy North do German Marshall Fund, explica que, antes da guerra, a dúvida era se a desconexão do sistema e da rede russos “valia a pena”: “Os cidadãos não gostam de pagar mais por infraestrutura energética, e os políticos têm dificuldade em explicar por que mudanças são necessárias, se as coisas parecem estar funcionando.”

Mas a beligerância russa forçou o trio de nações a adotar medidas para garantir um fluxo ininterrupto de eletricidade. “Estar conectado significa estar preso a um adversário que alega que os países bálticos não deveriam existir”, disse Berzina, acrescentando que ficar conectado era “estar vulnerável”.

Além disso, suspeitas de sabotagem de cabos submarinos cruciais no Mar Báltico têm deixado a Europa e a Otan em alerta, e provocado a intensificação da vigilância marítima.

Para os países bálticos, independência energética significa diversificar os fornecedores de energia e as matrizes energéticas, além da capacidade de integrar mais energias renováveis, como a solar e a eólica. Sem contar que também lhes permite participar do mercado comum europeu de eletricidade.

Até 2030, a UE estabeleceu uma meta para que todos os membros possam importar ou exportar pelo menos 15% da eletricidade produzida em seu território para outros países do bloco. Bruxelas apoiou os esforços dos países bálticos com 1,23 bilhão de euros (R$ 7,3 bilhões) em investimentos em conexões com a Europa, que darão à Estônia, Letônia e Lituânia mais opções para um fornecimento de energia confiável. Uma matriz energética maior garantirá um fluxo constante de eletricidade.

Conexões existentes, ajuda da Polônia e sabotagem

A principal conexão do Báltico com a Rede Síncrona da Europa Continental da UE será por meio da linha de transmissão aérea LitPol Link, conectando a Polônia e a Lituânia, que têm fronteira comum.

Além disso, os três países estão conectados ao mercado de eletricidade escandinavo, que é um mercado próprio. A Lituânia tem uma ligação submarina com a Suécia, a NordBalt, enquanto a Estônia tem duas ligações submarinas diretas com a Finlândia — Estlink 1 e Estlink 2 — com uma terceira conexão prevista para ser concluída até 2035.

O cabo Estlink 2, no entanto, foi danificado em dezembro de 2024, reduzindo drasticamente as capacidades entre Estônia e Finlândia. Um dia após o incidente, a Comissão Europeia afirmou em comunicado que o navio envolvido fazia parte da “frota fantasma” de navios da Rússia.

O órgão executivo da UE se apressou em assegurar que o ataque à infraestrutura crítica não atrapalharia os planos de desconexão da rede russa, graças à capacidade extra que os países bálticos acumularam ao longo dos anos: “Não há risco à segurança do fornecimento de eletricidade na região”, afirmou em comunicado.

Segundo Kristine Berzina, os três países bálticos “fizeram muito” nas últimas duas décadas para garantir seu fornecimento de energia, ao mesmo tempo em que permitiram “mais competição no setor elétrico”. Devido à “desrussificação” das fontes e rotas de energia, “a política de concorrência no setor energético tem sido muito poderosa geopoliticamente”, afirma.

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