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domingo 25 de agosto de 2024 às 10:58h

Bolsonaro e o voto conservador

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Está ocorrendo uma certa confusão entre as preferências eleitorais conservadoras e aquilo que seria um fenômeno chamado de bolsonarismo. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Um conservador não é necessariamente um bolsonarista.

Se o bolsonarismo fosse o que parece ser, Alexandre Ramagem, candidato a prefeito do Rio de Janeiro, estaria disputando competitivamente com Eduardo Paes. Pelo Datafolha, Paes tem 56% das preferências e Alexandre Ramagem, fiel escudeiro de Bolsonaro, tem 9%.

Em 2018, quando uma onda antipetista e conservadora varreu o país, Bolsonaro levou a Presidência, elegeu seu filho para o Senado e o “poste” Wilson Witzel levou o governo do Rio.

Já em São Paulo, dois candidatos com atitudes diferentes (Pablo Marçal e Ricardo Nunes) unidos contra um candidato de esquerda (Guilherme Boulos) têm 40% das preferências. Esse é o tamanho do bloco conservador. O bolsonarista oficial seria Nunes que, estando na prefeitura, tem 19% e foi ultrapassado por Marçal, o dissidente.

A onda de 2016 perdeu vigor em São Paulo na eleição municipal de 2018 e Lula ganhou na capital em 2022.

Em 2018, Bolsonaro encarnou um sentimento antipetista e conservador. Passados seis anos, quatro dos quais com ele no Planalto, o voto conservador, quando tem caminho, afasta-se dele. No Rio ele pode se juntar ao bloco de Eduardo Paes. Em São Paulo, essa opção, não parece disponível. Diante disso, ele migra para Nunes ou Marçal. Eleitores paulistanos de Jair Bolsonaro, dispostos a seguir o candidato que ele indicar, talvez estejam pouco acima dos 9% de Ramagem no Rio.

O eleitor brasileiro só seguiu maciçamente um líder político que, a partir do governo, deu-lhe resultados sociais e políticos. Foi Getulio Vargas. Depois dele, veio Lula, em ponto menor, até porque mais de meio século separa os dois.

O suposto bolsonarismo é uma tendência conservadora e antipetista, apenas isso. Esse bolsonarismo não tem sequer o tamanho do velho lacerdismo. Carlos Lacerda, como Bolsonaro, foi um feroz oposicionista de Getulio Vargas e de seus herdeiros.

À diferença do ex-capitão, Lacerda governou a cidade do Rio por quatro anos e teve um desempenho exemplar, coisa que não aconteceu com a Presidência de Bolsonaro. (O candidato de Lacerda perdeu a eleição em 1965 porque era pesado e ambos estavam associados à ditadura. Se tudo isso fosse pouco, Negrão de Lima, o vencedor, era a bonomia em pessoa.)

Não existe bolsonarismo, o que há na cena é um antipetismo, essencialmente conservador. O ex-capitão ajudou a tirá-lo do armário. Antes de Bolsonaro, o Brasil teve uma ditadura de 21 anos com quatro generais num grande armário. Nenhum deles se dizia conservador, muito menos direitista.

O conservadorismo segue caminhos próprios. Esse é o caso de Ronaldo Caiado em Goiás, que começou a liderar o agronegócio quando Bolsonaro ainda era um capitão indisciplinado. Em São Paulo, Tarcísio de Freitas, é uma criação de Bolsonaro, mas governando o Estado, segue-o de forma tímida.

De certa maneira, a ideia de que exista um bolsonarismo afaga o ego de Jair Messias e convém ao PT, pois associa alguns adversários conservadores à gestão do ex-presidente.

Esse suposto bolsonarismo tornou-se uma película que embaça a vista da janela. Um conservador não precisa de Messias.

A vez de Pablo Marçal

Com a surpresa provocada pela ascensão de Pablo Marçal, na pesquisa do Datafolha que mostrou-o tecnicamente empatado com Guilherme Boulos na disputa pela prefeitura de São Paulo, muita gente boa achou que a notícia era boa. Afinal, derrotar Marçal será mais fácil.

Pode ser, mas valeria a pena conversar com aqueles que em 2018 torciam para que a disputa do PT fosse com Jair Bolsonaro.

Mal começada, a campanha eleitoral soprou um vento de preocupação no PT, não só pela pesquisa na capital de São Paulo, mas também pelo interior.

A triste sina dos fundos estatais

Num mesmo dia, o cidadão recebeu duas notícias. Uma revelava que os Correios cobriram parte do rombo do fundo de previdência de seus funcionários, o Postalis. Coisa de R$ 7,6 bilhões. Outra informava que os fundos de pensão das estatais querem mais liberdade para decidir onde investir. É um pesadelo que retorna.

Fundos de investimento podem botar dinheiro em maus negócios, e isso faz parte da vida. Em Pindorama, a coisa foi diferente. Fundos das estatais investiram em micos, seguindo a vontade do comissariado do Planalto. Em 2014, perderam R$ 31 bilhões.

As malfeitorias da época resultaram em operações policiais, investigações do Congresso, delações premiadas e falências. Tudo documentado.

A matriz do desastre era uma associação entre gestores apadrinhados pelo comissariado e empresários e papeleiros bem relacionados. Atribui-se a Albert Einstein uma definição de insanidade:

É fazer a mesma coisa esperando um resultado diferente. Se Einstein disse ou não disse isso, é uma dúvida, mas Lula gosta muito de usar essa palavra para qualificar comportamentos alheios.

A vaga de Barroso

Com mais de um ano de antecedência, já começou a maratona dos candidatos à vaga do ministro Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal.

Os candidatos partem da premissa de que ele deixará o tribunal no dia seguinte ao fim de seu mandato na presidência, em outubro de 2025.

Moraes acusa

O ministro Alexandre de Moraes escreveu o seguinte:

“O vazamento e a divulgação de mensagens particulares trocadas entre servidores dos referidos Tribunais se revelam como novos indícios da atuação estruturada de uma possível organização criminosa que tem por um de seus fins desestabilizar as instituições republicanas”.

O doutor poderia ter qualificado o que entende ter sido a “divulgação”.

Como não se conhece a origem do vazamento, a palavra pode significar a sua transferência a jornalistas. Se “divulgação” significa a publicação das mensagens de servidores de seu gabinete pela Folha de S. Paulo, de duas uma:

Ele não acredita nisso.

Ele acredita. Se acredita, delira.

Galípolo precisa de um intérprete

Quando um diretor do Banco Central fala, deve medir suas palavras. Se está na pole position para assumir a presidência da instituição, pode até ficar calado.

O doutor Gabriel Galípolo foi a um evento e falou várias vezes da taxa dos juros. Em minutos, o dólar encostou nos R$ 5,60.

Explicando-se, disse que teve “uma interpretação inadequada”.

Ganha um fim de semana na Argentina, onde a inflação bateu na marca de 263,4% para os 12 meses anteriores a julho, quem tiver uma interpretação adequada para o que ele disse:

“Na minha interpretação, posição difícil para o Banco Central não é ter que subir juros. Posição difícil é inflação fora da meta, que é uma situação desconfortável”.

 

Coluna de Elio Gaspari, jornalista e escritor, no jornal O Globo.

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