Berço de algumas das festas juninas mais concorridas do país, o Nordeste recebeu nos últimos dias uma peregrinação de caciques partidários pelas comemorações de São João em municípios como Campina Grande (PB) e Caruaru (PE). A movimentação, que levou a Câmara dos Deputados a autorizar trabalho remoto na última semana, expôs uma corrida por alianças eleitorais às vésperas da disputa por prefeituras neste ano, com direito a vaias e a “batalhas” por convidados.
Em Pernambuco, os festejos sinalizaram uma divergência entre caciques do União Brasil no estado. Embora o partido tenha acertado apoio à candidatura à reeleição de João Campos (PSB) no Recife, em uma costura que envolveu o deputado federal pela Bahia Elmar Nascimento (União Brasil), o seu correligionário na Câmara Mendonça Filho (PE) usou a festa junina de Caruaru para sinalizar uma aliança com a governadora Raquel Lyra (PSDB), adversária do atual prefeito da capital.
No evento de Caruaru, principal centro agreste pernambucano, Mendonça posou ao lado da governadora — que é também ex-prefeita da cidade — e do deputado Daniel Coelho (PSD), escolhido por Raquel Lyra para enfrentar o atual prefeito do Recife.
Embaraço na Bahia
Já o prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro (PSDB), também aliado da governadora, usou os festejos para se projetar na disputa local. Pinheiro expôs uma cisão no bolsonarismo ao receber o deputado federal Coronel Meira (PL), cujo colega de sigla, Fernando Rodolfo, é candidato de oposição. A visita ocorreu a pretexto de discutir medidas de segurança em festas juninas na cidade. O atual prefeito também estendeu os eventos de comemoração de São João por 72 dias, o que é tratado como recorde no município.
Na Bahia, por outro lado, as festas juninas viraram munição para adversários do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e do seu candidato à prefeitura de Amargosa, o petista Getulio Sampaio. Ambos subiram ao palco com o atual prefeito, Julio Pinheiro (PT), durante um show de forró no último domingo. Parte da plateia reagiu com vaias, que foram captadas pela transmissão ao vivo da TVE, emissora do governo estadual.
— Eu sempre gosto de lembrar o seguinte: a gratidão é um gesto muito nobre (…). Gratidão ao prefeito Julio Pinheiro, que sempre nos prestigiou, e ao governador, por essa visita inesperada — disse o cantor.
Figura disputada nos festejos de São João, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), compareceu em Petrolina, na última sexta, e em Campina Grande no sábado. No município pernambucano, ele foi recebido pelo prefeito Simão Durando (União), postulante à reeleição. Na cidade paraibana, Lira se dividiu entre agendas com o atual prefeito, Bruno Cunha Lima (União), e com seu antecessor, o deputado federal Romero Rodrigues (Podemos-PB), que travam uma queda de braço para concorrer em outubro.
Na tarde de sábado, Romero recebeu em seu sítio o próprio Lira e caciques do União Brasil, como Elmar Nascimento, o senador Davi Alcolumbre (AP) e o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (MA). Outro convidado foi o ex-senador Cássio Cunha Lima, primo do atual prefeito, mas que tem sinalizado um possível apoio a Romero.
Sucessão na Câmara
Outro anfitrião do presidente da Câmara foi o senador paraibano Efraim Filho (União), que articula a candidatura à reeleição de Bruno Cunha Lima. Para se equilibrar entre as diferentes forças políticas, Lira e comitiva se juntaram a Romero em outra festa, em um espaço de eventos, e depois rumaram com Efraim para uma comemoração organizada pela prefeitura. Lá, o presidente da Câmara e seus aliados posaram com Bruno.
Segundo Efraim, a presença de Lira e de Elmar nos eventos sinaliza que as conversas sobre a eleição de Campina Grande também passam pela sucessão do atual presidente da Câmara. Como O GLOBO mostrou na semana passada, siglas como União Brasil e PSD têm discutido alianças municipais de modo a alavancar seus candidatos à vaga de Lira.
— A reeleição de Bruno é uma prioridade nacional para o União Brasil, por isso foi importante a vinda de autoridades do partido a Campina Grande. Tenho conversado com Romero em busca de unidade. Ele hoje é líder da bancada do seu partido na Câmara, e seria um erro que municipalizasse seu nome — afirmou o senador.