O dólar superou a barreira dos R$ 5,30, após a valorização escalar nesta última semana. A moeda americana fechou na sexta-feira (7) em R$ 5,32, maior cotação dede janeiro de 2023. A alta já acumula 8,8% desde o início deste ano, conforme reportagem de Ana Vinhas, da TV Record.
O movimento da última semana reflete vários motivos, como a queda de preços das commodities, como petróleo, a desconfiança com mercados emergentes, após as eleições no México e na Índia, os dados econômicos dos Estados Unidos, a perspectiva de aberto monetário e a percepção de risco fiscal no Brasil.
Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, a desvalorização do real, que vinha desde o começo do ano, se intensificou nas últimas semanas. “Quando a gente olha outras moedas emergentes, a gente vê que elas também registraram depreciação, mas a do real foi mais acentuada do que a média”, afirma Claudia.
Ela destaca que há uma forte pressão de fatores domésticos na depreciação do real. Rumores de mudança do arcabouço fiscal circularam na sexta-feira, após reunião do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com representantes das instituições financeiras.
“A gente entende que são fatores mais domésticos, coisas que estão acontecendo aqui no Brasil. Um fator relevante é o fiscal. Temos uma dívida líquida bastante elevada e a perspectiva que ela vai continuar subindo. Existe agora uma discussão sobre o orçamento do governo federal, que os gastos obrigatórios estão subindo e os discricionários, ficando muito comprimidos. Isso pode gerar um problema no futuro para a dinâmica do arcabouço fiscal. Então acho que tudo isso pode estar atrapalhando o comportamento do real”, acrescenta a economista.
Valéria Vanessa Eduardo, mestre e professora do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Anhanguera, cita a influência da taxa de juros nos Estados Unidos.
Ela explica que, quando a demanda por produtos e serviços aumenta, os preços também sobem e estimulam a inflação. A taxa básica de juros (Selic no Brasil e Fed Interest Rate nos EUA) influencia outras taxas de juros no país, como empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. Assim, taxas baixas incentivam o acesso ao crédito e estimulam a economia e taxas altas dificultam o crédito e, por isso, podem controlar a inflação.
“Após a pandemia, muitos países enfrentaram uma onda de inflação. Para combatê-la, a solução adotada foi elevar as taxas de juros. Com o acompanhamento nos indicadores da inflação, o Brasil foi reduzindo a taxa Selic, de 13,75% ao ano (2022) para 10,5% ao ano (2024), mas, nos Estados Unidos, enquanto a inflação não cede, a taxa de juros continua alta”, afirma Valéria.
Devido ao aquecimento do mercado americano, o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, sinalizou que as taxas de juros devem permanecer mais altas por mais tempo com a persistência da inflação, algo entre 5,25% e 5,5%, o nível mais alto em 23 anos.
“Esse momento de incerteza faz com que a demanda e o preço do dólar aumentem, considerando que a moeda americana é a referência monetária mundial. Por isso, no Brasil, houve essa valorização do dólar”, acrescenta.
Isso é bom ou ruim para o Brasil?
Para Valéria, se o dólar está alto, é bom para um brasileiro que quer vender algum produto para fora (exportadores), mas é ruim para o brasileiro que precisa comprar algum produto lá de fora (importadores).
“O Brasil exporta (vende para fora) commodities agrícolas (soja), mineração, proteína (carne e frango), papel e celulose. Pelos produtos já negociados, os exportadores continuam recebendo a mesma quantidade de dólares, quando convertidos em reais, faz com que seus ganhos diminuam. Por outro lado, com o real depreciado, os Estados Unidos precisam de menos dólares para comprar a mesma quantidade que comprava antes. Se fica mais barato para eles, irão comprar mais, e então, o Brasil exporta mais a um dólar mais forte”, avalia a professora.
O mesmo raciocínio se aplica ao turismo. “Como os estrangeiros encontram preços mais baixos em reais em relação aos dólares, a tendência é aumento do turismo receptivo (mais visitantes). Já, para quem deseja viajar para o exterior, as despesas ficarão mais caras com o aumento da moeda estrangeira”, destaca Valéria.
Expectativa do mercado
segundo o último Boletim Focus, divulgado em 3 de junho, a expectativa do mercado é de que o dólar fique em torno de R$ 5,05 até o final do ano,
Em relatório mensal divulgado nesta sexta-feira, a XP manteve estimativa de dólar em R$ 5, no final de 2024.
“Apesar dos riscos, continuamos a projetar a taxa de câmbio a R$/US$ 5,00 no final de 2024 e R$/US$ 5,15 no final de 2025, devido aos efeitos da ampliação do diferencial de juros e fundamentos apontando que, nos patamares atuais, o real está desvalorizado”, afirma em nota.