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terça-feira 7 de maio de 2024 às 08:41h

Saques a lojas, ataques a barcos de resgate: insegurança agrava crise no Rio Grande do Sul

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Saques a lojas, ameaças a socorristas e ataques a barcos de resgate, incluindo a um que levava policiais militares a bordo, adicionam um componente de insegurança à já dramática situação dos atingidos pelas inundações em Porto Alegre, região metropolitana e boa parte do Rio Grande do Sul.

Na tarde de segunda-feira (6), a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança do Estado anunciou que o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Brigada Militar, uma unidade destinada a ações estratégicas, assumirá o patrulhamento ostensivo para coibir a ação de bandidos.

Em Canoas, na região metropolitana, entre sexta-feira (3/5) e domingo (5/5), o medo fez com que voluntários desistissem do trabalho durante a noite.

Segundo a Brigada Militar, dos 30 barcos civis que participavam de ações de resgate no sábado, somente 20 haviam voltado à atividade no domingo.

O município de cerca de 350 mil habitantes é um dos mais atingidos pela catástrofe, com mais de dois terços de sua área assolados pela cheia e mais de 15 mil desabrigados.

Diante da situação, o Comando de Policiamento Metropolitano (CPM) da Brigada Militar, responsável pelos municípios de Canoas, Nova Santa Rita, Esteio e Sapucaia do Sul, começou a patrulhar emergencialmente a área alagada com dois barcos.

Pessoas em um barco em uma enchente

Autoridades aumentaram o policiamento – Foto: ISAAC FONTANA/EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Na madrugada de domingo (5), dois homens tentaram abordar uma das embarcações que levava os policiais militares no bairro Mathias Velho, em Canoas, sem perceber que havia agentes fardados e armados a bordo.

A dupla foi presa em flagrante. Foi um incidente isolado, segundo a Brigada, que diz que desde então não houve novas ocorrências na região no fim de semana.

“Foi um ‘bote’ no bote errado, com o perdão do trocadilho”, ironizou o comandante do CPM, coronel Márcio de Azevedo Gonçalves, em entrevista à BBC News Brasil.

Gonçalves classificou de “ações de desinformação” os relatos sobre possíveis casos de novos ataques aos barcos e outros episódios de violência tanto na imprensa como nas redes sociais.

As autoridades do Rio Grande do Sul não haviam divulgado balanço de incidentes de ataques ao patrimônio ou violência desde o início da crise até a publicação desta reportagem.

Arena do Grêmio alagada, vista de cima

Arena do Grêmio ficou alagada – Foto: ISAAC FONTANA/EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Falso resgate, ronda de vizinhos

No entanto, há relatos de moradores de uma tentativa de invasão de um condomínio alagado no bairro São Geraldo, em Porto Alegre. Também teriam sido ouvidos tiros.

Moradores da área que não deixaram o prédio se revezaram em rondas de vigilância na noite de domingo para desencorajar ataques.

“Estamos fazendo rondas. Já tentaram invadir o prédio da frente”, disse a psicóloga Sabrina Zotti à BBC News Brasil em mensagem pelo WhatsApp.

A BBC News Brasil não pôde confirmar o relato de forma independente.

Na cidade de São Leopoldo, a cerca de 38 km de Porto Alegre, fontes da Brigada informaram à Rádio Gaúcha que criminosos teriam adotado uma tática em zonas de inundação: clamar por socorro, assumir o controle de barcos, lançar ocupantes à água e, em seguida, usar as embarcações para atacar vítimas e residências.

Dos 220 mil habitantes de São Leopoldo, cerca de 180 mil foram afetados pela cheia do Rio dos Sinos, segundo a prefeitura.

Saques de lojas, incluindo um estabelecimento de artigos esportivos na Arena do Grêmio, na zona norte de Porto Alegre, ocorreram desde sábado (3/5).

A ação de criminosos é facilitada em áreas alagadas pelo fato de a água ter expulsado ocupantes de casas, lojas e depósitos.

Nos pontos mais críticos da região metropolitana, somente era possível transitar de barco até a tarde de ontem, apesar do sol e do calor.

No primeiro dia de sol em mais de uma semana e com termômetros marcando temperaturas próximas de 30ºC, Porto Alegre começou nesta segunda-feira (6) a contemplar o legado de destruição deixado pelo lento recuo das águas do Lago Guaíba, na maior enchente da história do Rio Grande do Sul.

Nas zonas norte e central da capital, ruas, praças e imóveis ainda estavam parcialmente submersos no início da tarde.

Ao meio-dia de segunda-feira, o nível do Guaíba medido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente na Ponta do Gasômetro, na região central, chegou a 5 metros e 25 centímetros.

O registro era inferior em 10 centímetros ao recorde atingido às 5h30min de domingo (5/5), de 5 metros e 35 centímetros.

Essa altura tinha superado em mais de meio metro os 4 metros e 76 centímetros atingidos pelo Guaíba na grande cheia de maio de 1941, há 83 anos. A cota de inundação do lago é de 3 metros.

Enquanto novas áreas da cidade eram invadidas pela água, moradores afetados decidiam entre ficar e enfrentar um cenário de possível maior desabastecimento – cerca de 70% da cidade está sem água – ou enfrentar quilômetros de engarrafamento na única saída utilizável da cidade.

A intenção das operações de auxílio às vítimas é acelerar os trabalhos até terça-feira (7/5), já que há a previsão da chegada de uma frente fria que vai reduzir as temperaturas e piorar as condições de retirada de pessoas, além de aumentar o risco de hipotermia em pessoas que estejam aguardando o resgate ao relento ou sob a chuva.

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