Em um embate jurídico recente que capturou a atenção do setor automotivo, a Volkswagen enfrentou uma derrota significativa em uma liminar que impedia a Great Wall Motors (GWM) de registrar e vender seus modelos elétricos Ora Punk Cat e Ballet Cat no Brasil.
Esses modelos, que ostentam um design reminiscente do icônico Fusca, foram o centro de uma disputa legal intensa.
Registro e controvérsia
Há alguns anos, a GWM conseguiu o registro do desenho industrial destes dois carros elétricos no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). No entanto, a Volkswagen não demorou a reagir, entrando com um processo legal alegando que os modelos eram cópias do seu amado Fusca.
A Volkswagen é conhecida por defender rigorosamente seus designs e marcas registradas, utilizando frequentemente o argumento de “ausência de inovação” para contestar registros que considere similares aos seus produtos. Recentemente, inclusive, a empresa se opôs ao registro de uma marca chamada “Kombinação”, demonstrando sua postura vigilante.
Volkswagen vs GWM: A reviravolta no tribunal
Apesar dos esforços da Volkswagen, o Tribunal Regional Federal da 2ª região reverteu a decisão inicial em 4 de março, favorecendo a GWM. O tribunal argumentou que não havia concorrência desleal, pois o Fusca original não é produzido no Brasil desde 1996, e seu sucessor, conhecido primeiro como New Beetle e depois como Fusca novamente, teve suas vendas encerradas em 2020.
Design inspirado e o legado do Volkswagen Fusca
Curiosamente, a GWM nunca ocultou que suas inspirações vieram do Fusca, sustentando que seu objetivo era manter vivo o legado da Volkswagen. A empresa chinesa argumenta que está contribuindo para a evolução do design automotivo, respeitando as bases deixadas pela Volkswagen e melhorando-as para o benefício da sociedade.
Embora a decisão judicial abra caminho para a venda dos Ora Punk Cat e Ballet Cat no Brasil, a GWM mantém uma postura cautelosa. Executivos da empresa já expressaram preocupações de que lançar os modelos no Brasil poderia prejudicar a imagem da marca, especialmente considerando que os carros não alcançaram sucesso de vendas na China. Portanto, mesmo com a vitória legal, a introdução dos modelos no mercado brasileiro permanece incerta.
Explorando as características inovadoras do ORA Ballet Cat
Três versões, todas elétricas
Diferentemente do Fusca, o ORA Ballet Cat apresenta exclusivamente motorização elétrica. A versão de entrada é equipada com um motor elétrico no eixo dianteiro (acoplado a uma bateria de 60,5 kWh), que proporciona uma potência de 171 cv e um torque máximo de 25,5 mkgf, alcançando uma velocidade máxima de 155 km/h.
O modelo intermediário oferece tração traseira e uma potência elevada de 300 cv. Já na versão topo de linha, o “Fusca chinês” dispõe de impressionantes 544 cv com dois motores elétricos. Nesta versão, a autonomia declarada é de aproximadamente 500 km sob o padrão chinês CLTC, quando totalmente carregado.
Tecnologia de ponta
A tecnologia no ORA Ballet Cat contrasta radicalmente com a do modelo de seis décadas atrás. Enquanto o Volkswagen antigo contava com manivelas para abertura e fechamento dos vidros e pinos manuais para travamento das portas, o modelo chinês incorpora as últimas tendências tecnológicas. Apesar de seu estilo retrô, que inclui até um volante clássico com aro metálico, a cabine está equipada com uma tela multimídia integrada ao painel de instrumentos, além de oferecer comodidades modernas como carregador de celular por indução e teto solar panorâmico.
Adicionalmente, o veículo inclui saídas de ar-condicionado traseiras, portas USB, revestimento em couro sintético nos bancos (com ajustes elétricos para o motorista) e controle de velocidade. Lançado no Salão de Xangai, China, em 2021, inicialmente sob o nome Punk Cat, o modelo conta até com uma ring light no espelho interno para atrair o público feminino.
Implicações e possíveis mudanças
O caso ainda pode sofrer novos desenvolvimentos, pois a Volkswagen entrou com um embargo de declaração, que aguarda julgamento. Esse movimento pode alterar o panorama atual, embora a decisão favorável à GWM indique uma possível mudança de dinâmica no mercado automotivo, especialmente no segmento de veículos elétricos.
A decisão do tribunal não apenas impacta as operações da GWM e da Volkswagen, mas também sinaliza uma abertura maior para inovações no design de automóveis no Brasil. À medida que o mercado de carros elétricos continua a expandir, casos como esse ressaltam a importância de equilibrar proteção de design e inovação. A saga entre a Volkswagen e a GWM, sem dúvida, continua a ser uma narrativa fascinante de acompanhar para entusiastas de automóveis e especialistas jurídicos.