Dourados, em Mato Grosso do Sul, se tornou nesta última quarta-feira (3) a primeira cidade do mundo a iniciar um processo de vacinação em massa contra a dengue. Isso só foi possível graças à parceria com a farmacêutica Takeda.
O Brasil passará a adotar só no mês que vem a vacina como parte do calendário nacional. Como adiantou o Estadão, a previsão é de que cerca de 3,1 milhões de pessoas possam ser vacinadas neste primeiro ano da campanha, já que a Takeda conseguirá entregar cerca de 6,2 milhões de doses em 2024 – 1,2 milhão por meio de doação e 5 milhões pelo contrato de compra – e o esquema vacinal completo envolve duas doses.
A prefeitura local divulgou que a primeira dose foi aplicada em Francisleine Costa, mãe do adolescente Julio Cesar da Costa, de 15 anos, que morreu de dengue em 2023. “Meu filho foi enterrado no dia do aniversário. Agora a vacina veio e eu estou fazendo campanha para que todos se vacinem para que não passem pela mesma dor. Estou contente por Dourados ser a primeira cidade a prestar esse serviço ao público.”
A gestão municipal relatou alta procura no primeiro dia de imunização. Foram distribuídas inicialmente 90 mil doses do imunizante Qdenga. Mas a farmacêutica garantiu o oferecimento de 150 mil doses, suficientes para todos os douradenses entre 4 e 59 anos.
A imunização faz parte de um projeto da farmacêutica em parceria com o pesquisador Julio Croda, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que busca avaliar a proteção conferida fora de laboratório, em uma população real. “É um quantitativo de 300 mil doses disponíveis que vence em agosto deste ano e serão utilizadas para esse estudo, o primeiro do tipo para essa vacina a nível mundial”, afirmou Croda ao jornal O Globo. A Takeda, por sua vez, afirmou que a iniciativa teve início antes mesmo da compra de doses pelo governo federal.
Prevalência
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o número de casos de dengue em 2023, divulgado pelo Estadão há dez dias, apontam o Brasil como o país com maior incidência da doença. Ao todo, foram 2,9 milhões de casos até 11 de dezembro – mais da metade dos mais de 5 milhões registrados mundialmente. De acordo com a entidade, vive-se um patamar histórico para a dengue.
A OMS alertou sobre o fato de a doença também ter se espalhado para países onde historicamente não circulava, como França, Itália e Espanha. Entre as razões para a disseminação está a crise climática, que tem elevado a temperatura mundial e permitido que o mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, sobreviva em ambiente onde antes isso não ocorria – dessa maneira, ele consegue se reproduzir cada vez mais.
O fenômeno El Niño, que chegou agora ao seu auge, também acentuou os efeitos do aquecimento global das temperaturas e das alterações climáticas, e a previsão é de que seus efeitos, incluindo ondas de calor inéditas, persistam até maio ou junho. O Ministério da Saúde do Brasil já projeta um aumento de casos da doença neste ano – e, por isso, adotará a aplicação da vacina de forma geral, algo também inédito no mundo.
Mortes
Os dados da OMS alertam, ainda, para o número de casos graves da dengue: ao todo, 5 mil pessoas morreram pela doença neste ano em todo o mundo. No Brasil, 1.474 casos, ou 0,05% do total de registros, são da versão hemorrágica, que pode matar.