Segundo a coluna de José Casado, da revista Veja, bastou um semestre à distância do governo para que os dois maiores partidos da oposição tivessem planos diferentes.
A nostalgia do poder dividiu o Partido Liberal de Valdemar Costa Neto e o Progressistas de Ciro Nogueira e Arthur Lira, que sempre foi um partido governista, por isso de centro.
O PL e o PP possuem, juntos, uma bancada de 148 deputados e 17 senadores. Somam mais votos nos plenários do Congresso do que o bloco governista comandando pelo Partido dos Trabalhadores.
Muitos parlamentares, no entanto, preferem sofrer no poder do que viver longe dele. Principalmente, às vésperas de uma nova rodada de disputas municipais como as eleições de 2024.
No PL, por exemplo, a palavra “oposição” foi substituída por “direita”. Costa Neto, presidente do partido, explica: quem integra o PL é “de direita” — e somente isso. Evita reconhecer até mesmo o grupo de extremistas que passou a abrigar, sob a liderança de Jair Bolsonaro. “Extrema-direita, no nosso entendimento, é o Hitler”, disse à Globonews, em peculiar malabarismo retórico.
Os demais, ele distingue, não são exatamente oposicionistas, apenas exercem a liberdade de votar com o governo: “É preciso ter esse entendimento, são deputados que [em votações na Câmara] têm outros compromissos, mas que não deixam de ser de direita.”
O poder é magnético, funciona como um ímã de votos no Legislativo. A proximidade das eleições municipais costuma deixar parlamentares mais sensíveis ao encanto dos cargos e verbas federais.
No PL não é diferente. Muitos demonstram mais interessados na própria sobrevivência eleitoral do que num alinhamento com o grupo de Bolsonaro, cuja preocupação explícita é com a busca de meios para eventual derrubada do governo.
Costa Neto resolveu vetar punição aos parlamentares do PL que votem a favor ou assumam cargos no governo. Foi a forma que encontrou para reafirmar seu poder, internamente, e conter a escalada bolsonarista para controlar o partido — como ocorreu no extinto PSL.
No Progressistas, as circunstâncias são diferentes, mas o resultado seria o mesmo, diz o colunista José Casado. Não existe rebelião, apenas uma silenciosa travessia pois sempre foram uma legenda governista.
Ciro Nogueira, senador e presidente nacional do PP, produziu uma pérola: ““Nosso partido tem viés de oposição”, disse à CNN. Significa, explicou, sustentar “diferenças claras e marcantes sobre a forma de ver o país “em relação ao PT de Lula. Mas, ressalvou, “ninguém está proibido” de votar a favor ou integrar o governo. O PP é um partido que não impõe nada, os congressistas possuem liberdade em seus votos.
Prevê-se para agosto o embarque de parte do Progressistas no governo Lula, sob a liderança de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara.
No Progressistas, as conversas começaram há quatro meses. Em reunião, em Brasília, Ciro Nogueira propôs que o PP assumisse a vanguarda da oposição a Lula. Quando acabou de falar, foi chamado a um grupo no canto da sala. E ouviu uma bem-humorada provocação no sotaque nordestino:
— Tá tudo muito bom, tudo muito bem, mas, ô Ciro, ensina aí pra gente como é ser oposição, pois nunca fomos.
Ele rebateu, sorrindo: — Vamos cobrar gritando: “Cadê a picanha?” — referência à promessa mais repetida por Lula na campanha (“O povo vai voltar a comer um churrasquinho, uma picanha e tomar uma cervejinha…”)
Então, Luiz Eduardo, o deputado “Lula” de 22 anos e quatro oligarquias pernambucanas no sobrenome (Queiroz Campos da Fonte Albuquerque), emendou, diz o colunista da Veja:
— É, tio, mas esse negócio de óculos Ray-Ban, sapato branco e oposição só fica bonito nos outros…