O ministro Fernando Haddad diz que se dedica exclusivamente a seu trabalho na Fazenda e que no exercício da função não pensa na possibilidade de disputar novamente a Presidência da República. “Quando se deixa picar pela mosca azul, você se atrapalha muito. Mas não é o meu caso”, afirmou em entrevista a revista Veja. “Já vi muita gente boa tropeçar na própria ambição. A minha ambição é que o Brasil esteja amanhã melhor do que hoje.”
A declaração não poderia ser diferente. Primeiro, porque Lula pela lei pode disputar a reeleição em 2026. Segundo, porque Haddad só age de forma combinada com o chefe. Além disso, qualquer manifestação diferente poderia ter como consequência o aumento dos ataques de rivais de dentro e de fora do PT, que reconhecem o potencial eleitoral do ministro, ainda mais se sua gestão for bem avaliada. Mas o fato é que Haddad, considerado um quadro de perfil técnico, tem feito política como poucos. Muita política.
Em meio à desorganização da base governista e das críticas endereçadas aos articuladores políticos do Palácio do Planalto, o ministro assumiu a linha de frente das negociações com os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, para a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária. Aproximou-se, assim, dos chefes das duas Casas e até de líderes de partidos, alguns dos quais passaram a trocar gentilezas – e elogios – publicamente com ele. Outros nomes considerados presidenciáveis no PT, como o ministro Rui Costa (Casa Civil) e a deputada Gleisi Hoffmann, enfrentam sérias restrições dos parlamentares.
No início do governo, Rui Costa e Gleisi Hoffmann prevaleceram no debate sobre a reoneração dos combustíveis, que foi adiada como eles queriam, apesar de Haddad defender uma posição contrária. No caso do novo arcabouço fiscal, Gleisi e outros integrantes do partido também criticaram pontos do projeto. O ministro, no entanto, preferiu driblar a polêmica. Para a Veja, declarou que há “coreografia” na ação de colegas, coisa da política, de falar para os convertidos, mas ressaltou como positivos o debate interno e a transparência no partido, que encheu de elogios.
O tom conciliador e o discurso moderado de Haddad são ativos importantes em meio à polarização e abrem portas. Numa conversa recente, José Dirceu, um dos quadros mais influentes da história do PT, criticou a falta de traquejo político de Rui Costa e certas falas de Gleisi enquanto reconhecia o prestígio do titular da Fazenda. “Ele está muito forte”.
Parte dessa força vem do “empoderamento” de Haddad promovido por Lula. O presidente autorizou o ministro, entre outras coisas, a se aproximar das cúpulas do Legislativo e do Judiciário, sob o pretexto de tentar barrar a aprovação de projetos e a tomada de decisões judiciais capazes de sangrar os cofres públicos. Discreto, Haddad tem cumprido com zelo à missão. Em Brasília, até as moscas azuis sabem para onde o veto sopra.