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segunda-feira 1 de maio de 2023 às 08:19h

Santa Catarina vira principal bastião do bolsonarismo após derrota nacional

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm encontrado abrigo em Santa Catarina, onde quase 70% dos eleitores votaram no ex-mandatário na disputa levada ao segundo turno com o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

Santa Catarina teve uma eleição para governo do estado pulverizada, em que cinco candidatos lideraram no primeiro turno em diferentes municípios, e o apoio de Bolsonaro foi fundamental para aglutinar votos em Jorginho Mello (PL). Mesmo concorrendo inicialmente sem apoio de nenhuma outra legenda, o candidato do PL venceu o segundo turno com facilidade —teve 70,6% dos votos válidos contra o petista Décio Lima, registra Catarina Scortecci e Caue Fonseca, da Folha de São Paulo.

O mesmo ocorreu com Jorge Seif (PL), ex-secretário da Pesca de Bolsonaro, que levou no ano passado a cadeira de senador por Santa Catarina com 39% dos votos, desbancando o influente ex-governador Raimundo Colombo (PSD). Seif participou tantas vezes das lives de quinta-feira de Bolsonaro que ganhou o apelido de Zero Seis, seguindo a numeração que Bolsonaro deu aos cinco filhos.

Encerrada a eleição, Bolsonaro e aliados cobraram a fatura de Jorginho e Seif. Passaram a ver os mandatos do estado como bons postos tanto para abrigar quadros políticos quanto para manter vivas as pautas caras ao bolsonarismo para eleições vindouras. Ao lado de São Paulo, mas com menos forças políticas locais de oposição, Santa Catarina virou o principal bastião bolsonarista.

Jorginho nomeou em sua administração a filha mais velha da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, Letícia Firmo, e ao menos mais dois ex-integrantes da gestão Bolsonaro: o ex-presidente da Biblioteca Nacional Rafael Nogueira, que assumiu a Fundação Catarinense de Cultura, e a ex-gerente na Embratur Catiane Seif, mulher de Seif, que virou secretária-adjunta na pasta do Turismo no Governo de SC.

Conforme integrantes da política local, a nomeação da filha de Michelle irritou a ala dos apoiadores de Bolsonaro ligados ao empresariado, cujo principal representante é Luciano Hang. É a mesma ala que defendia que o dono das lojas Havan concorresse ao Senado em 2022 em vez de Seif. Passadas as eleições, o próprio Hang fez acenos discretos ao novo governo federal.

Desde o último dia 14, Letícia Firmo é assistente de gabinete da Secretaria de Articulação Nacional do governo de SC. As atividades da pasta se concentram em Brasília.

Nascido na cidade de Santos (SP) e seguidor do filósofo Olavo de Carvalho, Nogueira chegou a ser nomeado neste ano como assessor da deputada federal Caroline de Toni (PL-SC), antes de ser convidado para o posto na fundação do governo catarinense.

Sob Bolsonaro, ele comandou a Biblioteca Nacional de dezembro de 2019 até fevereiro de 2022, quando assumiu o cargo de secretário nacional de Economia Criativa e Diversidade Cultural. Em seu histórico, Nogueira acumula frases polêmicas, como quando associou canções de Caetano Veloso e outros artistas ao analfabetismo ou quando ligou o Carnaval a doenças como a sífilis.

No gabinete de Seif, eleito senador no pleito de 2022, foi nomeado Jair Renan Valle Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente. O valor do salário base é de R$ 5,8 mil, mas o cargo é visto como possível trampolim para lançar Jair Renan a vereador em 2024 por Balneário Camboriú, em que o presidente fez 74,5% dos votos. O lançamento do filho Zero Quatro na vida pública iria ao encontro da estratégia da família Bolsonaro de pulverizar candidaturas em diferentes regiões do Brasil.

Além de abrigar bolsonaristas em cargos comissionados, Jorginho também se manteve afinado com bandeiras bolsonaristas, mesmo no episódio dos ataques golpistas de 8 de janeiro, quando governadores que apoiaram o ex-presidente nas eleições reagiram com repúdio aos invasores.

Foto publicada em 18/04 na conta de Twitter de Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, abraçado com o ex-presidente Jair Bolsonaro – @jorginhomello no Twitter

O Governo de SC designou defensores públicos do estado para acompanhar moradores catarinenses detidos em Brasília, o que gerou críticas da oposição. Na quarta (26), quando o Congresso Nacional autorizou a criação da CPI mista sobre os atos de 8 de janeiro, Jorginho foi ao Twitter dizer que “diante de uma guerra de narrativas, a CPMI pode nos ajudar a elucidar a VERDADE, por isso tem nosso total apoio. Que os omissos e culpados sejam investigados e punidos”.

A CPI ganhou força após a divulgação de imagens das câmeras do circuito interno do Palácio do Planalto e que levou à demissão do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Gonçalves Dias.

O retorno de Bolsonaro ao Brasil também foi festejado pelo governador na mesma rede social. “Depois de um dia de muito trabalho em Brasília, não poderia deixar de visitar nosso eterno presidente. Bem-vindo de volta capitão. Sua presença é indispensável e nós estamos muito felizes em poder contar com ela novamente”, escreveu ele.

Ao fazer um balanço de cem dias de gestão, Jorginho anunciou que colocaria uma pessoa armada em cada uma das 1.053 escolas estaduais. A medida era uma das respostas ao ataque em 5 de abril contra creche particular em Blumenau (SC), que deixou quatro crianças mortas.

A medida recebeu aval folgado na Assembleia Legislativa de SC, que na segunda (24) publicou lei que institui o Programa Escola Mais Segura com o objetivo principal de convocar policiais da reserva para atuar como guardas armados nas escolas estaduais.

Ex-filiado ao PSDB e com longa trajetória política, Jorginho sempre foi visto como um político discreto e adesista. Nas eleições passadas, chegou a acionar a Justiça Eleitoral para impedir a divulgação de uma foto sua com Dilma Rousseff (PT). Ganharia a simpatia definitiva de Bolsonaro ao defendê-lo com entusiasmo na tropa de choque governista da CPI da Covid no Senado.

Mesmo após dobrar a aposta no bolsonarismo no discurso, Jorginho tenta manter alguma influência no governo federal. Tentou, por exemplo, convencer o MDB local a indicar um aliado seu à superintendência catarinense do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), órgão de influência sua desde o primeiro governo Dilma Rousseff.

O movimento, todavia, teria sido flagrado pela ala do MDB ligada ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), desafeto de Jorginho também por conta da CPI da Covid, que vetou a indicação. Na diretoria do órgão em Santa Catarina se mantém um nome indicado em meados de 2022, ainda na gestão Bolsonaro.

Tanto Jorginho quanto Seif não retornaram aos pedidos de entrevista. O gabinete de Seif alegou problemas de agenda. A reportagem fez contato desde terça (25) com a assessoria do governador Jorginho, mas não houve retorno ao pedido de entrevista.

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