A Arábia Saudita recebeu nesta última quarta-feira (12) uma delegação iraniana e o chefe da diplomacia síria, algo inédito desde 2011, no âmbito do degelo das relações entre as potências da região.
A visita da delegação iraniana ocorre dias após um encontro histórico em Pequim entre os chefes diplomáticos dos dois países, que restabeleceram os laços rompidos em 2016. Por outro lado, o chanceler sírio, Fayçal Meqdad, tornou-se o primeiro chefe diplomático do seu país a visitar a Arábia Saudita desde o início da guerra civil, em 2011.
Damasco estava isolada diplomaticamente desde a repressão daquele ano a uma revolta popular, que evoluiu para uma guerra civil complexa envolvendo vários países e grupos armados estrangeiros.
Meqdad discutiu com seu par saudita “as medidas necessárias para alcançar uma solução política completa para a crise síria”, informou o Ministério das Relações Exteriores de Riade. O objetivo é obter “uma reconciliação nacional, para devolver a Síria ao seio árabe, e que retome seu papel natural no mundo árabe”, acrescentou.
A visita de Meqdad ocorre dois dias antes de um encontro em Jidá, Arábia Saudita, entre nove países da região, em cuja pauta está o retorno da Síria à Liga Árabe, da qual está excluída desde 2012. A próxima reunião de cúpula ordinária dos líderes árabes acontecerá em 19 de maio no reino.
A Arábia Saudita havia rompido relações em 2012 com Damasco, onde apoiou os rebeldes no começo do conflito. Mas depois do terremoto de 6 de fevereiro, que devastou a Turquia e partes da Síria, Riade enviou ajuda às vítimas, em áreas sob controle do governo e nas zonas rebeldes.
“Os iranianos e os sírios estão na Arábia Saudita no mesmo dia. Seria totalmente louco e inconcebível meses atrás”, disse à AFP um diplomata árabe em Riade.
Reconciliação entre Riade e Teerã
A aproximação saudita-síria ocorre após o restabelecimento dos laços entre as potências rivais do Oriente Médio: o Irã, xiita, grande aliado de Damasco, e a Arábia Saudita, sunita. Graças a um acordo patrocinado pela China, os dois países devem reabrir suas embaixadas até meados de maio e implementar acordos de cooperação econômica e de segurança assinados há mais de 20 anos.
“A delegação iraniana tomará as medidas necessárias para instalar a embaixada e o consulado-geral em Riade e Jidá”, anunciou o porta-voz da diplomacia de Teerã, Nasser Kanani.
A reconciliação dos dois países pode ter consequências importantes na região. Desde a Revolução Islâmica de 1979 no Irã, as duas potências regionais alimentavam uma inimizade que, muitas vezes, traduzia-se em posições contrárias em conflitos regionais, como os da Síria, do Líbano e do Iêmen.