O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcou nesta quinta-feira (30) em Brasília após três meses na Flórida, nos EUA, sendo saudado por centenas de apoiadores no aeroporto da capital federal.
O ex-presidente de 68 anos seguiu para a sede do seu partido, o PL, que se tornou a maior legenda da Câmara e a segunda do Senado ao colar em Bolsonaro na última eleição. No local, um pequeno grupo de seguidores, além de nomes da legenda, o aguardava.
Ao entrar de carro pela garagem do prédio, o ex-presidente acenou rapidamente e, quando indagado por jornalistas sobre liderar a oposição, levantou o vidro do veículo, que seguiu para entrar na sede da legenda. Pouco depois, já dentro do prédio, acenou de uma janela aos apoiadores que estavam do lado de fora com bandeiras de Brasil e saudando-o com gritos de “mito”.
Bolsonaro, cujo berço político é o Rio de Janeiro, decidiu morar em Brasília, onde vai ocupar o cargo de presidente de honra do PL sob os apelos do partido para que lidere a oposição a Luiz Inácio Lula da Silva e o esforço do partido rumo às eleições municipais do ano que vem.
O avião que trouxe Bolsonaro dos EUA pousou às 6h40 em Brasília, meia hora antes do previsto, quando o saguão do aeroporto já abrigava apoiadores como o pequeno comerciante Anderson Clayton, de 45 anos, envolto em uma bandeira do Brasil.
“Estamos aqui para receber nosso presidente. O trabalho dele será colocar ordem nessa confusão. O governo Lula só está fazendo tudo errado”, disse Clayton, que defende que Bolsonaro possa concorrer novamente.
“Se não ele, alguém com suas crenças”, reforçou.
O modesto número de apoiadores em torno da chegada nesta manhã contrasta com o plano das autoridades, que reforçaram a segurança em Brasília nesta quinta, fechando o tráfego ao longo do centro da cidade temendo grande aglomerações e para evitar o risco de protestos violentos.
Antes de embarcar em um avião em Orlando, Bolsonaro minimizou seu papel de liderança e disse que usará sua experiência para ajudar seu partido nas eleições municipais do ano que vem, acrescentando que a votação que perdeu em outubro é um capítulo encerrado.
“Viramos uma página e agora vamos nos preparar para as eleições do ano que vem”, disse à CNN Brasil.
O ex-presidente partiu para os Estados Unidos dois dias antes da posse de Lula em 1º de janeiro, sem entregar a faixa presidencial ao sucessor. Ele disse que precisava descansar, mas críticos dizem que ele estava evitando os riscos legais dos inquéritos de que é alvo no Brasil.
As investigações abarcam seus ataques contra o sistema de votação e o suposto papel em encorajar apoiadores a invadir prédios dos Três Poderes nos atos violentos de 8 de janeiro que relembraram o ataque de 2021 ao Capitólio dos EUA.
Além disso, Bolsonaro enfrenta os desdobramentos do caso dos milionários presentes ofertados a ele pelo governo saudita. O episódio é alvo de investigações de várias instituições, entre elas a Polícia Federal, a Receita Federal e o Tribunal de Contas da União (TCU).
Desafios e Planalto
Mobilizar os 58 milhões de eleitores que votaram nele no ano passado não será uma tarefa fácil para o ex-capitão do Exército, segundo analistas políticos. Muitos rivais em potencial à direita têm a vantagem de ocupar cargos públicos nos próximos anos.
“Se Bolsonaro não puder mostrar rapidamente que pode liderar, a direita vai procurar outros líderes, como os governadores de São Paulo e Minas Gerais”, disse André Cesar, da Hold Legislative Advisors, uma consultoria de políticas públicas.
Bolsonaro também prejudicou sua posição com muitos partidos de centro-direita após os atos de 8 de janeiro, cometidos por seus apoiadores, e com as investigações sobre seus ataques à democracia brasileira, disse Leonardo Barreto, da Vector Relações Governamentais.
Ainda assim, o ex-presidente conta com uma fiel base e uma articulada estrutura nas redes sociais. Ele também deve calibrar seus planos com a popularidade de sua esposa Michelle, que está emergindo como uma figura carismática dirigindo o PL Mulher.
Barreto disse que as ambições da ex-primeira-dama podem fornecer uma saída para os apoiadores do ex-presidente se as investigações levarem as autoridades eleitorais a impedir Bolsonaro de disputar eleições.
O Palácio do Planalto pretende ignorar a volta de Bolsonaro ao Brasil, e a ordem é não tecer comentários ou mudar qualquer programação por causa da presença dele em Brasília, disseram fontes ouvidas pela Reuters.
Apesar da posição do Planalto, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), gravou um vídeo distribuído em suas redes na quarta-feira mandando “um recado” a Bolsonaro, ressaltando melhorias feitas pelo atual governo e chamando o ex-presidente de genocida.
“Você pode voltar quando quiser. O que não voltará jamais é o tempo sombrio em que você infelicitou esse país”, disse Gleisi.