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quarta-feira 1 de março de 2023 às 08:46h

A reboque da manutenção de Gleisi na presidência, PT ‘pula’ eleições internas e acomoda caciques

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Com histórico de sete eleições diretas internas entre 2001 e 2019, o PT rompeu a tradição e estendeu mandatos de dirigentes estaduais até 2025, quando chegarão a quase seis anos ininterruptos à frente de seus redutos. A decisão, tomada a reboque da extensão dos mandatos da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e de todos os membros do diretório nacional, ocorreu numa tentativa de apaziguar disputas regionais no primeiro ano de governo Lula. Diferentes alas da sigla seguem, no entanto, apresentando divergências de olho nas eleições municipais do próximo ano.

Em São Paulo, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, se afastou da presidência estadual após ingressar no primeiro escalão do governo, mas articulou sua substituição por um aliado, o deputado federal Kiko Celeguim, que ficará na cadeira até junho de 2025. Marinho, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e um aliado próximo de Lula, assumiu o diretório em 2017.

A continuidade do grupo de Marinho pode facilitar o apoio do PT à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura de São Paulo em 2024, numa aliança acertada pelo próprio ministro e por Gleisi.

Outros grupos do PT, contudo, defendem que a chapa petista na capital seja rediscutida. O arranjo que promoveu Celeguim também alçou à secretaria-geral do PT paulista o deputado estadual Luiz Claudio Marcolino, cuja colega de bancada na Assembleia, Professora Bebel, pleiteava assumir o diretório. Marcolino tem trajetória política próxima ao deputado Jilmar Tatto (PT-SP), um dos que resistem a declarar apoio a Boulos.

Segundo Marcolino, a recomposição pactuada do diretório estadual não entrou no mérito das eleições de 2024. Na resolução que estendeu os mandatos nos estados, aprovada no último dia 13, o PT adiou para uma reunião futura do diretório nacional, que deve ocorrer em abril, o debate sobre o “processo de renovação dos diretórios municipais”.

— Não estamos entrando ainda na questão da tática eleitoral. Isso ficará para outro momento — disse Marcolino.

O processo de eleições diretas do PT, conhecido pela abreviatura PED, foi aprovado em 1999 pelo partido para todas as instâncias de comando, e passou a ser realizado com intervalos de, no máximo, quatro anos desde então.

Ao ampliar os mandatos de Gleisi, que preside o PT desde 2017, e de todos os dirigentes estaduais, o partido argumentou haver necessidade de “fortalecer” a base de Lula nas eleições de 2024. Internamente, havia o temor de que a disputa aprofundasse rachas e fragilizasse o PT. A extensão de mandatos acomodou alas divergentes com nacos de poder.

No Rio, a decisão beneficiou o atual presidente estadual, João Maurício de Freitas, o Joãozinho, que chegou ao comando do diretório fluminense em 2019 com apoio do vice-presidente nacional Washington Quaquá, também contemplado com a ampliação do mandato. Joãozinho busca evitar que seja conflagrada uma disputa entre Quaquá e o deputado estadual Renato Machado (PT-RJ) pela prefeitura de Maricá, reduto do PT no estado. Desafetos no partido, Quaquá e Machado pleiteiam a preferência por concorrer ou indicar o sucessor do atual prefeito, Fabiano Horta (PT).

— Fabiano e Quaquá vão sentar e tomar a melhor decisão para manter o grupo unificado — afirmou Joãozinho.

Em Minas e na Bahia, onde também há divisões internas, os atuais presidentes estaduais, Cristiano Silveira e Éden Valadares, são aliados, respectivamente, do deputado federal Reginaldo Lopes e do senador Jaques Wagner. Lopes enfrenta resistências da corrente majoritária, a CNB, e também de aliados do ex-governador Fernando Pimentel e de tendências minoritárias, que tentam articular uma candidatura à prefeitura de Belo Horizonte. Já Wagner tem tido atritos com o ex-governador e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Em Sergipe, onde grupos ligados ao senador Rogério Carvalho e ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, disputam as rédeas do partido, a extensão de mandatos contemplou João Daniel, aliado de Carvalho. Derrotado na eleição ao governo em 2022, o senador defende que o PT faça oposição ao governador Fábio Mitidieri (PSD), inclusive concorrendo contra seu grupo em Aracaju. Macêdo, por sua vez, tenta abrir diálogo com Mitidieri e viu aliados tentarem, sem sucesso, assumir o diretório.

— Vamos construir uma grande aliança para enfrentar o PSD na capital — garantiu o parlamentar.

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