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sábado 25 de fevereiro de 2023 às 10:59h

A saída para a falta de mão de obra na Alemanha

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Empregadores do país reclamam da falta de profissionais qualificados em várias áreas. Mas especialistas apontam que solução pode estar em melhores condições de trabalho e remuneração, além de facilitar imigração. Um sapateiro reclama que seus filhos não querem assumir seu negócio e preferem cursar a faculdade. Procurar um aprendiz, segundo ele, é tempo perdido. O ferrador da escola de equitação próxima diz que tentou manter seu estagiário empregado após o aprendizado, mas ele não quis. Agora, encontrar um substituto é muito difícil. Seu vizinho, que trabalha para uma grande empresa, está constantemente procurando especialistas em tecnologia da informação (TI). E em todos os cafés da cidade há cartazes onde se lê: “Precisa-se de pessoal”.

“Muitas empresas estão já agora fortemente afetadas pela falta de trabalhadores qualificados”, informa o Ministério da Economia da Alemanha. “Mais de 50% das firmas veem isso como a maior ameaça aos seus negócios.” Já existe falta de pessoal adequado em muitas empresas – e isso provavelmente vai piorar. Nos próximos anos, a geração da explosão demográfica verificada no pós-guerra vai se aposentar. De acordo com o Instituto de Mercado de Trabalho e Pesquisa Ocupacional, haverá uma escassez de sete milhões de trabalhadores qualificados na Alemanha até 2035.

Emprego recorde e salários reais em queda

Mas há realmente poucos trabalhadores qualificados na Alemanha? O economista do mercado de trabalho Simon Jäger, que dirige o Instituto para o Estudo do Trabalho (IZA) em Bonn, diz que não: “O que fala contra a escassez de trabalhadores qualificados: temos um número recorde de pessoas empregadas na Alemanha agora. Nunca houve tanta gente no mercado de trabalho: cerca de 46 milhões de pessoas.”

Os mais jovens também tendem a ser mais qualificados do que os que estão se aposentando. Ele aponta ainda que os salários na Alemanha caíram acentuadamente em termos reais, ou seja, 5,7% no ano passado. “E isso não condiz com a tese de que o fator mão de obra se tornou extremamente escasso.” Porque, segundo ele, em uma economia de mercado, o preço é formado de acordo com a oferta e a demanda, e um bem escasso costuma ficar mais caro.

Potencial inexplorado em trabalhadores qualificados

“Algumas condições estruturais foram estabelecidas na Alemanha de forma a haver uma reserva doméstica de trabalhadores que não está sendo utilizada”, diz Jäger, que terminou doutorado em 2016 na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e foi professor no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Por um lado, Jäger se refere à chamada “reserva silenciosa”. São pessoas “que gostariam de trabalhar, mas não conseguem entrar no mercado de trabalho. Ou há ainda os trabalhadores de meio período que também trabalhariam em período integral, mas sob outras condições”.

“Mesmo a tributação do rendimento de casais na Alemanha contribui para que muitos dos que ganham menos que o parceiro tenham incentivos fiscais que os levam a desistir de buscar um emprego mais rentável ou a trabalhar mais”, diz Jäger. Uma melhor oferta de locais para cuidar de crianças ou horários de trabalho mais flexíveis também podem incentivar as pessoas a se tornarem mais ativas no mercado de trabalho, segundo o especialista

De acordo com a Agência Federal do Trabalho da Alemanha, 11% dos que trabalham apenas 20 horas por semana dizem que gostariam de ampliar seu expediente. No entanto, isso geralmente não é possível, porque essas pessoas precisam tomar conta dos filhos ou de pessoas que necessitam de cuidados.

A chefe da Agência Federal do Trabalho, Andrea Nahles, gostaria que trabalhadores prestes a se aposentar ficassem no mercado de trabalho por mais tempo. “Mais de um milhão estão dispostos a continuar trabalhando”, diz Nahles. Muitos estariam interessados ​​em continuar a exercer uma tarefa útil, por exemplo, em um emprego de meio período. Os patrões são, portanto, chamados a encontrar soluções criativas.

Onde usar recursos escassos?

“Em Bonn, minha cidade natal, há um bom exemplo de cabeleireira que, como todos os donos de salão de cabeleireiros, estava desesperadamente à procura de funcionários”, diz Jäger. Quando foi dito aos candidatos que eles também poderiam trabalhar apenas quatro dias por semana, o número de interessados de repente aumentou.

“Isto também vale para muitas outras áreas”, diz Jäger. Está provado, segundo ele, que entre os cuidadores, por exemplo, mais de 200 mil enfermeiros que agora trabalham em outras profissões estariam dispostos a voltar para a enfermagem se os salários e as condições de trabalho fossem correspondentemente atraentes.

“Em outras palavras, no final, o problema da evitável carência de trabalhadores qualificados é uma questão de recursos escassos. Embora não tenhamos um número infinito de pessoas que possam trabalhar, nunca houve tantas ocupando postos de trabalho como agora. E a pergunta é: onde queremos usar estes parcos recursos?”, pergunta Jäger.

“As empresas têm que mudar radicalmente o que oferecem em termos de postos de trabalho e qualidade de vida. Elas têm que cortejar as pessoas”, diz também Stefan Schaible, da presidência da empresa de consultoria Roland Berger. “Os empregadores que ainda não entenderam que têm que investir em seu pessoal estão em enormes dificuldades”.

Não vai funcionar sem imigração

No entanto, o ministro do Trabalho, Hubertus Heil, está convencido de que, apesar de tudo, o potencial no país não é suficiente para cobrir a necessidade de trabalhadores qualificados no futuro. “Mesmo que tenhamos explorado todo o potencial doméstico, ainda precisamos de imigração qualificada adicional para manter nossa economia funcionando”, diz Heil.

Especialistas do mercado de trabalho acreditam ser necessária uma imigração líquida de 400 mil pessoas por ano para fechar a lacuna no mercado alemão de trabalho. Até agora, a imigração controlada de outros países para trabalho foi limitada a um máximo de cerca de 60 mil pessoas ao ano.

Atraente país de imigração

“A Alemanha continua sendo muito atraente”, diz Jäger. “Quando as pessoas são perguntadas para quais países gostariam de migrar, a Alemanha regularmente aparece no topo, ao lado dos Estados Unidos, alguns outros países europeus e a Nova Zelândia.” Claro, o idioma alemão é uma desvantagem em comparação com os países de língua inglesa. “Mas também temos vantagens, como um Estado de direito funcional ou um sistema político estável. Esses fatores são importantes para as perspectivas de longo prazo dos imigrantes.”

Além disso, os migrantes também costumam atentar para o nível salarial e o potencial padrão de vida que podem desfrutar no país de imigração. E eles consideram também se são desejados no país de imigração e se podem adquirir sua cidadania.

Para promover uma cultura de boas-vindas, é útil transmitir às pessoas na Alemanha que a imigração tem um valor agregado para elas. Um incentivo para a vinda de trabalhadores estrangeiros seria tornar a lei de imigração menos burocrática.

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