Ficam no Sul as áreas do país com menor proporção de pessoas consideradas pobres, com renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais, segundo o Mapa da Nova Pobreza, organizado pela FGV Social. Por outro lado, é nessa região em que pobreza, fome e miséria mais suscitam preocupações, indica a pesquisa Ipec/O Globo, realizada em julho deste ano, sobre os temas considerados os maiores problemas do Brasil. Entre os entrevistados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, 20% apontaram a realidade de penúria entre os três assuntos que mais os afligem atualmente. É um percentual superior ao registrado no Nordeste (18%), no Sudeste (16%) e no Norte/Centro-Oeste (13%).
Numa comparação entre dezembro de 2018 e julho de 2022, também é nos estados do Sul que a questão mais avançou na lista do que assombra os brasileiros. Quando o governo Jair Bolsonaro estava prestes a começar, apenas 5% das pessoas ouvidas tinham elencado a pobreza nas principais adversidades nacionais, 15 pontos percentuais a menos do que na enquete mais recente. Na época, ao contrário de agora, era onde a vida na míngua havia sido menos mencionada nas entrevistas.
Os extremos entre Sul e Sudeste
Depois do Sul, foi no Nordeste em que a preocupação mais cresceu: passou de 8% das respostas no fim de 2018 para 18% este ano (10 pontos percentuais de diferença). Mas, ao se perguntar sobre o que o governo federal deveria oferecer para ajudar quem vive em situação de pobreza e fome, as duas regiões se distanciam quando a solução proposta é dinheiro ou benefícios sociais, como o Auxílio Brasil. No Sul, foi a saída indicada por 26% dos entrevistados — o menor percentual por região do país. Na outra ponta, no Nordeste, 38% escolheram essa resposta, contra 34% no Norte/Centro-Oeste e 31% no Sudeste.
No cotidiano de grandes cidades ou do interior, Sul e Nordeste também revelam extremos de indicadores sobre quem tem muito pouco para se sustentar. No Mapa da Nova Pobreza da FGV Social, Florianópolis, capital de Santa Catarina, foi identificado, num universo de 146 estratos geográficos, como o de menor proporção de pobres: 5,27% da população, seguido de outras regiões sulistas, como o Vale do Itajaí (SC) e o Planalto e Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Na lanterna desse ranking, nos 55 municípios do Litoral e Baixada Maranhense, são 72,59% das pessoas nessa situação.
Por estado, Santa Catarina (com 10,16% de pobres) e Maranhão (com 57,9%) também representam os opostos da análise, baseada em microdados de 2021 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Anual, do IBGE.
Os temas que mais povoam as angústias da população brasileira foram identificados na primeira etapa da pesquisa Ipec/OGLOBO, em entrevistas presenciais de 1º a 5 de julho deste ano, quando 2 mil pessoas foram ouvidas. Numa segunda fase, realizada de 20 a 27 de julho, foram mais 2 mil entrevistas pela internet, com brasileiros das classes A, B e C, nas quais se perguntou, por exemplo, o que o governo deve fazer para contornar questões como a pobreza. Leia aqui os outros temas da série Tem Solução, que investiga os principais problemas do país a partir de dois levantamentos inéditos do Ipec.