O percentual de brasileiros que dizem não saber em quem votar no primeiro turno da eleição presidencial diminui quando a disputa vai para uma segunda votação só com os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
A diferença numérica é pequena (de 7% para 5%) e dentro da margem de erro estimada pelo Ipec, de dois pontos percentuais. Mas o recuo é comum a todos os estratos da população e sugere haver tendência de uma maior definição dos eleitores quando a disputa se afunila, avaliam especialistas ouvidos pelo Pulso.
Os percentuais dos que dizem não saber ou que não responderam ao instituto fundado por ex-executivos do Ibope oscilam para baixo de um turno para o outro em todos os recortes por sexo, idade, região, renda, nível de escolaridade, raça e religião. Também têm variação negativa entre beneficiários de programas sociais do governo e eleitores que não recebem nenhum auxílio.
A CEO do Ipec, Márcia Cavallari, lembra que um dos fatores capazes de definir o voto de um indeciso é a rejeição desse eleitor a um dos candidatos que avançam para o segundo turno.
— As pessoas se reposicionam para o segundo turno. É uma nova eleição, com um processo decisório às vezes mais fácil — complementa.
Para o professor de ciência política da Universidade de São Paulo (USP) José Álvaro Moisés, a dimensão dos dois líderes da pesquisa e a conjuntura econômica do pós-pandemia levaram o eleitor a avaliar a escolha entre Lula e Bolsonaro desde bem antes do início das campanhas:
— A polarização desta eleição completamente atípica foi sinalizando para a maior parte dos eleitores que a escolha se dá em torno de dois candidatos. Isso leva a uma definição de voto muito cedo em relação a esses dois polos.
Sem os demais candidatos na disputa, tanto Lula quanto Bolsonaro crescem numa eventual disputa direta. O percentual de votos em branco e nulos passa de 8% para 9% nesse cenário — a taxa oscila três pontos para cima entre os eleitores com ensino superior. Nesse grupo, 13% optam por não apoiar nem a eleição de Lula nem a de Bolsonaro no segundo turno.
O maior crescimento de Lula entre a votação de um turno e outro se dá no grupo dos eleitores com 60 anos ou mais. O petista avança 11 pontos, de 44% para 55%, tendo só Bolsonaro como adversário.
Já o candidato à reeleição avança na camada de maior renda da população, como já mostrou o Pulso. Bolsonaro sobe 13 pontos percentuais no eleitorado que ganha de dois a cinco salários mínimos, e o mesmo percentual entre os que têm renda mensal ainda mais elevada.
José Álvaro Moisés vê o crescimento de Bolsonaro entre os mais ricos não como expressão de apoio desse grupo ao presidente, mas como resultado de sua rejeição ao PT.
— Grande parte desse eleitorado também é crítica ao que o presidente sustenta, especialmente pelos ataques que ele faz às instituições democráticas. Mas há nesse segmento uma posição crítica ao que o PT representa do ponto de vista de políticas econômicas e sociais. Então é possível que esse grupo volte a se mobilizar em torno de Bolsonaro como ocorreu em 2018 — diz o professor.
A pesquisa do Ipec, contratada pela TV Globo, ouviu 2 mil eleitores de 16 anos ou mais no período de 12 a 14 de agosto. O estudo está inscrito no sistema da Justiça Eleitoral sob o número BR-03980/2022. O levantamento tem margem de erro estimada em dois pontos percentuais para mais ou menos, para um intervalo de confiança de 95%. Essa margem difere para cada estrato da população, uma vez que as amostras têm tamanhos também diferentes.