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terça-feira 26 de julho de 2022 às 11:37h

A nova estratégia de Bolsonaro para atrair a opinião pública jovem

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O discurso do presidente Jair Bolsonaro na convenção do PL que oficializou, no último domingo (24), seu nome como candidato à reeleição foi marcado pelos já recorrentes ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à esquerda. No entanto, em diversos momentos, Bolsonaro não perdeu a chance de fazer acenos a mulheres e, principalmente, aos jovens, dois dos estratos que mais apoiam o ex-presidente Lula, segundo pesquisas de intenção de voto, obedecendo ao pedido de aliados do centrão, que se preocupam com o isolamento do presidente apenas em sua base eleitoral.

Em diversos pontos de seu discurso, Bolsonaro citou especificamente o eleitorado mais jovem conforme o jornal O Globo, que, segundo o Datafolha, é um dos que mais o rejeitam: seis a cada dez dos entrevistados na faixa etária de 16 a 24 anos dizem que não votariam no presidente. Como estratégia e atrativo para esse público, Bolsonaro citou até os jogos em 5G nos celulares, que a “garotada tanta gosta” e, nas mãos de um eventual governo de esquerda, disse o presidente, estariam sob ameaça de quem quer “controlar a mídia”.

A reprovação dos jovens a Bolsonaro é confirmada também na pesquisa “A cara da democracia”, feita pelo Instituto da Democracia e detalhada no Pulso no início deste mês: novamente, 60% dos entrevistados com idade entre 16 e 24 anos classificaram o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo.

No início do ano, partidos de oposição fizeram uma campanha para que jovens que terão entre 16 e 17 anos no pleito se registrassem na Justiça Eleitoral. Em outubro, 2,1 milhões de eleitores nessa faixa etária estarão aptos a votar, cerca de 700 mil a mais do que há quatro anos. Em seu discurso, Bolsonaro fez diversas sinalizações a esse eleitorado e de formas distintas: seja apontando ingenuidade de quem seria seduzido por um discurso esquerda, seja insinuando que Lula iria controlar o uso das redes sociais.

— Eu quero me dirigir àquele jovem de esquerda que fala que é bacana o outro lado. Esse jovem de esquerda, como quase todos os jovens, tem um telefone celular. Dizer para esse jovem de esquerda que o seu candidato prega o controle social da mídia. Diz que quer regulamentar as mídias sociais. Você quer perder a sua liberdade nas mídias sociais? — disse Bolsonaro em seu discurso.

Em seus discursos, Lula já falou sobre a necessidade de regulamentação das redes sociais e da internet, mas não apresentou detalhes sobre a proposta. Nas diretrizes de seu programa de governo, já divulgadas pelo PT, há a referência à necessidade de “um amplo debate no Legislativo, garantindo a regulamentação dos mecanismos protetores da pluralidade, da diversidade, com a defesa da democratização do acesso aos meios de comunicação”.

Segundo Alessandro Janoni, consultor na área de pesquisas eleitorais e ex-diretor do Datafolha, o discurso de Bolsonaro reflete a estratégia de mirar a comunicação em estratos que apoiam Lula mas que também se mostram volúveis diante da vulnerabilidade social.

— Mulheres e jovens são os segmentos que mais sofreram os reflexos da pandemia, isto é, mais perderam emprego, renda e escola, motivo pelo qual tendem à Lula, pelo seu histórico na área social. Mas, diante do agravamento do quadro, Bolsonaro tenta com o aumento do Auxílio Brasil e, com a comunicação a esses grupos, ganhar pontos para conseguir levar a eleição para o segundo turno — afirmou.

No discurso, o presidente fez um apelo aos seus eleitores para que tentem convencer os “jovens de esquerda” em suas famílias. Segundo ele, é comum ter na família pessoas de esquerda, sobretudo os mais jovens.

— Se os pais tiverem condições, pague uma passagem para esse jovem ir pra Roraima, Boa Vista, e se for possível, vá para Pacaraima, que é divisa do Brasil com a Venezuela. E veja, jovem, os seus colegas jovens fugindo a pé para o Brasil — disse Bolsonaro.

De acordo com Janoni, entretanto, essa não é uma visão que encontra tanta sustentação histórica. Assim como outros estratos do eleitorado, os jovens levam em conta diversos fatores na hora do voto, e o ideológico é apenas um deles.

Em 2018, por exemplo, às vésperas do segundo turno, Bolsonaro tinha intenção de voto similar em todas as faixas etárias, segundo o Datafolha: em outubro, por exemplo, 35% dos eleitores de 16 a 24 anos diziam que iriam votar no atual presidente. Este ano, Bolsonaro tem 26%. O então candidato do PT, Fernando Haddad, estava numericamente atrás de Ciro Gomes, segundo a pesquisa, com 18% das intenções de voto contra 20% do pedetista. Quando começou a surgir nas pesquisas de intenções de voto, diz Janoni, Bolsonaro era o preferido entre os mais jovens, exatamente pela sua atuação nas redes sociais.

— A ideologia é só um dos fatores e não necessariamente o que mais pesa. Este ano, por enquanto, o que está pesando mais é a avaliação dos candidatos como gestores — afirmou Janoni.

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