Pré-candidatos a presidente que buscam se colocar como opção de terceira via tentam se desvencilhar segundo Felipe Frazão, no Estadão, de traições e boicotes em série. Com o desafio de vingar como opção de centro, entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pelo menos três presidenciáveis passaram por algum tipo de revés interno nos próprios partidos, além de não conseguirem deslanchar nas pesquisas de intenção de voto.
O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), a senadora Simone Tebet (MDB) e o ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil) sofrem o que parece ser uma antecipação da “cristianização”, o abandono por parte de correligionários do candidato oficial de seu partido diante da estagnação. O processo começou a ocorrer no nascedouro dessas candidaturas alternativas, fomentado por grupos dissidentes ciosos da própria sobrevivência eleitoral, a quatro meses da campanha oficial.
Entre o fim de março e o início de abril, prazo final previsto em lei para filiação e desincompatibilização, Moro e Doria flertaram com a desistência de suas pré-candidaturas. O tucano voltou atrás, mas o ex-juiz, que também trocou o Podemos pelo União Brasil, perdeu o status de pré-candidato e não tem mais a garantia de legenda para disputar o Palácio do Planalto.
Ele era almejado por uma ala minoritária do União Brasil, egressa do PSL, e foi barrado por nomes influentes vindos do DEM. Agora, o deputado Luciano Bivar (PE), presidente do União, passou a ser apresentado como pré-candidato ao Planalto.
O ex-juiz insiste em dizer que “não desistiu de nada”, mas reconhece em reservado que alas de seu atual partido e do anterior trabalham por uma aliança com o Planalto. Ele descartou ser candidato a deputado federal. A interlocutores, Moro reclamou da falta de estrutura que recebeu enquanto pôde se apresentar como pré-candidato do Podemos e que tem a sensação de que “não interessa a ninguém uma terceira via para valer”. Há mágoas dos dois lados, e ex-entusiastas do Podemos afirmam que Moro decidiu tudo sozinho.
Os partidos União Brasil, PSDB, MDB e Cidadania querem apresentar uma chapa conjunta até o dia 18 de maio. Mas sofrem com rachas internos que podem esfacelar o endosso e apoio real a um candidato do centro. O Podemos tem um encontro ampliado no fim de abril, mas só deve tomar rumo em julho.
Isolamento
Vencedor das prévias do PSDB para ser o pré-candidato, Doria usa a prerrogativa e gira o País, em pré-campanha e encontros políticos um tanto esvaziados, para costurar apoios internos e promover sua plataforma de campanha. Enquanto isso, tenta também debelar a rejeição, aposta em se apresentar como o “pai da vacina” e trabalha a própria imagem.
Isolado, na sexta-feira, 15, ele trocou o coordenador de pré-campanha. O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, que deu declarações contrárias à pré-candidatura de Doria, foi substituído por Marco Vinholi, dirigente do partido em São Paulo. Pelas redes sociais, Araújo, que nunca exerceu de fato um papel de liderança no projeto de Doria, ironizou a troca e se mostrou aliviado: “Ufa”, disse.
O ex-governador paulista tem um enfrentamento aberto com um grupo tucano que trabalha para minar sua candidatura na futura convenção eleitoral do PSDB. Doria rechaça chances de ser derrotado. Os cabeças são, entre outros, Aécio Neves (MG), Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal (SP). Eles querem emplacar em seu lugar o ex-governador gaúcho Eduardo Leite, como cabeça de chapa ou vice. Ele perdeu as prévias para Doria, cogitou deixar o PSDB, mas permaneceu e agora afirma estar “na pista” da disputa eleitoral, durante a Brazil Conference, nos Estados Unidos.
O diálogo do gaúcho afinou-se nas últimas semanas com a pré-candidata do MDB, numa chapa que teria a senadora Simone Tebet como “cabeça”. Porém, a real composição que vem sendo cotada nos bastidores de Brasília seria uma chapa invertida, com Leite candidato a presidente, e Tebet, a vice. Esse desenho atrairia o apoio do Podemos, por exemplo, segundo um deputado do partido.
Por enquanto, a senadora sofre constrangimentos públicos de uma ala influente no MDB, que prefere apoiar Lula, em vez de lançar uma candidata própria. O grupo é liderado por cardeais do MDB do Senado, tendo ex-presidentes do Congresso na lista, como Renan Calheiros (AL), Eunício Oliveira (CE), José Sarney (MA) e Garibaldi Alves (RN). Todos se reuniram nesta semana com o pré-candidato petista, a maioria em um simbólico jantar oferecido a Lula.
O tom do discurso deles é o mesmo: questionam a competitividade da pré-candidata do MDB, que tem apoio do comando do partido, e ponderam que ela pode repetir o fracasso de Henrique Meirelles em 2018 – o ex-ministro da Fazenda amargou um sétimo lugar, o que, na análise dos senadores, teria colaborado para a redução das bancadas no Congresso. Eunício disse que lançar a candidatura no atual cenário seria “suicídio político”.
“O que o partido não pode repetir, seria insano, é a candidatura do Meirelles. O MDB pagou um preço terrível, teve a redução da bancada na Câmara e no Senado pela metade. Não dá para pagar novamente esse preço”, afirmou Renan Calheiros.
Longe da unanimidade, Simone Tebet reagiu dizendo que a divergência é normal e focou em divulgar uma série de apoios internos dos diretórios regionais do MDB e núcleos setoriais do partido.
A senadora afirmou que respeita a resistência de “quatro ou cinco senadores”, mas que “tem apoio da maioria absoluta do partido”.
Segundo a mais recente pesquisa XP/Ipespe, divulgada no dia 6 e já sem o nome de Moro na lista, Doria tem 3% das intenções de votos e Simone Tebet, 2%. Na frente deles aparecem Ciro Gomes (PDT), com 9%, o presidente Jair Bolsonaro, com 30%, e o ex-presidente Lula com 44%.