Fora do quadrante em que se encontram Lula e Bolsonaro, respectivamente líder e segundo colocado nas pesquisas, os dois pré-candidatos mais bem posicionados, Doria e Ciro, têm menos da metade do número de alianças pavimentadas pelos dois favoritos na corrida pelo Palácio do Planalto. Atrás deles, estão Simone Tebet (MDB), com negociações sacramentadas ou bem encaminhadas com sete postulantes a governador, e Sergio Moro, com três. Em algumas situações, contudo, um mesmo candidato ao governo faz campanha para mais de um nome que disputa a Presidência da República — e vice-versa.
Lideranças de diferentes partidos que acompanham as tratativas pelo país ponderam que ainda é cedo para definir todas as alianças. Será preciso aguardar as novas filiações, a evolução das pesquisas de intenção de voto e também as convenções das respectivas legendas. No último caso, pode haver mudanças inclusive na decisão de lançar ou não candidatura própria à Presidência. Em alguns estados, também pode haver desistências por parte de pré-candidatos ao Executivo estadual.
Os cenários nas regiões consideradas mais estratégicas, no entanto, já começam a se desenhar. O PL, partido de Bolsonaro, tem acordo fechado com ao menos sete pré-candidatos, incluindo o governador do Rio, Cláudio Castro, e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que disputará o governo de São Paulo. A legenda ainda discute a possibilidade de lançar mais quatro nomes, além de fazer composições com outros partidos.
Na última segunda-feira, Bolsonaro citou alguns palanques já sedimentados e disse que “as coisas vão se acomodando”:
— As composições por estado vão aparecendo devagar. Não quero entrar em detalhes… Fechei a Paraíba, o Rio de Janeiro está mais ou menos certo. São Paulo está decidido, e Pernambuco está se acertando.
Há situações inusitadas. Moro não tem nenhum palanque garantido na região Norte ou Nordeste, enquanto Simone Tebet ainda busca um candidato a governador para apoiá-la num dos estados do Sudeste, região com maior número de eleitores no país.
Em alguns casos, há uma indefinição no palanque, como no Espírito Santo. O PSB, partido do governador Renato Casagrande, deve apoiar Lula, mas o chefe do Executivo estadual tem conversado com vários presidenciáveis, inclusive Moro, o que gerou mal estar com os petistas. Ele também deve receber Simone Tebet nos próximos dias.
No Paraná, Ratinho Jr. (PSD) tenta se equilibrar entre dois adversários que disputam a mesma fatia do eleitorado, Bolsonaro e Moro. Aliado do ex-juiz, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), que tentará a reeleição, minimiza a possível falta de alianças do pré-candidato pelo seu partido, caso Ratinho Jr. opte por um acordo com outras siglas.
— Hoje, o eleitor tem contato direto com candidatos majoritários e dispensa intermediários. Sei que alguns não percebem essa mudança e ficam de olho apenas na formação de alianças, esquecendo o prestígio eleitoral individual — disse Dias.
Situação semelhante ocorre em Minas Gerais. O governador Romeu Zema (Novo) é próximo de Bolsonaro, mas já conversou com Moro. Além disso, seu partido tem pré-candidato à Presidência, Luiz Felipe d’Avila.
Traições contabilizadas
Alguns políticos lembram que, em 2018, Bolsonaro teve bom desempenho mesmo com poucos apoios nos estados antes do primeiro turno. Portanto, esse não é um fator decisivo para a vitória, embora seja relevante como meio de interlocução com a população.
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O presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirma que, se confirmada a candidatura ao Planalto do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ele terá espaço em todos os estados. O PSD pretende lançar dez candidatos aos governos estaduais.
— Enquanto houver coligações nas eleições majoritárias, você tem que entender que os palanques são múltiplos. Posso dizer que o nosso candidato a presidente terá palanque em todos os estados brasileiros — disse Kassab.
Apesar do anúncio, candidatos do PSD aos mais variados postos tendem a apoiar outros nomes. No estado de Pacheco, por exemplo, o pré-candidato Alexandre Kalil já dá sinais de uma aliança com o ex-presidente Lula. O mesmo ocorre com o senador Otto Alencar na Bahia, que tem discutido com o PT a possibilidade de disputar o governo.
Dissidências semelhantes são vistas no MDB. Nomes importantes do partido estão costurando dobradinhas com o PT, especialmente no Nordeste, onde o grupo do senador Renan Calheiros (AL), por exemplo, deverá caminhar com Lula. Já existem acordos também em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí.
Entre os candidatos da terceira via, há o desejo de conseguir alguns palanques que já estão assegurados pelos líderes das pesquisas. Também no Paraná, por exemplo, o PDT quer estar com Roberto Requião, que tende a apoiar Lula.