O poder de barganha do Centrão na disputa presidencial vai aumentar segundo publicou o Estadão nesta segunda-feira (14), com a última janela de mudanças partidárias antes das eleições de outubro. Às vésperas do período que permite a troca de legenda sem perda de mandato por infidelidade (3 de março a 1º de abril), líderes e presidentes das siglas avaliam como deve ficar a nova correlação de forças na Câmara e contabilizam perdas e ganhos.
Na prática, o Centrão atrai deputados federais para legendas que ampliaram seu poder de captar votos a partir de cargos influentes no governo de Jair Bolsonaro e verbas milionárias do orçamento secreto. Os principais partidos desse bloco – Progressistas, PL e Republicanos – trabalham para aumentar a influência na Casa.
Hoje na condição de terceira maior bancada, com 43 deputados, o PL, presidido por Valdemar Costa Neto, ocupará a primeira posição na Câmara, saltando para 65 parlamentares, e o União Brasil, uma fusão do DEM e do PSL, com 61, a segunda. No troca-troca, o PT cairá da segunda para a terceira posição, apesar de também crescer. O partido passará dos atuais 53 parlamentares para 54 – o deputado licenciado Josias Gomes, atual secretário de Desenvolvimento Regional na Bahia, voltará ao plenário.
Já o Progressistas, legenda do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), deve aumentar de 42 para 52 parlamentares, e o PSD, comandado por Gilberto Kassab, espera crescer de 35 para 40. Ambas as siglas, que respectivamente são a quarta e a quinta maiores bancadas na Câmara, devem seguir nas mesmas colocações.
Na estrutura do orçamento secreto, o presidente da Câmara e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do Progressistas, organizam a divisão das indicações de verbas entre os governistas. Já o PL, além de ter filiado o próprio presidente Jair Bolsonaro, tem espaço privilegiado por comandar ministérios como a Secretaria de Governo, com Flávia Arruda, e Desenvolvimento Regional, com Rogério Marinho.
Apesar de não se declarar base de Bolsonaro, o União Brasil tem prestígio na escolha da destinação de recursos. O senador Marcio Bittar (PSL-AC) foi relator do Orçamento de 2021 e a destinação das verbas privilegiou o PSL, que fará parte do União. O deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), outro nome que vai compor a nova sigla, foi o responsável por indicar o presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). A estatal se tornou um “duto” para resgatar verbas do orçamento secreto.
Entre os partidos que vão perder deputados federais na janela partidária estão o PSDB, que deve ser reduzido de 32 para 27; o PDT, de 25 para 22; o PROS, de dez para sete, e o PTB, que, ao que tudo indica, terá a bancada diminuída pela metade, de dez para cinco.
Barganha
Outro efeito será uma maior clareza para os partidos que ainda estão indecisos sobre a eleição presidencial. Legendas grandes, e que vão exercer um papel essencial na disputa pelo Planalto, vão ter mais segurança para negociar.
É o caso do União Brasil – que hoje se divide entre estar com o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), Bolsonaro (PL) e, ainda, não ter uma posição formal de apoio, liberando os diretórios – e do PSD, que avalia lançar candidato próprio ou se aliar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Com a definição de quem entra e quem sai, os partidos vão conseguir debater de forma mais clara, em abril, o apoio ao candidato à Presidência, pois o tamanho de cada um dos grupos internos, interessados em seguir caminhos distintos, será definido após a janela. A partir do dia 2 de abril também começa outro período importante, que é o intervalo no qual os políticos que quiserem concorrer a qualquer cargo (que não a reeleição) devem se desincompatibilizar. Além disso, ninguém interessado em concorrer pode mais trocar de legenda.
Declínio
Após a janela, o Centrão vai ganhar ainda mais força e consolidar o declínio da tríade MDB, PSDB e PT que costumava disputar protagonismo na Câmara antes de 2018. A bancada do PL será turbinada com bolsonaristas e deve alcançar o melhor resultado de sua história na Casa. “Vai ser o maior partido do Brasil agora já em março com a vinda dos 25”, disse o deputado Capitão Augusto (PL-SP), vice-presidente da sigla.
Augusto afirmou que a expectativa é eleger pelo menos 60 deputados federais em 2022 e ter maior fundo eleitoral e partidário a partir do ano que vem. Em segundo lugar como maior legenda virá o União Brasil, que espera ter 61 deputados, contando com o desembarque de até 30 bolsonaristas e a chegada de pelo menos dez novas pessoas. Mesmo em segundo lugar, a nova legenda terá o maior cofre (cerca de R$ 1 bilhão) para a eleição. O cálculo leva em conta o número de eleitos em 2018.
Entre os que devem se filiar ao União Brasil estão Clarissa Garotinho (PROS-RJ), Capitão Wagner (PROS-CE), Vaidon Oliveira (PROS-CE), Danilo Forte (PSDB-CE), Pedro Lucas Fernandes (PTB-MA) e Daniela do Waguinho (MDB-RJ).
Com recursos bilionários e penetração regional, o União Brasil tem oferecido condições melhores para os parlamentares garantirem seus mandatos. É o caso de Danilo Forte, do PSDB cearense.
Outro partido do Centrão que espera crescer é o Progressistas, chegando a 52 deputados. O Progressistas já confirmou a filiação dos ministros das Comunicações, Fabio Faria, hoje no PSD; e da Agricultura, Tereza Cristina, atualmente no DEM. O PSD já confirmou a filiação de Luiza Canziani (PTB-PR) e deve atrair Laura Carneiro (DEM-RJ), Pedro Paulo (DEM-RJ) e Marcelo Calero (Cidadania-RJ).
Do outro lado, o PSDB vive uma guerra interna e pelo menos seis deputados vão migrar para partidos como União Brasil, PSD, PL e Progressistas, reduzindo a bancada de 32 para 27 deputados, pior resultado de sua história. Já a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) vai aderir aos tucanos.
O partido vive uma crise interna: uma ala tem cobrado Doria a desistir da candidatura presidencial devido ao baixo desempenho nas pesquisas.
O PDT também vai encolher por causa da discordância com o projeto presidencial de Ciro Gomes. No saldo final, o partido deve cair de 25 para 22 parlamentares. Proporcionalmente, o maior derretimento deve ser no PTB. Grande parte dos deputados eleitos discorda do rumo bolsonarista que a direção da sigla tem tomado.
No Podemos, três deputados devem sair por não concordar com a candidatura de Sérgio Moro. São eles José Medeiros (MT) e Diego Garcia (PR), que apoiam Bolsonaro, e Bacelar (BA), que apoia Lula. Já Kim Kataguiri (DEM-SP) e Maurício Dziedricki (PTB-RS) vão entrar no partido por causa de Moro.