Conforme Reinaldo Azevedo, em 2022, o centro é Lula. Também por isso aparece com 47% ou 48% das intenções de voto no Datafolha. Não estou, por exemplo, plenamente convencido de que Geraldo Alckmin vá mesmo ser o vice na chapa encabeçada pelo ex-presidente, mas a coisa em si nem é tão importante. O dado mais relevante é o fato de a composição ser debatida a sério.
O petista lidera todos os levantamentos desde que seu nome voltou a ser testado pelos institutos de pesquisa. Nos números do Ipec, divulgados na quarta, tem 40% dos votos espontâneos. No Datafolha, 32%. Segundo ambos, venceria no primeiro turno.
Faltam ainda dez meses para a disputa, eu sei. Pode-se escrever isso de outro modo: falta menos de um ano. Neste texto, não conto com prisões arbitrárias e facadas à margem da história que fazem história.
No começo de abril, o petista concedeu a este jornalista uma entrevista. Notei, então, que o tom mais duro das conversas que manteve quando preso cedia a uma mirada estratégica. Salivasse rancor, estaria fazendo o jogo dos seus inimigos, muito especialmente dos que o encarceraram sem provas.
O líder que voltou à cena acenava para o centro. Prudente, não se lançou numa cruzada para depor Bolsonaro. Não que faltasse merecimento ao biltre. Mas havia empecilhos objetivos.
Bolsonaristas arrependidos, que contavam com o PT na vanguarda pró-impeachment, inventaram a expressão “bolsopetismo”. Segundo essa tolice, Lula preferiria enfrentar Bolsonaro no segundo turno. É?
Forçoso seria que houvesse na direita um nome pronto a derrotá-lo. Há? Perguntem ao Datafolha.
De resto, esses valentes, no vale-tudo antipetista de 2018, resolveram brincar de casinha com o ogro.
Depois quiseram atribuir à principal vítima do desatino a responsabilidade de destruir o monstrengo que alimentaram. Não são melhores do que a besta que acalentaram.
Contesto desde sempre o termo “polarização”. Os postulantes a titular da terceira via cometem o erro de investir na fantasia de que haveria dois extremos a serem banidos, o que deu origem à fórmula que chamei, na primeira hora, de “nem-nem”.
Não funciona, evidencia o Datafolha. Vão mudar? Não sei.
Lula pertence a um partido de esquerda e sabe que a governabilidade está no centro. Se alianças com legendas desse espectro se mostram impossíveis na eleição, em razão de conjunturas que não cabem aqui, é certo que, num eventual governo, está pavimentado o caminho da maioria congressual.
“E o Alckmin lá do primeiro parágrafo, Reinaldo?”
Alguém vê o ex-tucano como um aliado de extremistas? O flerte do ex-presidente com um conservador representa a admissão tácita de que o candidato viável de esquerda é o moderado. Quem quiser se estabelecer terá de ir além do “nem-nem”. Que tal descobrir os pobres, por exemplo?
Os tempos são bicudos. Na Fiesp, Bolsonaro associou Edson Fachin ao “trotskismo” e ao “leninismo” em razão de seu voto contra o marco temporal para a demarcação de terras indígenas. A estupidez é inclassificável.
Se possível fosse, Trotsky e Lênin teriam votado contra Fachin. De resto, o ministro lava-jatista lavrou a terra em que germinou o bolsonarismo, pouco importa o que tenha feito depois.
O presidente foi aplaudido por gente mais ignorante do que ele próprio, numa evidência de que é mesmo preciso juntar os diferentes, tocados por alguma clareza, para salvar o país e o seu povo do obscurantismo de fatias predatórias da elite que reverenciam uma autoridade que confessa demitir homens públicos que contrariam os interesses de seus amigos.
Entre empresários, informa o Datafolha, Bolsonaro chega a 47% dos votos. A ignorância é quase sempre reacionária.
Um pouco sobre a operação contra Ciro Gomes: não se trata de uma articulação do Planalto, do presidente em particular, em associação com a cúpula da PF. O que se vê é um escarro da herança lava-jatista.
O método não morreu. “Cui prodest”? A Bolsonaro? É claro que não.
Tiro quatro colunas de férias. Volto a escrever neste espaço no dia 21 de janeiro. Divirtam-se com a devida prudência. A pandemia não acabou. A estupidez, vírus ainda mais perigoso, também não.