Em sua “declaração à Nação” divulgada na quinta-feira (9) Jair Bolsonaro tentou amenizar o impacto das ameaças que fez no feriado de 7 de Setembro, quando declarou a manifestantes em Brasília e São Paulo que poderia fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) e desrespeitar decisões judiciais. No texto, o presidente afirma que “nunca teve a intenção de agredir quaisquer poderes” e alega que as palavras ditas por ele sobre o ministro do STF Alexandre de Moraes “decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”. Como se sabe, foram palavras duras. Num de seus arroubos, Bolsonaro declarou: “Acabou o tempo dele. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha”, conforme publicou a revista Veja.
A insatisfação com Moraes é notória e levou Bolsonaro a apresentar ao Senado um pedido de impeachment do ministro, que já foi devidamente indeferido pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco. A animosidade cresceu pouco a pouco, começou quando Moraes suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal e chegou ao paroxismo quando o magistrado, que toca investigações sobre dois filhos do presidente (Eduardo e Carlos), também incluiu o próprio Jair Bolsonaro num inquérito, além de determinar a prisão de bolsonaristas próximos ao mandatário.
Antes do feriado, o presidente se reuniu com assessores para discutir o tom de sua fala. Para a ala política do governo, ele prometeu que criticaria o Supremo, mas sem chamar nenhum ministro específico para a briga. Acreditou quem quis, e o presidente não cumpriu a palavra. A VEJA, um ministro disse acreditar que a quantidade de gente nas ruas inflamou o ânimo do chefe, que, por isso, não seguiu o roteiro acordado previamente. “Ele se sentiu forte, amparado, para fazer aquele discurso”. A adesão às manifestações surpreendeu positivamente os políticos do entorno presidencial. Um deles disse que até em regiões nas quais Bolsonaro tem altos índices de rejeição o público presente foi bem acima do esperado.
“O bolsonarismo tem organicidade, vida própria, ideias próprias, e o presidente eventualmente adere. Ele foi influenciado por essa movimentação. O presidente saiu fortalecido do episódio. O recado foi dado não por ele, mas pelos que foram às ruas apoiá-lo e dizer que cada poder se mantenha em seu quadrado”, disse o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, antes de Bolsonaro divulgar a sua declaração à Nação. A nova tentativa de diminuir a temperatura da crise partiu, como de costume, da ala política do governo. Quando o assunto é o Judiciário, os militares do Planalto tendem a apoiar o discurso mais radical do presidente.
Hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência, o general Luiz Eduardo Ramos foi o primeiro a dizer, ainda no ano passado, que o outro lado não deveria esticar a corda. O general Fernando Azevedo e Silva, quando chefiava o Ministério da Defesa, sobrevoou com Bolsonaro de helicóptero uma manifestação de pauta golpista. Quando atacou o Supremo em Brasília, em 7 de Setembro, o presidente tinha a seu lado o atual ministro da Defesa, general Braga Netto. Essa turma, com certeza, não ousa dizer que foi pega de surpresa.