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O vice-presidente Hamilton Mourão e o embaixador Todd Chapman Foto: Romério Cunha/Vice-Presidência
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sexta-feira 23 de julho de 2021 às 16:11h

Para embaixador dos EUA, corrupção é ‘o câncer do Brasil’

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Em sua última entrevista coletiva, antes de deixar o País, neste domingo (25), o embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman, elogiou o presidente Jair Bolsonaro, disse que o Brasil tem uma democracia sólida e instituições que funcionam e que não acredita em nenhum tipo de retrocesso nem em golpe contra a realização das eleições de 2022. O problema, segundo ele, é outro: “O câncer do Brasil é a corrupção”.

Questionado sobre a manchete do Estadão da última quinta-feira (22), relatando que o ministro da Defesa, general Braga Netto, endossou para o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), a ameaça de Bolsonaro de que não haverá eleições sem voto impresso, o embaixador foi incisivo ao desconsiderar qualquer hipótese de golpe: “Para nós, a democracia é inegociável e este (o Brasil) é um país super democrático. Todos que fizeram previsão de que a democracia ia acabar no Brasil erraram sempre”, disse Chapman.

Ele não citou o PT nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário de Bolsonaro em 2022, mas disse que, se há preocupação, não é com ameaças à democracia e à realização de eleições, mas sim “com mensalão, petrolão, Lava Jato”. A manifestação pode ser considerada uma tomada de posição indireta em relação à polarização política brasileira.

Para o embaixador, que reuniu os jornalistas para um café da manhã, a decisão brasileira sobre o 5G envolve questões não apenas comerciais, “mas de princípios”. E lembrou que, se a China, que oferece a tecnologia da empresa Huawei, é o maior parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos são o principal investidor. Usando dados de 2019, disse que os investimentos americanos aqui foram de US$ 145 bilhões, ante apenas US$ 28 bilhões da China.

“E o que deve pesar mais? A questão econômica ou as empresas que operam sob regimes autoritários, inclusive roubando propriedade intelectual?”, perguntou aos jornalistas, frisando que o governo brasileiro não deve decidir “com uma visão mercantilista”: “Esse é um alerta de amigo”, disse, relatando que tem conversado pessoalmente com vários ministros e visitou 14 Estados brasileiros. Anteontem, por exemplo, se encontrou com o da Economia, Paulo Guedes.

Chapman lembrou, ainda, que, se há investimentos americanos no Brasil, há também de empresas brasileiras nos EUA, como a JBS, uma das maiores produtoras de carne in natura do mundo. “E na China, eles têm permissão de investir lá?”, acrescentou, para falar várias vezes da “importante parceria” entre EUA e Brasil em diferentes áreas, como defesa, segurança, agricultura e meio ambiente.

Amazônia

Ele disse que o Brasil tem muito a mostrar na área ambiental e pode se tornar “o grande herói mundial do meio ambiente”, já na reunião da ONU para o clima (COP) deste ano, mas de nada adianta mostrar os ganhos com energia limpa ou os compromissos do governo com investimentos e com o controle de emissão de carbono, se não mostrar resultados concretos numa área especifica: o desmatamento da Amazônia.

O pior momento da passagem de Todd Chapman por Brasília, em plena pandemia de covid-19, foi a transição do governo de Donald Trump para o de Joe Biden, principalmente pelas ligações que o presidente Bolsonaro alegava ter com Trump e pela demora do Planalto em reconhecer o resultado das eleições. O embaixador, porém, minimizou as dificuldades: “As relações são de Estado e nossos países têm vários interesses em comum, que evoluem muito bem”, disse.

Aos 59 anos, Chapman não está apenas deixando a embaixada americana em Brasília, mas também se despedindo da carreira diplomática, na qual serviu em três governos democratas e três republicanos. Disse que é uma “decisão política, familiar” e anunciou que assumirá cargos na iniciativa privada e manterá contatos com o Brasil, onde nasceu seu filho mais velho, há 31 anos.

Uma das saudades que a família levará do Brasil, segundo ele, é da bela casa alugada no bairro mais sofisticado de Brasília, o Lago Sul, onde habitam sete araras, seis pavões e outras variedades de pássaros. “Todos legalizados pelo Ibama”, frisou.

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