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Virada de Haddad sobre Bolsonaro é possível? Analistas opinam

domingo 28 de outubro de 2018 às 09:51h

Segundo o último Datafolha, número de 13% de eleitores sem candidato é recorde de toda a série histórica iniciada em 1989.

Os brasileiros vão as urnas neste domingo para decidir quem será o presidente do Brasil a partir de 2019, Jair Bolsonaro ou Fernando Haddad. Líder do primeiro turno, o candidato do PSL segue à frente nas pesquisas, mas o petista recebeu apoio de personalidades importantes, como do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, e subiu nos últimos levantamentos. Segundo especialistas, o candidato do PSL é favorito, mas a recuperação do ex-prefeito de São Paulo nos últimos dias da corrida presidencial é significativa.

Na pesquisa Ibope divulgada no sábado (27), às vésperas da eleição, Bolsonaro teve 54% das intenções de votos válidos, enquanto Fernando Haddad apareceu com 46%. A diferença entre os dois candidatos caiu de 14 para oito pontos porcentuais em relação à pesquisa da última terça-feira.

Já a pesquisa Datafolha de sábado mostrou que as intenções de voto válidos de Bolsonaro caíram de 56% para 55% em relação ao levantamento de quinta-feira, enquanto o petista foi de 44% para 45%. Outro dado importante revelado pelo Datafolha deu esperanças ao petista: 8% dos entrevistados declararam voto nulo e 5% ainda não sabem em quem vão votar — o número de 13% de eleitores sem candidato é recorde de toda a série histórica iniciada em 1989.

Para o cientista político e professor do Insper Carlos Melo diante de uma eleição presidencial tão passional e atípica, o melhor é assumir uma posição de prudência e não cravar o resultado das urnas. “Nessa eleição, muita coisa foi dita como ‘impossível’ e aconteceu. Era impossível, por exemplo, que Geraldo Alckmin (PSDB), com tanto tempo de propaganda eleitoral na televisão, não fosse para o segundo turno. E ele não foi”, avaliou. Melo observa ainda que os últimos apoios a Haddad declarados nos últimos dias podem não ter sido totalmente captados nas pesquisas divulgadas.

O peso das palavras de Joaquim Barbosa

O cientista político e coordenador do mestrado Gestão em Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto avalia que as palavras do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) foram “importantíssimas” para a candidatura de Haddad.

“É uma pessoa que atuou contra a corrupção nos últimos anos, inclusive contra o PT. Imagino que a declaração pode ter um efeito em muita gente que gostava do Joaquim Barbosa e ficava ressabiada quanto ao PT.” A declaração de apoio do youtuber Felipe Neto, com número muito grande de seguidores jovens, também teve um peso importante na reta final da campanha, na avaliação de Couto.

De acordo com Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria Integrada, as declarações de apoio a Haddad têm potencial para tornar mais apertada a diferença, mas, diante da cristalização das preferências dos eleitores por seus, uma virada do petista neste domingo seria uma grande surpresa.

Cortez observa que a vitória de Haddad dependeria de uma redução mais vigorosa do número de votos brancos e nulos, o que não tem se revelado nas pesquisas. Mesmo assim, o especialista acredita que os apoios “de várias áreas, como de youtubers e do próprio ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)”, devem dialogar com os indecisos de última hora, podendo diminuir a diferença entre o petista e Bolsonaro.

O que explica a queda de Bolsonaro

O sociólogo e cientista político Sérgio Abranches considera que Bolsonaro ainda é favorito, mas “a tendência mudou”. “Tem um ventinho soprando a favor de Haddad e contra Bolsonaro. Se vai se acelerar na boca da urna, não sabemos.” Segundo ele, Bolsonaro foi prejudicado por seus inflamados discursos.

“Bolsonaro perdeu posições por conta do radicalismo institucional, pelo discurso mais violento na Avenida Paulista (quando disse que iria ‘varrer os bandidos vermelhos do Brasil… para fora ou para a cadeia’), que assustou o eleitor que não é apoiador fervoroso das ideias dele”, disse.

“A declaração provocou reações contrárias de diversas lideranças políticas e produziu alguns apoios surpreendentes a Haddad nessa reta final”, reforçou Cláudio Couto. Já Haddad, segundo Abranches, se beneficiou porque “desavermelhou” sua campanha. “Se comparar fotos das manifestações dos últimos dias, tem muito pouca bandeira vermelha e mais a cor branca. Ele acertou um discurso mais de união para pegar os que não são petistas, mas são anti-Bolsonaro.”

Abranches lembrou que movimentos de crescimento de última hora já ocorreram no passado. Nas eleições presidenciais de 1989, o candidato Leonel Brizola estava na segunda posição da disputa no primeiro turno, à frente de Luiz Inácio Lula da Silva, mas Lula conseguiu ir para o segundo turno com Fernando Collor de Mello. Em 2014, Marina Silva e Aécio Neves disputavam uma vaga para ir para o segundo turno com Dilma Rousseff. Marina era a favorita, porém, Aécio ultrapassou a adversária na votação.

Para Carlos Melo, a neutralidade de Ciro Gomes (PDT), que disse neste sábado que não iria se posicionar no segundo turno, apesar dos enfáticos acenos do PT, não deve pesar na disputa. “Não constituiu uma surpresa. O patrimônio eleitoral dele, de alguma forma, já havia se diluído, tanto para Haddad, quanto para Bolsonaro”.

Disputa acirrada favorece a democracia

Independentemente do resultado da votação, Sérgio Abranches considera que a disputa mais apertada é positiva para a democracia. “É muito diferente, do ponto de vista democrático, um presidente vencer uma eleição com 65%, 70% dos votos, ou ganhar 52%, 53%.”

Seguindo a mesma linha, Rafael Cortez destaca que o resultado potencialmente mais apertado nas urnas vai dificultar a governabilidade de Bolsonaro em uma eventual administração, à qual se impõe uma agenda reformista. “Não é claro qual caminho a sociedade optou e há o risco político de ele se eleger com um discurso ‘anti-partidos’, o que dificulta a gestão do presidencialismo de coalização”, reforça.

 

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