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domingo 1 de novembro de 2020 às 17:49h

Acusações, expulsão e desempenho pífio nas pesquisas: o que acontece com o Partido Novo?

NOTÍCIAS, POLÍTICA


“Nosso desempenho foi sensacional”. Foi desta maneira que João Amoêdo definiu o saldo do partido Novo, sigla que ajudou a fundar, nas eleições gerais de 2018.

Em seu primeiro grande teste, a legenda, que teve conforme lembrou a Jovem Pan, seu registro aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2015, elegeu Romeu Zema como governador de Minas Gerais, oito deputados federais, 11 deputados estaduais, 1 deputado distrital e terminou a corrida presidencial na quinta colocação, com mais de 2,5 milhões de votos. A expectativa dos dirigentes partidários, a partir deste momento, era se consolidar como um partido independente, ferrenho defensor do combate aos privilégios, crítico da chamada velha política e contra o uso do dinheiro público para financiamento de campanhas. Dois anos depois, o candidato do Novo à Prefeitura de São Paulo, Filipe Sabará, teve sua candidatura indeferida por supostas irregularidades em seu currículo, foi expulso pela Comissão de Ética Partidária (CEP) e, ao anunciar sua desfiliação, disse ser alvo de perseguição e disparou contra Amoêdo, a quem chamou de cacique.

O processo administrativo contra Filipe Sabará foi aberto em setembro, por declarações que não condiziam com o posicionamento do partido, e por inconsistências no seu currículo. A Jovem Pan apurou com filiados que Sabará vinha sendo frequentemente criticado dentro do partido, principalmente pelas declarações simpáticas ao presidente Jair Bolsonaro. A gota d’água, que rendeu críticas até do fundador do Novo, João Amoêdo, teria sido uma fala de Sabará em entrevista ao Pânico, dizendo que Paulo Maluf foi o melhor prefeito de São Paulo. O anúncio da expulsão ocorreu na quarta-feira, 21 de outubro. Na última sexta-feira, 30, em entrevista à Jovem Pan, Sabará afirmou que se Amoedo continuar exercendo sua influência dentro da sigla, mesmo afastado, o partido “vai acabar”. “Eu entendo que se o partido continuar com caciquismo, com o Amoêdo querendo mandar pelo Twitter, e com pessoas alocadas estrategicamente em alguns departamentos, o Novo vai acabar. Porque, como os diretórios são feitos por voluntários, chega uma hora que ninguém mais vai aguentar. Você se dedica, ajuda a construir uma instituição, você é candidato, você coloca seu nome, seus recursos e, porque o fundador não concorda com o que você fala, você é tirado? Se continuar dessa forma, vai acabar”, disse.

Internamente, os filiados e dirigentes tratam o caso de Sabará como exceção. Primeira vereadora eleita pelo Novo em São Paulo, ainda em 2016, Janaina Lima afirma que o partido “sempre busca dar ouvidos a todos os filiados”, mas ressalta que a sigla tem “valores e princípios inegociáveis”. Foi exatamente por avaliar que as declarações e as inconsistência no currículo de Sabará eram incompatíveis com a conduta defendida por seus filiados que o agora ex-candidato do partido à Prefeitura de São Paulo foi expulso. “Não acho que há um racha. Apesar do momento turbulento, nosso sentimento é que o momento é oportuno para continuarmos o processo de expansão que foi iniciado em 2015, quando obtivemos o registro”, disse Janaina à Jovem Pan.

Apesar do otimismo, o Novo ainda patina nas pesquisas. Em São Paulo, maior cidade do país, o partido não tem mais uma candidatura. No Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e Recife, Ibope e Datafolha mostram, respectivamente, Fred Luz, Rodrigo Paiva e Charbel Maroun com apenas 1% das intenções de voto. A curto prazo, o partido tem a ambição de expandir a sua bancada no Congresso Nacional – hoje, são oito deputados federais. Durante as campanhas, os prefeitos são usados como cabos eleitorais dos candidatos a deputados federais e estaduais. Embora o cenário, ao menos até o momento, não pareça promissor, o cientista político Alberto Carlos Almeida afirma que as eleições deste ano têm pouca influência nos planos do Novo para 2022. “Em 2016, o PSDB foi o grande vencedor das eleições municipais. Em São Paulo, João Doria venceu em primeiro turno. Em 2018, Geraldo Alckmin teve 5% [na eleição presidencial]. O PT, por sua vez, perdeu muito espaço a nível municipal em 2016, e o caso Fernando Haddad é o maior exemplo disso, mas, dois anos depois, o partido elegeu a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados. Por isso, acredito que a eleição presidencial não tem nenhuma relação com o pleito municipal, nem mesmo com o estadual”, explica. Ele avalia, ainda, que o momento de turbulência do Novo é comum à trajetória de todos os partidos. “Há um ditado que diz que não se faz omelete sem quebrar ovos. Na política, é mais ou menos assim. Se o Novo quiser chegar ao poder, terá que jogar o jogo da política como ela é. Não há purismo na política. O caso de São Paulo só mostra a dificuldade do Novo em entender o jogo político”, acrescenta”. A reportagem da Jovem Pan procurou João Amoêdo e o presidente nacional do Novo, Eduardo Ribeiro, mas a assessoria de imprensa do partido afirmou que eles não se manifestariam.

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