O cientista e pesquisador baiano Gustavo Cabral de Miranda deve ser homenageado pela Assembleia Legislativa com a Comenda 2 de Julho. Dentre seus trabalhos científicos, está o desenvolvimento de vacinas, uma delas ainda em modelo animal, contra o Zika vírus. A pesquisa foi capa da revista científica internacional Vaccine, em 2019. “De origem humilde e batalhador, Dr. Gustavo está na linha de frente do combate à Covid-19 e revela sua grandeza ao destacar a educação e a ciência como valores essenciais para qualquer sociedade”, destacou o autor do projeto de resolução que confere a homenagem, deputado Bobô (PC do B).
“O caminho para uma das maiores revoluções na vida das pessoas que não têm condições de vida muito boa é invadir os espaços universitários. Isso promove uma transformação enorme. Tudo muda quando olhamos para os centros universitários e pensamos: aqui também é o meu lugar”. Esse é o pensamento “de um dos mais importantes cientistas do Brasil na atualidade, Dr. Gustavo Cabral de Miranda”, expressado em uma de suas entrevistas para a imprensa e destacado por Bobô na peça legislativa.
Baiano, nascido no povoado de Creguenhem, em Tucano, ele é filho do agente de saúde aposentado, Washington Raimundo de Miranda, e da ajudante geral de escola, Maria das Graças Cabral de Miranda; é irmão de Eliana, Flávio e William, e “o maior exemplo de que a educação é a ferramenta mais poderosa para transformar a vida das pessoas”, garante Bobô.
Trajetória
Gustavo Cabral só concluiu o ensino médio aos 21 anos de idade, porque precisava ajudar a família. O conceituado imunologista cresceu vendendo geladinho e frutas na feira desde os 8 anos de idade. Aos 15 foi trabalhar em um açougue, na cidade de Euclides da Cunha. Lá, também, teve duas bancas de carne. Determinado, tentou melhorar de vida indo para Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Como não obteve o sucesso que gostaria, “voltou para suas raízes”.
Com a venda das barracas de carne e a ajuda dos pais, pagou o 3º ano no Instituto Social de Tucano. Passou no vestibular e foi para Senhor do Bonfim, onde cursou Ciências Biológicas na Uneb e morou em uma república de estudantes. Segundo Bobô, “ali se iniciaram as transformações e as revoluções que ele profetizou, começando a fazer pesquisa e ciência”. A visão humanista foi aprofundada ao atuar na Comunidade Quilombola de Tijuaçu e junto aos catadores de lixo do bairro Cabral.
“As dificuldades de uma vida humilde e difícil o fizeram ver na educação o melhor caminho para dar uma vida mais digna a sua família e ajudar sua gente”, contou Bobô, ao informar que Gustavo foi o primeiro dos filhos a ingressar no ensino superior. Após a graduação na Uneb, uma bolsa de pesquisa o ajudou a fazer mestrado em Imunologia na Universidade Federal da Bahia (Ufba), em Salvador.
Em seguida, fez doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e em Portugal, além de pós-doutorados em Oxford, na Inglaterra, e em Berna, na Suíça, onde estudou imunologia aplicada à vacina. Depois dessa bagagem internacional, Gustavo Cabral voltou ao Brasil para trabalhar no campo da vacina (Chikungunya, Zika vírus e Estreptococos) no Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo. Hoje, é responsável por comandar a pesquisa para desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus, no mesmo Incor.
“A valorização de profissionais como ele é a valorização da educação e da ciência, nesse momento de grande obscurantismo no Brasil”, opinou o deputado comunista. Para Bobô, “Gustavo Cabral é desses baianos que tem o sertão dentro de si, como disse Guimarães Rosa, em sua obra Grande Sertão: Veredas. Certamente, essa é a força que lhe propiciou uma trajetória vitoriosa. O vendedor de geladinho e de frutas ganhou o mundo, levando e elevando o nome da Bahia. Voou alto, alcançando a posição de ser um dos principais cientistas do Brasil”.
O deputado finaliza ressaltando que “sua trajetória, seus feitos e serviços prestados em benefício dos brasileiros, dos baianos e do país, justificam, de forma merecida, a Comenda 2 de Julho, maior honraria do Parlamento baiano”.