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quarta-feira 27 de maio de 2020 às 14:25h

Reprovação ao governo aumenta, aponta pesquisa

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Em um mês em que a crise sanitária do coronavírus saiu do controle, elevando o Brasil ao segundo lugar mundial em número de casos, e em que crescem os indícios de sua interferência política na Polícia Federal para proteger sua família, o presidente Jair Bolsonaro vê a reprovação ao seu Governo aumentar: 58,1% dos brasileiros avaliam a gestão como ruim ou péssima, aponta pesquisa Atlas Político divulgada nesta quarta-feira. A imagem pessoal do presidente, porém, não segue a mesma deterioração, um indicativo de que o mandatário conserva apoio em suas bases.

Desde o levantamento realizado em 25 de abril, logo após o ministro Sergio Moro ter anunciado sua demissão e lançado as acusações que hoje pressionam o presidente, os índices de aprovação e desaprovação do desempenho de Bolsonaro permaneceram estáveis, considerando a margem de erro de dois pontos percentuais. Na nova pesquisa, Bolsonaro mantém alta reprovação (65,1% agora, ante 64,4% há um mês) e ligeiro aumento na aprovação (32,9% agora, ante 30,5% em abril).

A pesquisa, que ouviu 2.000 pessoas entre domingo e terça-feira, é a primeira realizada após a divulgação do vídeo de uma reunião ministerial que reforça indícios de que o presidente trocou o comando da Polícia Federal para evitar investigações contra sua família e aliados, suspeita que é alvo de uma apuração no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF). A gravação mostra também o descaso oficial em relação ao controle da pandemia e evidencia a dinâmica das discussões do Governo, com o uso de palavrões, insultos a autoridades e outros Poderes e defesa de agenda contra minorias e o meio ambiente.

Foi também no período entre as duas pesquisas que Bolsonaro deu uma de suas declarações mais polêmicas sobre a pandemia, ao ser questionado sobre o aumento do número de mortes em 28 de abril. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”, afirmou a jornalistas. Desde então, o presidente elevou as críticas às medidas de isolamento social implantadas por Governos locais e reforçou a defesa da reabertura da economia, mediando o lobby de empresários que externaram preocupação com a “morte de CNPJs” em decorrência da crise.

O fato de esse discurso não abalar a imagem pessoal do presidente pode estar alinhada com a perda do apoio popular às medidas de contenção do vírus, como o fechamento do comércio e de escolas. Apesar de 72% dos entrevistados afirmarem concordar com esse tipo de política hoje, esse apoio caiu 10 pontos percentuais desde março, enquanto o índice dos que dizem discordar com o isolamento cresceu de 13% para 24% no mesmo período.

O cientista político Andrei Roman, criador do Atlas Político, ressalta que há grande disparidade de leitura da condução da pandemia entre eleitores e não eleitores de Bolsonaro no segundo turno de 2018. Se entre quem votou no presidente a aprovação ao isolamento se divide (47% dizem aprová-lo, o mesmo de reprovação), esse percentual salta entre os eleitores do petista Fernando Haddad (96%). “Há uma polarização ideológica que aumenta a distinção entre esses dois grupos”, aponta. “Essa é uma dimensão-chave para a leitura dos dados [sobre o apoio às medidas de isolamento]”.

De acordo com o pesquisador, a diferença entre a estável aprovação pessoal de Bolsonaro e a queda da aprovação de seu Governo pode indicar que uma parcela da população guardava esperanças em relação à gestão, mesmo não gostando do estilo do presidente. A queda de dois ministros no período —Moro e o médico Nelson Teich, da Saúde— parece ter influenciado nessa mudança de percepção.

Moro perde apoio

Pivô da investigação contra Bolsonaro, o ex-ministro Sergio Moro perdeu apoio desde a sua saída do Governo e, pela primeira vez, tem a percepção negativa (43%) de sua imagem igualada à avaliação positiva (42%), considerando a margem de erro. Para Roman, apesar de a aprovação ao ex-juiz ainda ser considerável e maior do que a do próprio presidente, Moro vive agora sua pior situação desde o auge da Lava Jato. Em abril, a aprovação do ex-ministro chegou a 57%. Para o pesquisador, a queda no apoio ao ex-ministro é natural após a sua demissão e se deve ao afastamento de parte do núcleo duro do bolsonarismo em relação a ele.

Outra baixa no Governo, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta mantém a popularidade elevada mesmo após dois meses fora do comando da crise: 52% dos entrevistados têm uma imagem positiva do ex-titular da Saúde, percentual que era de 63% em abril, e sua imagem negativa é apontada por 29%.

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