O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é, neste momento, o pior padrinho político segundo Igor Gielow, Folhapress, na visão do eleitorado da cidade de São Paulo. Não votariam de forma alguma em um candidato indicado por ele 68% dos paulistanos, segundo pesquisa do Datafolha.
Já o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) herda parte dessa toxicidade, com 46% dos 1.092 eleitores ouvidos na terça (29) e na quarta (30) dizendo que não apoiariam um nome proposto por ele. A margem de erro é de três pontos para mais ou menos.
Na trincheira oposta da polarização nacional, não votariam em um nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) 37% dos moradores da capital, praticamente a metade do índice de Bolsonaro.
É preciso tomar com parcimônia esse tipo de declaração. Em abril do ano passado, por exemplo, 62% dos paulistas diziam que não votariam em um candidato de Bolsonaro. Em 30 de outubro, elegeram com 55% dos votos válidos Tarcísio, ex-ministro da Infraestrutura sacado para a disputa pelo então presidente, que teve igual votação no Estado.
Naquela mesma pesquisa do Datafolha de abril, o ex-governador João Doria (então no PSDB) era ainda mais tóxico na visão dos paulistas: 66% afirmavam que não votariam em um indicado dele. Neste caso, contudo, a premissa se confirmou, e o seu sucessor Rodrigo Garcia não chegou nem ao segundo turno, encerrando 27 anos de domínio tucano no estado.
Feita a ressalva, a projeção de apoios influencia o pleito paulistano de 2024, em especial em relação ao campo da centro-direita, que tem como principal representante até aqui o prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB), que marcou 24% de intenções de voto na mesma pesquisa do instituto.
Nela, 13% disseram que votariam num nome de Bolsonaro com certeza e 16%, talvez. Já 15% iriam na indicação de Tarcísio, com 35% que considerariam a hipótese. Ambos os políticos estão no barco de Nunes, ou vice-versa.
Candidaturas em jogo
O prefeito enfrentou diversas dificuldades para viabilizar seu nome entre aliados, mas logrou uma melhoria na avaliação de seu governo e acertos políticos, como o fim da pré-candidatura do bolsonarista Ricardo Salles (PL) e a aproximação com Bolsonaro.
É um jogo complexo, dado que o pêndulo da capital esteve na centro-esquerda em 2022, com Lula e o rival de Tarcísio, Fernando Haddad (PT), vencendo a corrida na cidade. A atual pesquisa do Datafolha sugere, com a rejeição ao dedaço de Bolsonaro, a manutenção de um cenário favorável à esquerda que tem como nome principal hoje Guilherme Boulos (Psol), apoiado nominalmente pelo PT.
Nunes, com efeito, não partiu para o abraço final com Bolsonaro, que vive um cerco judicial sem precedentes, para não falar no desgaste de imagem devido às apurações sobre o golpismo do 8 de janeiro e sobre as joias surrupiadas do acervo da Presidência.
Ao mesmo tempo, Nunes não pode alienar o eleitor bolsonarista, ainda mais com a máquina do Estado em seu favor. O dilema é compartilhado por Tarcísio, que alterna gritos de independência ante o ex-chefe e mesmo uma crise pública entre eles com momentos de juras de amor.
A dificuldade é perceptível quando é questionado a eleitores declarados de Nunes sua opinião sobre o apoio de Bolsonaro. Ainda bastante altos 55% descartariam votar num indicado, enquanto 20% apoiariam com certeza e 24%, talvez.
Já rejeição à indicação de Tarcísio cai entre eleitores do prefeito, indicando uma simbiose. Segundo o Datafolha, 30% rejeitam um nome do governador, enquanto 26% aceitam e 40%, dizem que poderiam topar.
Na esquerda, votariam com certeza num nome de Lula 23%, enquanto 37% talvez o fizessem. Quando a pessoa questionada é alguém que diz votar em Boulos, os índices se alteram: 36% aprovariam a indicação de Lula, 48% talvez votassem e apenas 13% rejeitariam a ideia de cara.
Ambos os rivais municipais têm de enfrentar concorrência potencial em seus próprios campos. Na centro-esquerda, a deputada Tabata Amaral (PSB) mostrou força com 11% das intenções de voto e um perfil positivo na correlação entre conhecimento (só 50%) e rejeição (23%).
Já na direita, o também deputado Kim Kataguiri (União Brasil) empatou tecnicamente com Tabata, com 8%, mas sua origem no radicalismo do Movimento Brasil Livre lhe garantiu a maior rejeição entre todos os rivais, 35%. Ainda assim, é o menos conhecido (36%). O problema maior é político: seu partido por ora está fechado com Nunes em São Paulo.