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segunda-feira 6 de junho de 2022 às 05:54h

3ª via mostra fracassos, chances perdidas e limites às alternativas eleitorais

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O histórico das terceiras vias nas eleições presidenciais mostra conforme matéria da Folha de São Paulo, fracassos, chances perdidas e limites para os candidatos que tentaram quebrar a polarização vigente nas disputas.

A ex-ministra Marina Silva (Rede) foi quem mais acumulou votos, em 2014. O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (União Brasil), em 2002, o que mais se aproximou de chegar ao segundo turno. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tenta pela quarta vez ter sucesso como opção alternativa ao eleitorado.

Todos disputaram as eleições em cenários cuja polarização se dava entre PT e PSDB, principais siglas nas eleições de 1994 a 2014. Desde 2018, com a vitória do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL, hoje no PL), o polo tucano foi tomado pelo bolsonarismo.

Partidos tentam se organizar para formar o que chamam de terceira via na disputa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro, que tenta a reeleição neste ano. A aposta da vez é a senadora Simone Tebet (MDB-MS).

Para o cientista político Fernando Abrucio, da FGV, a diferença no perfil das polarizações antes e depois de 2018 limita o papel do campo intermediário neste ano.

“A terceira via a partir de 1994 tinha a ver com um sistema partidário vertebrado, sólido. Ele hoje se invertebrou, se enfraqueceu”, diz.

“A terceira via não conseguiu ganhar [em eleições anteriores], mas alterava as agendas e alianças. Obrigava os atores a se mexer mais em torno daquele que estava incomodando. O bolsonarismo não vai se mexer por causa da Simone Tebet.”

A eleição de 1994 marcou o início da polarização entre PT e PSDB. Nela, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula acumularam 95,2% dos votos válidos do eleitorado, no primeiro turno mais concentrado desde a redemocratização.

Em 1998, Ciro Gomes, à época do PPS, obteve 11% dos votos válidos. O petista e FHC, reeleito no primeiro turno, concentraram 84,8% dos votos válidos. Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, a eleição de 2022 tem semelhanças com o cenário da disputa há 24 anos.

“Hoje temos um presidente disputando a reeleição contra um ex-presidente. Dificulta muito uma terceira via. Em 1998, FHC tentava a reeleição contra um opositor à época muito conhecido. E o Ciro, assim como hoje, como terceira opção”, diz Almeida.

A eleição de 2002 foi a que mais se aproximou da quebra da polarização. Garotinho, à época no PSB, ficou a 5,3 pontos percentuais do ex-governador José Serra (PSDB). Foi também quando PT e PSDB menos concentraram votos válidos: 69,6%. Um dos fatores foi a segunda candidatura de Ciro, que atingiu 12%, em quarto lugar.

Garotinho atribui sua ausência no segundo turno em 2002 à não aliança com Ciro. “Faltando uma semana para a eleição, me procura o Mangabeira Unger [integrante da campanha de Ciro] dizendo que, se a candidatura do Ciro fosse retirada, eu iria para o segundo turno. Ele estava articulando isso, mas o Ciro estava resistente.”

Ciro não quis comentar detalhes sobre as eleições anteriores. Afirmou que o termo terceira via não se aplica a ele.

“Em todas as eleições que me coloquei à disposição do povo brasileiro, apresentei, como faço hoje, um projeto nacional de desenvolvimento para finalmente devolver ao nosso povo o sonho em um futuro melhor e menos desigual”, diz.

Para o cientista político José Niemeyer, do Ibmec, a derrota de Garotinho e Ciro deve ser exemplo para uma união da terceira via este ano. “Temos que aprender com a história.”

Naquela eleição, Serra evitou se vincular ao então presidente FHC em razão da baixa popularidade com que o tucano encerrava o governo.

Ao longo da campanha, Ciro chegou a ficar em segundo lugar nas intenções de voto, mas caiu após ataques nas propagandas de TV de Serra e deslizes verbais. Garotinho, por sua vez, subiu nas pesquisas nas últimas semanas.

O cientista político Carlos Pereira, da FGV, afirma ver aspectos comuns entre a eleição de 2022 e a de 2002. Para ele, assim como Serra teve dificuldades, Bolsonaro também pode desidratar.

“Se a Simone Tebet conseguir galvanizar essas energias, pode ser que quem migra para Lula ou Bolsonaro de nariz tampado vá para ela. Assemelha-se com 2002, mas não tínhamos um incumbente concorrendo. A campanha de Serra não defendeu o legado de FHC. O Bolsonaro vai defender o seu legado. E, diferentemente de Serra, ele tem densidade popular e sabe se comunicar muito bem”, afirma Pereira.

Para Abrucio, a disputa de 2002 mostrou a ampliação do quadro partidário no país.

“Outros grupos estavam tentando se estabelecer como grupos políticos organizados, como o PSB e o PDT. O bipartidarismo presidencial do PT e do PSDB nunca destruiu o sistema partidário. Dava espaço para partidos médios, ou mais fisiológicos ou de centro-esquerda existirem. Tinha uma lógica mais institucional. O bolsonarismo joga para não ter instituição”, afirma ele.

Em 2006, a polarização voltou a patamar próximo ao de 1994. Lula e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (à época no PSDB e atualmente aliado do petista), somaram 90,2% dos votos válidos no primeiro turno. Heloísa Helena, então no recém-criado PSOL, somou 6,8%.

Em 2010 e 2014, Marina Silva se firmou como a candidata que mais somou votos como representante da chamada terceira via. A primeira tentativa foi pelo PV e a segunda pelo PSB, em substituição ao ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto num acidente aéreo durante a campanha.

Para ela, o patamar de suas votações mostrou a insatisfação do eleitorado com os rumos da polarização PT-PSDB.

“A sociedade brasileira, antes de irromper o fundo da cratera mais profunda do vulcão racista, autoritário, machista e negacionista que é o governo Bolsonaro, deu alguns sinais muito importantes para os partidos que estiveram no poder durante esse longo período. Aquela votação era a sinalização de um desejo latente e forte da sociedade que não rompia o pacto que estava estabelecido”, afirmou.

A ex-ministra avalia que a força das duas siglas, na ocasião, sufocou tanto sua candidatura como as demandas sociais que representava. Para ela, esse represamento contribuiu para a ascensão de Bolsonaro, classificada por ela como “recalque do recalque”.

Marina, contudo, avalia que a mudança no perfil da polarização eleitoral demanda novas estratégias. A maioria dos integrantes da Rede, seu partido, apoia Lula. Ela afirma estar aberta ao diálogo.

“As divergências [em 2014] permaneciam na esfera da condução econômica, de como enfrentar os problemas sociais, mas jamais questionar o direito soberano de escolher seus governantes. O que temos agora é uma realidade completamente diferente. Ela precisa ser considerada para que não se veja o momento atual como algo contínuo [em relação ao passado]. Nem a polarização, nem a alternativa que se faz a ela”, diz a ex-ministra

A polarização PT-PSDB seria quebrada apenas por Bolsonaro em 2018. Cientistas políticos divergem sobre a possibilidade de classificar o atual presidente como a terceira via que deu certo.

“Era um cenário muito confuso. Não tinha um incumbente concorrendo à reeleição. [O então presidente Michel] Temer era muito impopular. O PT muito ruim das pernas, com Lula na prisão. PSDB com uma candidatura frágil do Alckmin. Bolsonaro lavou com o discurso antipolítica. Ele não foi a terceira via, foi a negação da via”, disse Carlos Pereira.

Almeida avalia que Bolsonaro “tomou a via do PSDB”. “No fim das contas, o eleitorado do PSDB foi transplantado para ele.”

Para Niemeyer, o presidente foi uma terceira via “que enganou parte dos que votaram nele”.

Marina rejeita a tese. “Defender a ditadura, a eliminação dos indígenas, o machismo, não é uma via. Essa é a via da destruição.”

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