Na semana passada, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), decidiu de última hora comparecer à reunião de chefes dos Executivos estaduais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. No encontro, evitou segundo o Estadão, imagens com o petista, em um movimento que antecipa como será seu segundo mandato à frente do Estado: o de opositor a Lula e ao PT.
Nesta segunda-feira, 16, Zema reforçou essa estratégia. Em entrevista a uma rádio do Rio Grande do Sul, afirmou que o governo federal fez “vista grossa” às invasões e depredações das sedes dos três Poderes para, segundo ele, se “posar de vítima”. Na mesma entrevista, Zema condenou os atos de vandalismo em Brasília.
Para analistas ouvidos pelo Estadão, o governador mineiro terá de fazer movimentos para se firmar como um político de direita, que se opõe ao governo Lula, se desvinculando do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está nos Estados Unidos e passou à condição de investigado na sexta-feira passada por suspeita de incitar os atos violentos.
“Com a derrota de Bolsonaro e a corrosão do bolsonarismo, Zema perdeu um grande aliado e vai precisar de um tempo para se encontrar como oposição, dando uma cara nova e descolada do ex-presidente ao seu governo”, disse o professor de Ciências Políticas da UFMG Cristiano Rodrigues. “Zema terá de se firmar como um político de direita, que se opõe ao governo Lula, sem abraçar o bolsonarismo, como fez em seu primeiro mandato. Isso poderia ser sua morte política.”
Rodrigues afirmou que não vê o nome de Zema como possível candidato em 2026. Segundo ele, Zema navega num mar muito mais complicado, sem o apoio do governo federal e sem os bilhões que a Vale despejou em Minas Gerais em seu primeiro mandato. Por causa do desastre de Brumadinho (MG), o governo de Zema recebeu R$ 37,68 bilhões de indenizações da mineradora.
Decreto
Em outro gesto para reforçar o antipetismo, Zema alterou as normas das cerimônias oficiais em Minas, por meio de decreto, dando preferência para a entrada de autoridades estaduais, em detrimento de autoridades federais. “Após a entrada do governador do Estado (…) adentrarão (autoridades estaduais) (…) com precedência sobre autoridades federais”, diz o decreto. Com isso, Lula e ministros do seu governo serão anunciados e entrarão em solenidades oficiais em Minas Gerais só após autoridades estaduais.
Na avaliação do pesquisador Arthur Thury Vieira Fisch, do Centro de Estudos de Política e Economia do Setor Público, da FGV, Zema, porém, tem condições de liderar governadores de oposição ao petista. Numa comparação entre o chefe do Executivo mineiro e outros governadores egressos do bolsonarismo, a exemplo do titular paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro, ele acredita que o político do Novo “tem mais chances de liderar uma oposição efetiva a Lula”.
“Dado o momento político dos dois (Zema e Tarcísio), acredito que o Zema tenha mais chances de liderar uma oposição não bolsonarista ao governo Lula do que Tarcísio”, diz Fisch. “Tarcísio e Zema comandam dois Estados muito importantes e são identificados com a direita. Zema está em um partido muito pequeno e com pouca projeção nacional. Tarcísio, embora esteja em um partido mais relevante, a sigla apoiou governos petistas, e seu governo está muito próximo do PSD, liderado por (Gilberto) Kassab, que tem ministros no governo Lula”, afirmou.
“Querer ser candidato a presidente, qualquer um pode. Agora, viabilizar a candidatura é outra história. Faltam quatro anos. Agora, nenhuma pretensão é para valer”, disse o presidente do PT de Minas Gerais, deputado estadual Cristiano Silveira (PT).
“Não sei se o Zema pretende assumir esse papel (de candidato a presidente). Há pautas importantes de interesse de Minas Gerais que precisarão de diálogo com o governo federal”, afirmou Silveira. “Se o governador quiser ser um nome viável (para 2026), ele precisa disputar o campo ideológico (direita) ao qual pertence, mais do que se opor a Lula.”
Para o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), as eleições de 2026 são um assunto que deve ser tratado no futuro. “O foco do governo é fazer o máximo nesse segundo mandato.”
“A base do governo hoje na Assembleia conta com 50 dos 77 deputados estaduais. A expectativa é de que isso permita a retomada das pautas que são capazes de transformar Minas Gerais, com diálogo e avanços rápidos”, afirmou Simões.
“O ajuste fiscal já realizado e a disposição do governo para conduzir as coisas com responsabilidade vão permitir que tenhamos um mandato de maiores entregas se somarem aos resultados expressivos que tivemos no primeiro mandato, em segurança, educação e saúde”, declarou o vice-governador.