Andriy Yermak, chefe de gabinete e verdadeiro braço direito do presidente Volodymyr Zelensky, disse conforme Américo Martins, da CNN, que vai convidar o Brasil para participar de uma reunião de cúpula para discutir a paz na Ucrânia.
“Em nome do presidente, eu e o nosso Ministério das Relações Exteriores estamos trabalhando na organização da primeira Cúpula Internacional da Paz para discutir a fórmula proposta pelo presidente Zelensky”, disse ele.
“E nós acreditamos que a cúpula não estará completa sem a participação dos países do sul global”, acrescentou, mencionando o Brasil, Índia, China, Arábia Saudita e países da África como fundamentais para a discussão.
Yermak confirmou que o Brasil será um dos principais convidados, mas não antecipou a data e o local da cúpula, afirmando que ela vai acontecer em breve, em um local neutro e de fácil acesso para os representantes de vários países.
O braço direito de Zelensky disse que o governo ucraniano “quer ver o Brasil como um dos líderes da implementação do nosso Plano de Paz”.
Ele foi muito aberto ao diálogo com Brasília, elogiando, por exemplo, as conversas que teve com Celso Amorim, o assessor especial para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que visitou Kiev em maio.
“A Ucrânia está muito interessada no desenvolvimento de suas relações com o Brasil. A Ucrânia quer muito uma parceria estratégica com o Brasil. E estamos prontos para fazer tudo o que depende de nós para atingir esse objetivo”, afirmou.
Proposta de paz da Ucrânia
O chefe de gabinete, no entanto, não abriu nenhuma possibilidade de algum tipo diferente de negociação de um processo de paz, a não ser o proposto por Kiev.
O presidente ucraniano apresentou durante uma reunião do G20, em novembro de 2022, em Bali, na Indonésia, um plano de 10 pontos para solucionar o conflito no país.
A proposta é ampla e pede, entre outras coisas, a imediata retirada dos soldados russos de territórios ucranianos ocupados e a criação de um tribunal para julgar os crimes de guerra praticados pelas forças de Moscou.
Além disso, pede a implementação de planos para garantir a segurança alimentar, redução do risco nuclear e destruição do meio ambiente.
Neste ponto, Yermak foi muito claro, reconhecendo o papel de liderança que o Brasil tem na área ambiental.
“Tenho certeza de que o Brasil pode ser um dos líderes poderosos ao lidar com questões de segurança ambiental. Sabemos que este desafio específico é importante para o seu país. Vocês tem tantas pessoas que estão engajadas profissionalmente nesta área que certamente podem nos ajudar”, afirmou.
O chefe de gabinete conversou com a CNN logo após voltar de uma viagem com o presidente Zelensky à região de Nova Kakhovka, onde uma explosão de uma barragem deixou milhares de pessoas desabrigadas e sem acesso à água potável.
“Eu diria que esse é um dos maiores desastres ambientais da história da Europa”, disse. Ele afirmou que “os russos estão atacando a infraestrutura civil, os próprios civis. É um fascismo absoluto. É um genocídio absoluto. É um ecocídio absoluto. Portanto, a comunidade mundial deve definitivamente se levantar contra isso”.
Ele disse ainda que esse foi “mais um crime de guerra, um crime contra a humanidade” praticado pelas forças do presidente russo, Vladimir Putin.
Yermak aproveitou para defender melhores laços entre os dois países. “Temos algo a oferecer ao Brasil e ao empresariado brasileiro, que queremos ver na Ucrânia. E não há necessidade de esperar até o fim da guerra”, afirmou.
No fim de junho, acontecerá em Londres a Conferência de Recuperação da Ucrânia. Esse será um evento diferente da cúpula sobre a paz, segundo assessores de Yermak.
A intenção do encontro em Londres é mobilizar o apoio internacional para a estabilização econômica e social da Ucrânia e a recuperação dos efeitos da guerra.
O Itamaraty afirmou na CNN, que ainda não recebeu nenhum convite do governo ucraniano para participar de qualquer conferência sobre a paz. Mas o Ministério das Relações Exteriores já afirmou diversas vezes que o Brasil tem interesse em participar e ajudar a resolver o conflito no país europeu.