Líder do seu partido na Câmara, Zeca Dirceu (PT-PR) atribui aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o fato de a base do governo ainda não ter sido testada. O deputado avalia em entrevista a Gabriel Sabóia, do O Globo, que o governo tem apoio suficiente para aprovar qualquer proposta, mas defende o uso de cargos para atrair novos aliados, como o Republicanos, com quem o Palácio do Planalto negocia. O parlamentar diz ainda que o pai, José Dirceu, tem sido procurado por integrantes da atual administração para dar conselhos — “só perguntando a eles dois”, desconversa, questionado se Lula é um dos interlocutores.
Como o governo vai construir uma base sólida no Congresso? Isso passa pela distribuição de cargos?
É um equívoco achar que apenas a composição de cargos determina o sucesso da base. Para obter êxito, é necessária uma soma de fatores. Os cargos contam, é claro, mas existem construções coletivas que precisam ser levadas em conta. A base do governo, que já é robusta, ainda não foi testada por uma decisão das presidências da Câmara e do Senado, que ainda não pautaram os projetos em que estaremos em xeque. Distribuição de cargos acontece no mundo todo e faz parte da composição de governo. No Brasil, parece que é crime.
A aproximação com o Republicanos está sendo feita com oferta de cargos?
O namoro entre o governo e o Republicanos começou na aprovação da PEC da Transição. Eles já deram uma prova de que topam jogar juntos com o governo. Sobre esta aproximação, acho natural que os partidos proponham nomes e o governo os acolha, desde que tenham capacidade técnica.
O governo vai cobrar apoio total dos partidos que têm cargos?
Sabemos que alguns deputados terão divergências e que não contaremos com as totalidades das bancadas. Uma análise mais concreta do tamanho da base só poderá ser feita após cinco ou dez votações.
Qual é o percentual de apoio ao governo na Câmara?
Certeza de apoio integral, tenho apenas do PT. Nenhum outro partido dará 100%. Alguns darão 90%, outros 70%. Teremos mais de 308 votos quando precisarmos (patamar de aprovação de uma PEC).
E como vê a disputa pela Codevasf, que era pretendida pelo PSB, mas acabou nas mãos do Centrão?
Os aliados já estão muito bem contemplados com ministérios. Não consigo ver motivos para contestar isto.
A atuação do ministro Alexandre Padilha tem sido contestada. As críticas são justas?
A base não foi testada, mas não por decisão do Padilha. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco ainda não colocaram temas polêmicos para serem votados. Padilha é um dos melhores ministros, testado em várias pastas. As nomeações ocorrem em ritmo lento, é verdade, mas não é culpa do Padilha. Em alguns casos, existem questões regionais travando.
O rito de tramitação das MPs é o motivo da primeira crise desta Legislatura. Defende o fim das comissões mistas?
O embate entre Lira e Pacheco foi muito ruim. O ideal seria um acordo. A solução que foi dada é momentânea e destrava uma pauta paralisada, mas Câmara e Senado têm que voltar a conversar. O modelo anterior à pandemia não era bom. É um retrocesso voltar definitivamente àquele formato. Tomara que Lira e Pacheco, com a ajuda do governo, cheguem a um modelo intermediário que observe a regra de proporcionalidade entre deputados e senadores.
Qual tem sido o papel do seu pai no governo?
Como filho, fico feliz por vê-lo sendo recebido de maneira tão positiva. Ele está focado em provar a sua inocência e anular as condenações. Assim como Lula, ele vai voltar e decidiu que só volta à vida pública quando vencer essas etapas no Judiciário. No mundo político, ele é muito procurado para conselhos, todos querem ouvir as suas opiniões. Não faltam governadores, senadores, ministros e prefeitos querendo orientações.
Lula também o procura para conselhos?
Eu não tenho autorização para comentar esta particularidade. Só perguntando a eles dois.
Sua escolha para a liderança da bancada foi atribuída ao Dirceu. Houve alguma intenção de contemplá-lo?
Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu cresci no PT. Muitos me olham como um filho. Confiam em mim. Estou aqui pelo meu trabalho.