Ex-prefeito de Vitória da Conquista e engajado na disputa do próximo ano, o deputado estadual Zé Raimundo (PT) declarou, em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia, que o seu grupo político reúne todas as condições necessárias para desbancar a atual gestão no município localizado no Sudoeste do estado.
Confira:
Tribuna: Como o senhor avalia esse primeiro semestre do governo de Jerônimo Rodrigues e qual o principal desafio dele?
Zé Raimundo: Estamos acompanhando, evidentemente desde a primeira hora, não só como deputado estadual, como vice-presidente da Assembleia, mas também enquanto militante, enquanto companheiro, enquanto um dos deputados que contribuíram com a vitória de Jerônimo, nós sabemos que foi uma vitória extraordinária, dada as condições, ele foi apresentado praticamente no mês de março ou abril, o nome dele foi apresentado, e foi uma luta extraordinária torná-lo governador da Bahia. Naturalmente, a nossa expectativa e a nossa avaliação são positivas. É claro que nesses primeiros meses, muitas obras, muitas ações foram iniciadas no governo de Rui Costa, esses compromissos todos fizeram parte da prioridade da agenda do governador, e ele disse várias vezes que todos os compromissos que Rui assumiu com as regiões, com os municípios, com as lideranças, com os movimentos sociais, que esses compromissos seriam executados e cumpridos. E, naturalmente, eu tenho acompanhado ele no Sudoeste, em nossa base, em Vitória da Conquista, Serra Geral, Médio São Francisco, Paramirim, e temos acompanhado e ele tem feito um grande esforço para entregar os projetos que estavam em andamento.
Tribuna: E quais os principais desafios?
Zé Raimundo: Sem dúvidas, a questão ainda da pobreza e da exclusão social são muito fortes ainda na Bahia e no Brasil, essa é uma questão que ele já priorizou com o Bahia Sem Fome. Uma outra coisa, a questão da Segurança Pública, a gente está vendo aí muitos investimentos, muitas delegacias, muitas estruturas que ele tem. A bancada do PT e da federação, a gente tem discutido isso, e vamos buscar um caminho que se garanta a cidadania, os direitos humanos, mas que combata de forma firme o crime organizado. Isso são dados também, dos indicadores da violência, que há um fenômeno novo no Brasil que é essa questão do crime organizado. Então a prioridade dele tem sido essa. Esse é o segundo desafio. Um terceiro desafio, que eu considero importante, é manter estruturas democráticas, ouvindo a população. Ele é bem experiente nisso, porque ele fez o PGP [Programa de Governo Participativo], ele coordenou o programa de governo de Rui, então esse terceiro desafio é o de fortalecer a democracia, fortalecer os organismos sociais, ouvir a sociedade de forma proativa, e, principalmente, criar essa mentalidade, que a democracia é um valor universal. Não podemos permitir que discursos autoritários, discursos preconceituosos, possam estar circulando no meio da sociedade, infelizmente, a gente está vendo aí que ainda há um apoio, ainda há uma adesão de parte da população, a práticas preconceituosas, criminosas, que o ex-presidente [Jair Bolsonaro] difundiu no Brasil, como a violência também. Nesse momento de aumento da violência, claramente foi incentivado pelos quatro anos do governo Bolsonaro, que a todo momento fazia um culto, fazia um louvor a práticas anti-humanistas.
Tribuna: Nas últimas semanas têm surgido algumas especulações de que alguns prefeitos e deputados têm ficado insatisfeitos com a suposta falta de diálogo do governo com eles. Esse sentimento, em sua avaliação, existe? Como está o diálogo do governador Jerônimo Rodrigues com os deputados na Assembleia?
Zé Raimundo: Em todos os momentos em que o governo precisou da Assembleia nos projetos estratégicos, ele contou plenamente com o apoio. O nosso líder Rosemberg Pinto tem feito essa mediação junto com o líder da nossa federação, que é o Robinson Almeida, eles têm tido esse diálogo permanente com a Casa Civil, com o gabinete do governador, com a Serin [Secretaria de Relações Institucionais], e com o próprio governador. Evidentemente que esses primeiros meses foram meses de arrumação. Nós tivemos uma primeira reunião de toda bancada do governo com o governador no início do semestre, e já temos uma agenda programada para intensificarmos agora esse diálogo, em vários níveis, não só em torno do governador, mas como também das diversas secretarias. Agora mesmo estamos discutindo a reforma tributária, as comissões também têm ouvido, ontem tivemos uma reunião com o dirigente do Planserv, ou seja, não só o governador, mas o governo como todo. Essa agenda estava um pouco morosa, mas agora vai se intensificar, nós havíamos combinado que teríamos um calendário de encontros permanentes, mas em função até das circunstâncias, até do período junino, foram muitos festejos, e agora estamos retomando essa agenda, esse calendário, de conversas, de reuniões, de contato, mas nunca faltou esse diálogo. Sempre houve, agora o que nós queríamos e, de fato, irá ocorrer agora, são diálogos mais intensos, mais robustos, mais substantivos, para podermos preparar uma agenda para 2024, que, na verdade, a nossa preocupação é essa, como iremos planejar as nossas ações para o próximo ano, já que esse ano a gente compreendeu muito bem que muita coisa já estava programada em função das obras que o nosso ex-governador [Rui] deixou em andamento, as que precisavam começar, e agora, sim, é a agenda do governador Jerônimo Rodrigues.
Tribuna: Neste ano também os deputados na Assembleia fizeram várias tentativas de iniciar CPIs sobre diversos assuntos e uma das mais recentes é a do Planserv. Qual a sua avaliação sobre essa proposta? O senhor acha que ela deve prosperar?
Zé Raimundo: Todos os dados, todas as informações do Planserv, já estão disponíveis, são acessíveis, são disponibilizadas. É claro que, sobretudo os deputados da oposição, vão querer sempre fazer uma carga, uma cobrança, para que eles tenham também, digamos assim, visibilidade. Nós que somos do governo estamos tranquilos. Eu acho que é desnecessária essa CPI. Qual é o fato? Qual é o problema do Planserv? Nós estamos vivendo no Brasil uma situação que todo sistema de saúde, seja ele privado, sejam os planos, sejam as seguradoras, tem problemas. Os insumos aumentaram depois da pandemia, os custos com a saúde aumentaram e os planos, o financiamento da saúde também precisam ser melhorados. Nós sabemos que o SUS ficou aí seis anos sucateado pelos governos anteriores e o presidente Lula vem agora reforçando o SUS. Com o SUS fortalecido, cria uma sinergia para os outros planos. Então eu acho que o Planserv não tem nenhum problema ponto de vista ético ou moral que precise de uma CPI. A questão operacional e funcional se resolve e se encaminha no debate, como aliás foi ontem com a presença da Doutora Socorro [Brito] aqui [na Assembleia] e toda a sua equipe, dialogando, ouvindo, debatendo, pedindo esclarecimentos, que é o papel também do parlamentar, parlamento é para isso, ouvir e debater na sua legítima função, mas uma CPI eu acho completamente desnecessária.
Tribuna: Falando um pouco sobre 2024, em Vitória da Conquista tudo indica que o PT vai ter um candidato. O deputado federal Waldenor Pereira, do PT, é um pré-candidato. Como o senhor está colaborando com esse diálogo lá?
Zé Raimundo: Já tomamos uma decisão muito importante, que foi definir um calendário, um planejamento para 2024 em Vitória da Conquista, diferentemente do que ocorreu em 2016 e 2020, 2016 foi aquela situação do golpe contra a Dilma com o impeachment. E também de certa maneira era o fim de um período de dois mandatos, e os aliados dispersaram, e eu fui candidato em 2016 com muita dificuldade, cometemos erros em 2016, a minha candidatura foi definida somente no mês de junho, faltando quatro meses para as eleições, mas foi uma luta nossa, um compromisso histórico nosso. Em 2020, a pandemia, a legislação que permitiu uma série de mecanismos da gestão municipal, o adiamento das eleições, tínhamos todas as condições de ganhar as eleições de 2020, embora a decisão tenha sido um pouco mais cedo, mas ainda demorou, nós definimos a nossa candidatura no mês de março de 2020, e ali a pandemia, o abuso do poder econômico, inclusive tem uma ação ainda correndo contra a atual gestão, por abuso do poder econômico, por abuso político, mas mesmo assim ganhamos no primeiro turno, e só não fomos vitoriosos por 3 mil e poucos votos. E aí a pandemia, não poderíamos fazer campanha de massa, não é justificando, e ainda aquela onda antipetismo, a fake news que foi uma coisa criminosa o que fizeram, não só em Conquista, como também em Feira de Santana, das 19 cidades que o PT foi para o segundo turno, 17 nós perdemos. Inclusive recentemente pessoas que se utilizaram de fake news foram condenadas em Vitória da Conquista a pagar multa e se retratar. Então toda essa conjuntura fez com que não ganhássemos as eleições. Agora, não. Agora chegamos, fizemos um planejamento, definimos o nome do deputado federal Waldenor Pereira com antecedência. Waldenor é um líder, um companheiro experiente, com dois mandatos de deputado estadual, líder do governo Wagner, ex-reitor da nossa universidade, e quatro mandatos como deputado federal. Então ele é experiente, é uma pessoa que aceita o debate, então nós construímos e fechamos no PT o nome dele, fechamos ne Frente Conquista Popular, que é a federação, o PSD também já faz parte da nossa coligação, e agora as lideranças partidárias, junto com Waldenor, estão conversando com outros aliados, com o MDB, com o PP, com o PSD, com o PSOL, com a Rede, com o Avante, ou seja, todos os partidos que têm uma referência e um apoio a Jerônimo e também ao presidente Lula. Esse é o nosso espectro. Então está indo muito bem essas conversas, já temos um grupo de pessoas e lideranças mobilizadas para fazer um diagnóstico, porque nós entendemos que a atual gestão são sete anos, e indo ao oitavo em 2024, que não acontece nada na cidade.
Tribuna – E como avalia a atual gestão do município?
Zé Raimundo – O que o grupo que está lá fez durante dois ou três anos foi o recurso que Guilherme [Menezes, do PT] deixou. E algumas outras ações, inclusive, nós aprovamos o empréstimo para a Prefeitura fazer obras para infraestrutura da cidade, então é uma gestão que destruiu o transporte coletivo, acabou praticamente com a zona rural, não tem nenhuma assistência para a zona rural, a saúde é um caos, porque infelizmente se não fosse o Estado a cidade estaria [em uma situação mais complicada]. Porque o que tem hoje é a UPA, é policlínica, é o hospital de base, todas as estruturas são estatais, aquilo que é a obrigação da Prefeitura, que é a atenção básica, que deveria ser de qualidade intensa, agora que está retomando um pouquinho por causa do Mais Médicos, por causa do governo federal, que até então as unidades estavam fechadas, sem nenhuma assistência, faltando medicamento, então abandonou a cidade. Acreditamos que temos todas as condições. Deixamos um legado em Vitória da Conquista, os governos do PT, o governo de Guilherme, e, em modéstia parte, o meu governo, em modéstia parte, nós colocamos Vitória da Conquista entre as três melhores cidades do Brasil em saneamento básico de uma certa quantidade. Era a melhor cidade do Nordeste para se viver, para se morar. Reduzimos os indicadores ruins de saúde, melhoramos a assistência social, programas em educação e saúde, atendemos o idoso, a criança, o adolescente e o homem rural, construímos um diálogo com a cidade, os empresários tiveram oportunidades, fizemos obras de infraestrutura urbana; a própria saúde, a municipalização do SUS ajudou o empresariado privado da saúde, ou seja, tornamos Vitória da Conquista internacional.
Tribuna: Qual a sua opinião sobre essa nova abertura de diálogo e essa ampliação de diálogo do presidente Lula com os partidos mais de centro, como o Progressistas e o Republicanos?
Zé Raimundo: Infelizmente, o Brasil tem um sistema eleitoral partidário e político, ou se a gente quiser, o contrário, o sistema político com características eleitorais e partidárias únicas. Infelizmente, que a gente chamaria essa questão do presidencialismo de coalizão é que você se elege presidente, mas elege um Congresso totalmente contrário, e fica esse problema, essa dualidade de representações e soberanias. Infelizmente, esse nosso sistema eleitoral o presidente é obrigado a procurar articular os apoios para a chamada governabilidade, mas o bom de tudo isso é que o presidente Lula tem uma força moral muito grande, evidentemente que os aliados para o governo que estão chegando vão dar uma certa estabilidade, e o presidente não rebaixou o seu programa, ele continua muito decidido de construir um projeto nacional, de recuperar o poder de ganho dos trabalhadores, de combater todo tipo de desigualdade, de recuperar também o papel ativo do Estado, inclusive, revendo algumas privatizações criminosas como foi o caso da Eletrobrás e da Petrobrás, não privatizaram, mas esquartejaram a Petrobrás, privatizaram as refinarias. Então o presidente Lula está retomando esse projeto nacional e reinserindo o Brasil no mundo. Nesses sete meses o Lula foi praticamente em todas as semanas manchete dos grandes jornais. Eu tenho um grupo de WhatsApp que tem gente do mundo inteiro e os amigos mandam lá, é impressionante como o Lula é capa de revista no mundo inteiro. E, mais ainda, não é só capa de revista, ele é de fato decisivo, na China, no Oriente Médio, na Rússia, esse problema da União Europeia com a América do Sul, ou seja, tudo isso o Lula está tratando, a retomada do contato com a África também. Os aliados que estão aí, que estão chegando no governo, para ajudar Lula a governar. Claro que terão problemas aqui ou ali, regional, nacional ou estadual, é natural que terão alguns problemas de convivência, mas isso faz parte da democracia. O importante é a força do Lula e a gente, nós, militantes, temos a consciência que é preciso também parcerias para a gente transformar o Brasil. O que a gente não pode é rebaixar o nosso programa. Aí, não. Evidentemente conviver com os aliados, mas não perder o nosso programa, e o PT mobilizar e esclarecer a população da necessidade de não só apoiar o governo Lula, mas também de apoiar as medidas necessárias para construirmos uma sociedade mais justa.