Em uma entrevista ao jornal Tribuna da Bahia, o prefeito de Jequié, Zé Cocá, candidato à reeleição pelo PP, analisou o cenário político e abordou diversos aspectos de sua gestão e as perspectivas para o futuro do município. No entanto, o pepista não economizou críticas ao deputado federal Antônio Brito (PSD), o acusando de não destinar recursos significativos para a cidade.
Cocá destacou as principais realizações de sua gestão. Entre elas, ressaltou a “melhoria na autoestima” dos cidadãos de Jequié, citando o aumento expressivo do número de CNPJs registrados na cidade e a geração de empregos.
Tribuna – O que o senhor destacaria de mais relevante em sua gestão na Prefeitura de Jequié?
Zé Cocá – Eu sempre tenho dito que, para mim, a maior obra que nós fizemos em Jequié foi levantar a autoestima da população. Hoje, o povo de Jequié acredita na cidade, depois da infraestrutura, depois do cuidado, depois do que fizemos em Jequié. Jequié era uma cidade que tinha, quando nós entramos, pouco mais de 6 mil CNPJs, e hoje nós temos mais de 13 mil CNPJs. Nós mais do que dobramos isso em quatro anos. Jequié foi a quinta cidade que mais gerou empregos na Bahia em 2023. Uma cidade que tinha em torno de 44% da cidade pavimentada, este ano, estamos chegando a mais de 90%. A intenção é que, até o final do ano, a gente chegue a 100%. Construímos praças, mudamos a educação do município, com infraestrutura nova, com novos modelos, com várias modificações, a parte da saúde, a parte da infraestrutura geral, a parte de mobilidade melhorou muito. Então, automaticamente, o setor empresarial da cidade virou outro. Várias empresas estão se alojando. O setor na área de fluxo de hotéis, antes, uma rede hoteleira bem fragilizada, e, hoje, a rede hoteleira precisa de mais, porque não está dando conta da quantidade de visitantes. De fato, avançou muito.
Tribuna – Tem alguma coisa que o senhor queria fazer e não conseguiu, mas que em uma eventual segunda gestão gostaria de dar continuidade?
Zé Cocá – Eu sempre digo que é preciso abrir novas avenidas. Nós fizemos alguns investimentos nessa área, mas nós precisamos fazer mais. Nós precisamos abrir novas avenidas, precisamos abrir novos trechos. Jequié tem um trecho que precisa de novos viadutos. Jequié precisa de um novo centro industrial, o nosso já está quase assoberbado, perto do colapso, então precisamos abrir um novo centro industrial para otimizar isso. A gente precisa reestruturar o que chamamos de Cidade Nova, onde a BR-116 passa. São obras estruturantes que não conseguimos fazer, mas, com certeza, o município, seja comigo ou com quem quer que seja, precisa fazer essas novidades, porque são importantes para Jequié.
Tribuna – Embora seja uma atribuição estadual, como Jequié lida com a questão da segurança e da violência?
Zé Cocá – A gente tem feito um trabalho intenso nessa questão, um trabalho com a guarda municipal, um trabalho forte nas escolas. Eu tenho dito uma coisa que me marca sempre: não se faz segurança pública sem cuidar da educação. Para mim, o maior gargalo do governo do Estado chama-se segurança pública, porque o governo do Estado não tem feito um trabalho diferenciado na questão educacional. Então é preciso que a gente trabalhe na questão educacional, porque, automaticamente, movimenta a questão da segurança pública. Então para mim o governo precisaria fazer um trabalho mais intenso, fazendo novas creches, novas escolas, novas infraestruturas para as escolas municipais, um elo entre os pais e as mães com as escolas, então, o governo precisa ajudar os municípios a fazer isso, e não é o que acontece. Nós estamos fazendo isso, mas esse é um trabalho a longo prazo, é um trabalho que precisa ser iniciado e alimentado por muitos anos para que a gente quebre, em um futuro próximo, esse problema da segurança pública no estado da Bahia.
Tribuna – Como tem sido a relação do governo Jerônimo com Jequié, e também com outros municípios da Bahia, considerando que o senhor foi presidente da UPB?
Zé Cocá – Comigo, não tenho do que reclamar. O governo tem feito coisas que nós temos demandado, estamos sendo respeitados. Eu fui presidente da UPB e nós tivemos uma discussão muito forte junto ao governo Rui, que foi, de fato, um grande parceiro na UPB naquele momento. Ouviu a grande maioria das nossas necessidades. Quando eu estava saindo, Jerônimo estava entrando. Então, tive muito pouco diálogo com Jerônimo com a UPB, só dois meses. O meu mandato venceu em março e ele entrou em janeiro. São meses que geralmente são mais devagar, se organizando ainda. Mas, sempre tive uma relação muito boa. Aqui na região eu tenho essa relação, independentemente de não ter tido uma posição, mas essa relação institucional hoje tem acontecido bem tranquila.
Tribuna – E as pautas municipalistas no governo Lula estão avançando ou continuam do mesmo jeito em relação ao governo anterior?
Zé Cocá – Eu acho que mudou pouco. Tem uma pauta que é discutida há mais de 30 anos, que a gente fala, fala e fala do pacto federativo, e essa pauta é necessária para os municípios. Os municípios ficaram à mercê do FPM nos últimos anos. A União criou novos impostos, criou novas estruturas nos últimos 50 anos, e os municípios não absorveram isso. Eu fui prefeito de Lafaiete Coutinho, no primeiro mandato, eu não ouvi dizer um prefeito que extrapolasse o índice pessoal, não tinha. Hoje eu não conheço nenhum que não termine um mandato precisando tirar, demitir gente, se organizando, para que ele não cumpra isso, é sinal que as receitas estão se achatando, principalmente nos pequenos municípios. O nosso maior sentimento, a maior vitória da história, foi a questão da redução da alíquota. Foi uma luta nossa, nós começamos lá, discutimos lá atrás, e agradeço aqui ao senador Angelo Coronel. O governo federal tentou derrubar na justiça, mas depois voltou atrás, o entendimento que era necessário. Reduzimos a alíquota do INSS de 22% para 8% para os municípios abaixo de 150 mil habitantes, que são os municípios que mais precisam, que viviam em colapso total, e nós provamos naquele momento, nós fizemos um estudo e mandamos para o governo federal, que os municípios pagavam um pouco mais de 7%, se o governo abaixasse para de 8% a 10%, o governo iria arrecadar mais e daria uma condição aos municípios, porque os municípios todo os meses tinham que forjar serviços, não vou dizer a palavra forjar, mas vou dizer que os municípios não conseguiam pagar tudo e lançavam em vez de lançar 22% lançavam 7%, aí chegava no final do mandato e o município com um débito bilionário. O que propomos à União? Que a União fizesse esse encontro de contas, que a gente zerasse isso, que houvesse um parcelamento, e que os municípios daí para frente tivessem a obrigação de reter na fonte, automaticamente, a União iria receber mais, é o que está acontecendo hoje com os 8%, e os municípios iriam ficar viáveis.
Tribuna – O seu candidato à vice é do União Brasil. Ele vai seguir na oposição ao governo da Bahia ou vai se aproximar como deseja a maioria do PP?
Zé Cocá – Isso nós vamos discutir junto com o partido. O que acontecer, tanto o vice quanto todo mundo vão caminhar junto com os mesmos pensamentos. Então qual é a nossa maior intenção aí? Que a gente flua, que a gente tenha essa condição da discussão estadual para avaliar a necessidade de Jequié, eu irei discutir junto com meu partido, mas, além de discutir junto com meu partido, eu preciso discutir Jequié. Eu preciso que o governo do Estado discuta Jequié primeiramente para que aí sim a gente tome alguma posição.
Tribuna – O senhor é prefeito mais importante do PP, uma vez que Jequié é o maior colégio eleitoral gerido por um prefeito do partido. Como o senhor vê hoje a divisão do partido em relação ao governo do Estado?
Zé Cocá – Isso acontece em todos os partidos. Se você avaliar, você tem lugares que prefeitos do PSD que foram oposição ao governo do Estado. Às vezes a questão particular de cada município muda muito. Cacá Leão é secretário de Bruno Reis, Cacá foi candidato a senador ligado a Neto, então é justo que Cacá apoie Bruno Reis, é uma coisa normal, então o partido tem que respeitar essa questão municipal, como temos isso em outros cantos e com outros partidos, como também temos pessoas do PP, que naquele momento que o PP rompeu com o governo, ficaram junto com o governo, e o PP respeitou isso. Naquele momento foi muito importante, porque as pessoas tinham seus vínculos traçados ali com o governo do Estado, então isso precisa ser respeitado. É o que o partido precisa fazer agora. O partido precisa discutir isso, o partido precisa avaliar a maioria, toda unanimidade é burra, não acredito em unanimidade, nunca teve e nunca terá. Tem prefeitos com vontade de ficar com o Estado e tem prefeitos que não querem. Então a gente discute a maioria, quais são os prefeitos que querem debater isso, quais são as propostas, o que o governo do Estado pensa para os municípios da Bahia, para que a gente possa fazer uma discussão sadia e bem prática.
Tribuna – Uma outra questão interessante também é que o senhor tem o apoio de parte do PT na cidade, mesmo o partido apoiando outro candidato. Um dos vereadores do PSD lançou como candidato Alexandre Youssef, e ele deixou o partido para te apoiar. Como está o diálogo em torno disso?
Zé Cocá – Aqui nós tínhamos um vereador que era do PSD e veio para a gente, o vereador San David, nós tivemos outros pré-candidatos que eram ligados lá na oposição e hoje estão cá, hoje faremos uma base, com fé em Deus, de 14 a 15 vereadores. Acho que a oposição vai fazer, no máximo, dois ou três, porque nós temos mais dois que podem ser feitos, são candidatos independentes, a maioria quer ficar com a gente, a maioria não quer ficar junto com o candidato do PSD, na verdade, o candidato do PSD hoje não conseguiu criar uma hegemonia na oposição, a oposição está meio esfacelada e não concorda com as atitudes do deputado federal Antonio Brito, então essa discussão ainda vai render muito até a eleição.
Tribuna – Alexandre tem apoio de Antonio Brito, e seu grupo já se queixou que o deputado não destina recursos para Jequié pelo fato de ser adversário do senhor. Isso tem acontecido de fato?
Zé Cocá – O deputado federal Antonio Brito nas últimas quatro eleições, teve 10 mil votos em uma eleição, teve 36 mil votos em outra, 29 mil votos em outra e 26 mil votos em outra. Vem caindo, mas é um deputado que nunca disponibilizou recurso nenhum. Ele foi ligado ao prefeito Sérgio [da Gameleira] e no mandato todo de Sérgio não disponibilizou R$ 2 milhões em emenda. Ele fala em alguns meios de comunicação que eu não peço, mas já clamei em rádio, pedi reunião, ele nunca abriu agenda para isso, e o máximo que o deputado conseguiu foi R$ 400 mil reais para a gente comprar duas viaturas para a guarda municipal. Por enquanto, o deputado Leur Lomanto Júnior colocou R$ 70 milhões de reais tendo 8 mil votos e depois 17 mil votos. Então acho que é
surreal. O deputado poderia pelo menos fazer até indicações e dizer: ‘Eu quero destinar para tal lugar’, e ele ir no bairro e dizer que ele que iria fazer e a gente iria dizer em todos os lugares que foi a mando do deputado, mas ele não colocou nenhum recurso no município, apenas na reforma da Ceavig (Centro de Abastecimento Vicente Grilo) que ele veio aqui e garantiu que tinha colocado R$ 8 milhões, mas não colocou, esse dinheiro voltou para a União a pedido dele, então esse recurso não existe mais, só tem uma emenda de R$ 1 milhão lá para ver se roda, mas para o Ceavig, que é uma obra gigantesca, é um recurso irrisório. Não vai dar para fazer nada, é uma obra que o município está fazendo com recursos próprios, diga-se de passagem, já está em fase entre 60% e 70% de execução da obra, mas é o deputado que, infelizmente, ou não gosta de Jequié ou tem metodologia política diferente dos políticos que foram votados aqui.
Tribuna – Como o senhor enxerga a relação do PP com o governo federal?
Zé Cocá – O partido tem uma relação boa, inclusive, tem alguns ministros, tem uma discussão política importante. O PP é um partido municipalista, é um partido que cria vários debates que corresponde a liderança de Arthur Lira e lideranças partidárias. Então é importante esse diálogo com o partido, mas nunca perdendo a sua independência. É um partido muito independente. É um partido que debate as políticas públicas de forma muito séria, e eu tenho a honra muito grande por estar no PP.