O presidente chinês, Xi Jinping, não tinha deixado seu país desde o início da pandemia de Covid-19. Com essa primeira viagem, que teve início nesta quarta-feira (14) no Cazaquistão e segue para o Uzbequistão, o líder de Pequim mostra a vontade de reforçar a influência da China na região.
Xi Jinping foi recebido no aeroporto pelo presidente cazaque, Kasym-Jomart Tokayev. Durante a primeira reunião entre os dois chefes de Estado, Xi afirmou, segundo a emissora de televisão estatal chinesa CCTV, que queria ajudar o Cazaquistão a “preservar sua independência nacional, sua soberania e sua integridade territorial”.
A invasão russa da Ucrânia, outra ex-república soviética, preocupou o Cazaquistão pelas ambições de Moscou, especialmente porque o país conta com uma grande minoria étnica russa. Desde então, este aliado tradicional de Moscou se distanciou um pouco do Kremlin.
Xi Jinping também prometeu se pronunciar “categoricamente contra a interferência de qualquer força nos assuntos internos” do Cazaquistão, referindo-se aos distúrbios violentos que abalaram o país centro-asiático em janeiro e que as autoridades atribuem a países estrangeiros não identificados. “Esta é sua primeira viagem depois da pandemia, então é uma viagem histórica”, disse Tokayev na reunião, segundo uma nota da Presidência cazaque, celebrando o “alto nível de confiança e cooperação mútuas” entre a China e o Cazaquistão.
Xi vai em seguida para o Uzbequistão, onde participa de uma cúpula dos líderes dos Estados-membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCS). Durante sua estadia, ele deve se reunir com o presidente russo Vladimir Putin, em um encontro que pode eclipsar o restante da agenda.
Anti-G7
Mas a passagem de Xi pela região está longe e ser apenas protocolar. Primeiro porque o OCS, grupo do qual fazem parte, além da China, da Rússia e das repúblicas da Ásia Central, gigantes como Índia, Paquistão e Irã, é visto por muitos como uma espécie de “anti-G7”, formado por nações que frequentemente contestam a posição das democracias ocidentais. O encontro é uma ocasião para Pequim e Moscou se mostrarem menos isolados e, acima de tudo, juntos contra os Estados Unidos.
Além disso, a visita do líder chinês é importante porque desde a independência dos países que faziam parte da União Soviética, Pequim tem investido muito nessa região da Ásia Central.
O Cazaquistão é um dos vizinhos mais importantes da China. A segunda economia do mundo apoia no território cazaque cerca de 50 projetos orçados em cerca de US$ 24 bilhões (R$ 124 bilhões), que devem ser concluídos em 2023. Sem esquecer que o país está, como o Uzbequistão, no caminho das novas Rotas da Seda, o gigantesco projeto de Xi para reforçar os vínculos comerciais da China com o resto do mundo.
Rússia e China Unidos
Para Temur Umarov, especialista da China e da Ásia Central na fundação Carnegie, “essa primeira viagem de Xi Jinping é uma maneira de mostrar que a China considera a Ásia Central como uma prioridade. A China quer ser vista como um país potente, com um peso ampliado no Cazaquistão e no resto da região. Pequim não quer ficar restrito apenas às relações econômicas”, explica.
“A Ásia Central faz fronteira com a região sensível do Xinjiang, na China, e com o Afeganistão. Por essa razão Pequim quer garantir que as capitais da região estejam sintonizadas sobre questões ligadas ao separatismo, ao terrorismo e ao radicalismo religioso”, ressalta o especialista.
Umarov também aponta que o objetivo do governo chinês é manter um bom diálogo com Moscou. “Os dirigentes de Pequim são muito pragmáticos. Eles sabem que a Rússia ainda é considerada uma potência dominante na Ásia Central e que ainda pode influenciar o que acontece na região. Por essa razão a China prefere evitar qualquer tipo de rivalidade de Moscou. Mas Pequim utilizará a fraqueza da Rússia [devido à guerra a Ucrânia] para criar uma situação em que Moscou ajude a China a aumentar sua visibilidade na Ásia Central”, conclui.