No seu depoimento à CPI da Pandemia nesta quarta-feira (16), o governador cassado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, relatou um encontro ocorrido no ano passado com o então ministro da Justiça, Sergio Moro, que teria dado um recado de Jair Bolsonaro para que ele parasse de dizer que queria ser presidente da República, sob pena de ser retaliado pelo governo federal.
Questionado pelo relator, Renan Calheiros, sobre o que respondeu diante da “indigna colocação em nome do chefe”, Witzel falou que “lamentavelmente” Moro agia como “menino de recado”.
A conversa ocorreu, segundo o depoente, a partir da sua solicitação para que o Ministério da Justiça não pedisse de volta de cinco delegados da PF que estavam cedidos ao Governo do Rio de Janeiro. Um deles, destacou, estava na Controladoria-Geral do Estado e apurava crimes praticados em governos anteriores, com foco em desvios relacionados a Organizações Sociais da Saúde.
Witzel então disse ter sido convidado por Moro para conversar e que achou “estranho” que o ministro não quis tirar foto, anunciar seu nome e disse que não poderia dar publicidade à sua presença.
“E quando eu cheguei lá o ministro Moro disse pra mim o seguinte: ‘ô, Witzel, o chefe falou pra você parar de falar que quer ser presidente. E se você não parar de falar que quer ser presidente, infelizmente a gente não vai poder te atender em nada’. E aí o ministro Moro falou que ia pedir de volta os delegados, porque estava sendo uma determinação do governo federal. Isso é ou não é uma clara intervenção indevida num Estado da Federação?”, declarou o ex-governador. Segundo ele, não havia justificativa para pedir de volta.
“Eu disse pra ele que ele estava indo para um caminho errado. Eu falei: ‘ó, Moro, eu acho que você tá num caminho equivocado. Eu acho que se você quer ser ministro do Supremo você não precisa fazer isso. Se você quer ser ministro do Supremo você tem que procurar convencer os senadores e, se o presidente vai te indicar, que você é capaz de ser um ministro imparcial, de ser um magistrado que se espera que tenha na Suprema Corte. Agora esse tipo de coisa, lamentavelmente, de menino de recado, não é o papel que se espera de um magistrado como você, que, como eu, 20 anos de carreira. E esse fato foi um fato marcante nessa história toda porque foi depois daquele vídeo em que eu fui levianamente acusado de interferir na Polícia Civil”, acrescentou.