Diálogos de procuradores da Lava Jato, examinados pela Folha de S.Paulo e pelo The Intercept Brasil, apontam que a força tarefa acredita que o procurador baiano Vladimir Aras pode ter auxiliado e vazado material de delação e informações sigilosas sobre corrupção na Venezuela.
Novas conversas entre procuradores, divulgadas neste sábado (7), também indicam que o ex-juiz Sergio Moro sugeriu a exposição de dados sigilosos sobre a corrupção na Venezuela em contexto político.
O objetivo da ação orquestrada seria dar uma resposta ao endurecimento do regime imposto pelo ditador Nicolás Maduro no país vizinho, mesmo que os vazamentos não tivesse efeitos jurídicos. A delação de corrupção da Odebrecht com a Venezuela poderia causar revolta no país vizinho, na avaliação dos procuradores.
No caso de envolvimento do procurador baiano, Vladimir Aras teria pedido ajuda aos integrantes da Lava Jato para receber dois procuradores venezuelanos que viriam ao Brasil em segredo para trabalhar com eles no caso em que a Odebrecht reconheceu ter pago propina para fazer negócios em 11 países além do Brasil, incluindo a Venezuela.
Dois membros da força-tarefa de Curitiba se dispuseram a hospedar os colegas estrangeiros em suas casas por alguns dias, o que foi visto como uma oportunidade para o ponta pé inicial do vazamento das informações da delação da Odebrecht sobre o país vizinho.
Entretanto, o acordo fechado pela Odebrecht, assinado com autoridades brasileiras, dos Estados Unidos e da Suíça, estabelece que as informações só poderiam ser compartilhadas com investigadores de outros países se eles garantirem que não tomariam medidas contra a empresa e os executivos que se tornaram delatores.
Depois da visita dos dois procuradores venezuelanos a Curitiba, A ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz, deposta do cargo por Maduro, publicou em seu site na internet dois vídeos com trechos de depoimentos do ex-diretor da Odebrecht na Venezuela Euzenando Azevedo, sobre contribuições feitas pela empreiteira para campanhas eleitorais de Maduro.
Os advogados da empreiteira baiana questionaram a Lava Jato após o vazamento. O episódio foi discutido pela força tarefa no Telegram. O procurador Paulo Galvão sugeriu que Vladimir Aras ou Orlando Martello poderiam ter sido os responsáveis pelo vazamento. “Nos não passamos…”, escreveu Galvão aos colegas. “Só se foi Vlad. Ou Orlando, escondido.” Os dois eram participantes do grupo de mensagens, mas ficaram em silêncio.