Sem apresentar nenhum documento, a autoridade eleitoral da Venezuela ratificou, ontem, a vitória do presidente Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho. Para a oposição, que convocou mais uma jornada de manifestações para hoje, nas principais cidades do país, o processo eleitoral foi fraudado. O último boletim do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — controlado pelo governo —, lido pelo presidente Elvis Amoroso, atribuiu a Maduro 6,4 milhões de votos (52%), contra 5,3 milhões do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia (43%).
O resultado confirma a vitória anunciada no domingo pelo próprio Maduro, para um terceiro mandato de seis anos. Apesar do anúncio oficial do resultado das eleições, países como Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica, Peru e Panamá reconheceram Urrutia como vencedor do pleito.
Maduro, de 61 anos e no poder desde 2013, também convocou para hoje o que chamou de “a mãe de todas as marchas para celebrar a vitória”. “Vamos fazer uma grande mobilização, um grande show pela paz”, declarou em discurso no Palácio Miraflores, em Caracas.
A líder da oposição María Corina Machado — impedida pelo regime de disputar a Presidência —, também espera mobilizar os opositores de Maduro. “Devemos permanecer firmes, organizados e mobilizados com o orgulho de termos alcançado uma vitória histórica em 28 de julho e a consciência de que vamos até o fim para reivindicá-la”, disse ela, que informou estar vivendo na clandestinidade por causa das ameaças que recebe.
Não se sabe, ainda, se González Urrutia também está escondido. A última aparição pública do candidato foi na terça-feira, ao lado de Machado, em uma manifestação que atraiu milhares de pessoas em Caracas.
Elvis Amoroso, próximo ao chavismo, apresentou o último boletim do CNE em um pronunciamento na televisão. O site do conselho está fora do ar desde a noite da eleição, e não há acesso aos detalhes da apuração. A oposição e vários países, como Colômbia, México e Brasil, além da União Europeia, exigem transparência nos resultados.
Elvis Amoroso creditou a falta de transparência a ataques de hackers na rede do órgão responsável pelo processo eleitoral. “Ataques cibernéticos em massa de diferentes partes do mundo contra a infraestrutura tecnológica do Poder Eleitoral e das principais empresas de telecomunicações do Estado retardaram a transmissão das atas e o processo de divulgação dos resultados”, explicou o presidente do CNE, que já havia feito denúncias neste sentido.
O especialista eleitoral Eugenio Martínez não acredita na teoria do ataque cibernético. Os hackers “teriam que ter invadido 15 mil linhas de transmissão criptografadas”, explicou ele.
Repressão
María Corina Machado lançou nesta semana um site com cópias de 84% das atas de votação que foram acessadas pelos fiscais da oposição no último domingo. Para ela, são “provas irrefutáveis” da vitória de Urrutia. O chavismo ignora os documentos e afirma que as cópias são falsas.
Os protestos que eclodiram na segunda-feira em repúdio aos resultados já deixaram, pelo menos, 11 civis mortos, segundo organizações de defesa dos direitos humanos. O Ministério Público venezuelano relata mais de mil presos que, segundo o presidente Maduro, serão transferidos para duas prisões de segurança máxima.
Maduro e outros candidatos que disputaram as eleições presidenciais compareceram, ontem, à sede do Tribunal Supremo de Justiça. González Urrutia, que tinha uma cadeira reservada à direita de Maduro, não compareceu. A oposição considera que não é competência do Supremo Tribunal certificar os resultados eleitorais.
Oposição nas ruas
A líder da oposição María Corina Machado convocou, para hoje, manifestações em “todas as cidades” da Venezuela, depois de declarar que está vivendo “na clandestinidade” por causa de ameaças que diz receber desde que denunciou fraude no processo eleitoral que reelegeu Nicolás Maduro para o terceiro mandato de seis anos.
“Devemos permanecer firmes, organizados e mobilizados”, disse ela, em vídeo divulgado nas redes sociais, sem informar se participará da mobilização. “O mundo verá a força e a determinação de uma sociedade decidida a viver em liberdade”, acrescentou.
Horas antes, em um artigo de opinião publicado no The Wall Street Journal, dos Estados Unidos, a opositora anunciou que “passou à “clandestinidade” por temer por sua vida e liberdade. María Corina diz que seu candidato, o diplomata Edmundo González Urrutia, obteve uma “vitória esmagadora” e que tem como provar que os resultados divulgados ontem pelo Conselho Nacional Eleitoral são falsos.
Protesto na ONU
Em Nova York, dezenas de venezuelanos participaram de um protesto em frente à sede das Nações Unidas contra o processo eleitoral que reelegeu Nicolás Maduro. “Clamamos à comunidade internacional e exigimos de cada governo da região que reconheça e respeite a vontade de um povo que decidiu viver em liberdade, que decidiu voltar à democracia e que reivindica a paz e a justiça que tanto merecemos”, disse Erick Rozo, um dos coordenadores da manifestação. Os venezuelanos prometem fazer uma nova manifestação, hoje, na Times Square, em apoio aos protestos que ocorrerão nas principais cidades venezuelanas.