Uma eventual vitória de Marine Le Pen, candidata de extrema-direita na eleição presidencial na França, representaria conforme Reuters e Jamil Chade, colunista do UOL, uma ameaça para o projeto do Brasil de conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Le Pen defende que haja uma ampliação no principal órgão de segurança do mundo e criado após a Segunda Guerra Mundial. Mas insiste que tal ampliação deveria incluir num primeiro momento apenas a Índia e um país africano. Seria só num segundo momento que uma vaga poderia ser destinada para a América do Sul, sem qualquer garantia de que isso signifique um lugar para o Brasil.
Entre os mais críticos dentro do governo, a postura de Le Pen deve ainda ser lida como resultado da perda de credibilidade internacional do Brasil, após anos desastrosos de uma diplomacia que fez do país um ator irrelevante no cenário global.
A representante da extrema-direita compartilha muitas das ideias de Jair Bolsonaro e vem adotando uma postura similar no que se refere ao ataque contra a imprensa e ativistas de direitos humanos.
As sondagens apontam que Le Pen teria uma votação recorde para a extrema-direita no segundo turno das eleições presidenciais na França, no final do mês. Hoje, porém, ela ainda está com oito pontos percentuais abaixo de Emmanuel Macron, o atual presidente.
Macron e Bolsonaro trocaram farpas ao longo dos últimos anos e uma vitória de Le Pen seria comemorada pelo setor mais radical do bolsonarismo. Mas, dentro do Itamaraty, uma ala da diplomacia já identificou que uma eventual vitória de Le Pen nas eleições não significaria uma posição mais confortável para o Brasil em sua busca pela vaga no Conselho da ONU.
Criado em 1945, o órgão conta com cinco membros permanentes e com direito ao veto: Rússia, China, França, Reino Unido e EUA. Mas, desde os anos 90, uma pressão é feita para que haja uma reforma capaz de atualizar o Conselho a uma formação que seja mais representativa do mundo atual.
Numa manobra diplomática de impacto importante, Brasil, Alemanha, Índia e Japão se uniram para pedir que houvesse uma ampliação do Conselho da ONU para esses quatro países. Ao longo dos anos, o movimento veio ganhando força e obtendo o respaldo de diferentes regiões.
Para que haja uma reforma, os cinco países permanentes do Conselho terão de dar sua chancela. Em 20212, por exemplo, o governo do então presidente da França, François Hollande, anunciou seu apoio à campanha do Brasil em favor da reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. A confirmação de apoio ao pleito do Brasil foi dada pelo então ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, durante reunião com o então chanceler brasileiro, Antonio Patriota, em Paris.
Mas, sob um eventual governo de Le Pen, essa realidade seria transformada. Numa coletiva de imprensa na semana passada, a candidata confirmou que, “para dar nova legitimidade” ao Conselho, sua proposta é a de relançar a ideia de sua ampliação. Mas ela deixou claro quem estaria na lista de suas prioridades.
“Penso na Índia e num país africano”, disse Le Pen. “E, em momento posterior, um representante da América do Sul”, afirmou.
A candidata admite que o projeto vai ser “difícil de ser implementado”. Mas insistiu que sua proposta tem como meta “reequilibrar as relações interacionais”.
Outra surpresa por parte de Le Pen ao fazer tal proposta é o fim de um apoio à candidatura da Alemanha.
Entre funcionários do Planalto, a vitória da extrema-direita na França seria um retrocesso com duras consequências no pleito do Brasil na ONU.
Em primeiro lugar, tal postura reabre as esperanças de Argentina e outros vizinhos de que a América do Sul receba um assento permanente rotativo entre seus países, retirando do Brasil a pretensão de ser membro permanente.
Uma segunda consequência negativa seria ver a Índia e África assumir a dianteira, deixando a América do Sul – e o Brasil – sob o risco de ficar a ver navios.