O homem executado a tiros na frente da esposa e do filho em Santos, no litoral de São Paulo, não é esloveno. Dejan Kovac, como fora identificado inicialmente, era na verdade o sérvio Darko Geisler, procurado pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). Ele é suspeito de ser matador de aluguel.
Ele foi executado na Rua São José, no bairro Embaré, em Santos. O sérvio chegou a ser resgatado consciente pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas sofreu uma parada cardiorrespiratória a caminho da Santa Casa de Santos e morreu.
Momentos antes da confirmação sobre a identidade do homem pela Polícia Civil, que registrou detalhes da investigação em um boletim de ocorrência, a esposa de Darko Geisler afirmou ao g1 que a vida pregressa dele “não lhe dizia respeito”.
Marceneiro e matador de aluguel
A equipe de reportagem havia apurado que o homem trabalhava no Brasil como marceneiro. Vizinhos e a funcionária de uma panificadora local o definiram como uma pessoa “reservada” e “tranquila”.
O registro da Polícia Civil, porém, apontou que o nome de Darko Geisler constava na lista de ‘difusão vermelha’ da Interpol como suspeito de ser “matador de aluguel”.
Outros crimes
Ainda de acordo com o boletim de ocorrência da Polícia Civil, contra Darko Geisler havia uma ordem de prisão internacional. Ele era integrante de uma organização criminosa que atua na Sérvia, segundo o registro, e era suspeito de cometer homicídios, além de portar armas e explosivos em Montenegro.
Darko Geisler estava na lista de Difusão Vermelha, também conhecida como ‘red notice’, da Interpol.
Ela permite a prisão da pessoa que está em um país estrangeiro. Portanto, é válida para a detenção de quem está no Brasil e tem a custódia decretada em outro país, como é o caso de Darko, que vivia com documentos falsos.
A equipe de reportagem apurou que o nome e a foto dele deixaram de ser exibidos na lista de difusão vermelha da Interpol após a execução.
Repercussão internacional
A execução de Darko Geisler repercutiu na imprensa internacional. O site sérvio ‘Bric’ publicou sobre a suspeita de que ele teria usado uma identidade falsa no Brasil.
Ainda de acordo com o site, foi especulado na mídia internacional que Darko Geisler sequer estaria vivo, uma vez que “todos os vestígios dele teriam sido perdidos” após um assassinato cometido em dezembro de 2014.
Identidade falsa
Conforme registrado no boletim de ocorrência, a Polícia Civil passou a investigar a identidade do homem logo após a execução. A corporação colheu provas testemunhais que trouxeram dúvidas sobre a origem dele, ‘confirmada’ inicialmente por um passaporte de nacionalidade eslovena.
A Polícia Civil informou ter entrado em contato com o consulado esloveno em Brasília, onde confirmou que os dados não remetiam a nenhuma pessoa daquele país.
Assim que os investigadores enviaram uma cópia do passaporte ao consulado, o órgão informou que ele pertencia tinha sido perdido por um cidadão em 2017. O documento, inclusive, foi cancelado.
A Polícia Civil concluiu que a vítima da execução em Santos não era o esloveno Dejan Kovac, mas sim uma pessoa até então “desconhecida”. A corporação localizou uma publicação em um site sérvio que mostrava um homicídio cometido por uma pessoa com traços “idênticos” aos do homem.
Foi quando acionaram o Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol) e também a Interpol. Segundo o BO, após tratativas com as autoridades sérvias, a corporação confirmou a identidade da vítima da execução como sendo de Darko Geisler
O que a polícia ainda investiga
A Polícia Civil, agora, investiga a vida do homem antes conhecido como Dejan Kovac no Brasil.
Assassinato
O homem foi morto a tiros na frente da esposa e filho pequeno. Um vídeo, obtido pelo g1, mostra a criança em uma cadeirinha na bicicleta caindo no chão após a vítima ser executada (assista abaixo).
Nas imagens, é possível ver a vítima chegando de bicicleta ao prédio com o filho e a esposa, que aparece de vermelho em outra bike. Em seguida, um homem aparece por trás de Darko e atira algumas vezes antes de fugir.
De acordo com a PM, a corporação foi chamada para atender a ocorrência às 19h46. Inicialmente, o chamado citava que o autor dos disparos teria passado de bicicleta pelo local e atirado contra a vítima. Posteriormente, foi repassado que um carro preto teria sido utilizado no crime. As imagens não confirmam nenhuma das versões.
Pessoa ‘reservada’
Uma fonte da Polícia Civil informou ao g1 que o homem trabalhava no Brasil como marceneiro. Vizinhos e a funcionária de uma panificadora local definiram o homem como uma pessoa “reservada” e “tranquila”.
À repórter Yasmin Braga, da TV Tribuna, afiliada da Globo, moradores vizinhos informaram que o homem tinha um comportamento tranquilo, que não levantava suspeitas. Ele morava há quatro anos com a esposa e o filho.