Para contornar as dificuldades de divulgar positivamente uma proposta impopular de reforma da Previdência, a equipe econômica do governo tem começado a mobilizar parlamentares favoráveis ao texto para ajudar nas redes sociais.
O secretário especial que cuida do assunto, Rogério Marinho (na foto acima), tem enviado por WhatsApp para deputados com fortes bases na internet conteúdos sobre a reforma para serem compartilhados.
Deputados do DEM e do Novo, por exemplo, estão recebendo vídeos explicando pontos da reforma ou refutando críticas a ela, além de pedidos de ajuda para impulsionar tuítes.
Em um dos vídeos enviados, o deputado Vinicius Poit (Novo-SP) “desbanca as cinco principais mentiras sobre a reforma da Previdência”. Em outro, dois youtubers do “Canal do Por Quê?” explicam a reforma, sob o título de “Um mito, um problema e política na reforma da Previdência”.
Em outro front, Marinho pediu a deputados que ajudassem a impulsionar, por exemplo, uma postagem em que compartilha uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo que mostrou que servidores com altos salários pretendem ir ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a alíquota proposta de até 22%.
“Mais uma demonstração de que a proposta apresentada na Câmara é justa”, escreveu ele na postagem.
Na sexta-feira (1º), o secretário participou de uma transmissão ao vivo com a deputada Bia Kicis (PSL-DF) para apresentar os argumentos a favor das mudanças.
Em reuniões com parlamentares, Marinho tem distribuído um panfleto com os principais pontos da reforma da Previdência.
O material foi produzido pelo governo e defende o modelo proposto para o valor assistencial pago a idosos em condição de pobreza, o BPC (Benefício de Prestação Continuada).
Esse é um dos itens mais criticados por parlamentares, que já avisaram aos interlocutores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) da necessidade de revisão.
Na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma, o presidente incluiu um novo formato do BPC. Atualmente, quem completa 65 anos tem direito a receber um salário mínimo (R$ 998).
Mas o governo quer pagar R$ 400 para pessoas a partir dos 60 anos de idade. O valor seria equivalente a um salário mínimo a partir dos 70 anos.
No panfleto, o governo argumenta ainda que a reforma prevê uma idade mínima para todos os trabalhadores e que servidores públicos, militares e políticos também vão contribuir para a meta de ajuste nas contas públicas.
Apesar do engajamento da equipe econômica, tem irritado deputados o fato de Bolsonaro estar divulgando pouco a sua própria proposta.
Com base extensa nas redes sociais, que foram amplamente usadas durante a campanha, ele não tem usado as plataformas para falar de Previdência.
Com o clima já acirrado entre parlamentares e governo, nos corredores do Congresso a reclamação é que o Executivo parece não querer colocar sua marca em uma votação altamente impopular nas bases.
Na reunião de terça-feira (26), o líder do MDB, Baleia Rossi (SP), sugeriu que o presidente passe a fazer um post diário defendendo a reforma.
Os demais deputados seguiram o mesmo tom, afirmando que Bolsonaro tem de assumir o papel de garoto-propaganda das mudanças na aposentadoria.
A campanha publicitária da reforma foi iniciada na semana passada, assim que o governo entregou a PEC.
Com o mote “nova Previdência é para todos; é melhor para o Brasil”, ela não agradou parte da equipe econômica. Agora, espera-se que Bolsonaro volte a fazer transmissões ao vivo em redes sociais e, desta vez, para falar sobre as mudanças nas aposentadorias.