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Lula durante reunião ministerial nesta quinta-feira (8). — Foto: Ricardo Stuckert / PR
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sexta-feira 9 de agosto de 2024 às 11:47h

Veto a ataques e obrigação de defender a gestão: entenda os recados de Lula para ministros sobre as eleições municipais

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Em reunião ministerial ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou preocupação com a possibilidade tanto de as eleições municipais quanto da disputa pelo comando da Câmara e do Senado provocarem fissuras na base aliada e afetarem o funcionamento do governo. Partidos que integram sua gestão vão se enfrentar em diversas capitais em outubro e, na sucessão no Congresso, os principais candidatos buscam o apoio do Palácio do Planalto. As informações são do jornal, O GLOBO.

Embora tenha conseguido aprovar boa parte da agenda econômica no Legislativo em seu terceiro mandato, o Executivo sofreu derrotas em temas relacionadas aos costumes e ainda precisa dar prosseguimento à pauta do ajuste fiscal e das contas públicas.

Lula ressaltou durante a reunião que os integrantes do governo não podem subir em palanques nas eleições de candidatos que ataquem o governo federal. De acordo com participantes, o petista enfatizou, na parte fechada da reunião, que se forem entrar nas campanhas municipais, os ministros têm o dever de defender a gestão da qual fazem parte.

O presidente avisou que participará de poucos pleitos em outubro, mas não especificou quais. Até o momento, ele compareceu nas convenções de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo; Evandro Leitão (PT) em Fortaleza; e Luiz Fernando em São Bernardo (SP).

Lula também recomendou aos ministros que evitem criar atritos com siglas aliadas. Nesse momento, o petista citou como exemplo a sua postura na disputa de São Paulo. Disse que quando vai à capital paulista fala bem de Guilherme Boulos (PSOL), mas não fala mal de Tabata Amaral (PSB) nem de Jose Luiz Datena (PSDB). O PSDB não faz parte da base.

— Nem do prefeito de São Paulo eu falo mal — acrescentou Lula, se referindo a Ricardo Nunes (MDB), apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O partido de Nunes, o MDB, tem três ministérios no governo e os parlamentares da sigla têm seguido as orientações do governo em votações no Congresso. Além disso, a cúpula nacional da legenda está envolvida na campanha da capital. O presidente e deputado federal Baleia Rossi, por exemplo, é o coordenador-geral da candidatura.

Lula recomendou que os seus ministros tenham a mesma postura que ele tem tido em São Paulo nas demais disputas pelo país. Ressaltou também que continuará a comandar o Brasil depois de outubro, dando a entender que as disputas municipais não podem criar rusgas que atrapalhem a continuidade do governo.

— Ele orientou que os ministros, cada um do seu partido, tem absoluta liberdade para escolher os candidatos. Mas aconselhou que os ministros fizessem elogios aos seus candidatos e não fizessem críticas ou ofensas aos adversários, independente de ser ou não da base. Mesmo que não esteja falando no cargo de ministro, simboliza o governo — afirmou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, após a reunião.

A preocupação de Lula com o pleito tem a ver com a complexidade de alianças nas capitais. O União Brasil, por exemplo, cujos parlamentares indicaram o comando das pastas de Desenvolvimento Regional, Turismo e Comunicações, só vão estar na mesma aliança que o partido de Lula em Recife, onde os dois partidos apoiam a reeleição do prefeito João Campos (PSB), e em São Luís, onde as legendas apoiam Duarte Júnior (PSB).

Em Belém, os ministros Celso Sabino (Turismo) e Jader Filho (Cidades), que é do MDB, vão apoiar Igor Normando (MDB), que irá rivalizar com o prefeito Edmilson Filho (PSOL), apoiado pelo PT.

Já o PP, do ministro dos Esportes, André Fufuca, vai estar na mesma aliança que o PT em São Luís, capital do estado do ministro, e em Fortaleza, onde apoiam o nome de Evandro Leitão (PT).

Em todas as outras 24 capitais, incluindo colégios eleitorais importantes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador, o PP vai rivalizar com o PT nas eleições municipais.

No Republicanos, cujo representante na Esplanada dos Ministérios é Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), são apenas três cidades onde há aliança com o PT: Recife, Fortaleza e Rio Branco.

Já no MDB e no PSD há um número maior de alianças, mas elas não chegam a representar nem metade das capitais. O MDB vai estar com o PT em sete cidades e o PSD em oito.

Sobre a possibilidade de uma reforma ministerial, sempre levantada por congressistas que defendem um reforço na articulação política, Lula afirmou que “não se mexe em time que está ganhando”.

— Estou muito satisfeito com o trabalho. Todo mundo sabe que quem troca sou eu. Como fui eu que indiquei, se tiver que trocar, eu vou trocar, mas quero dizer para vocês que eu não estou pensando nisso. Em time que está ganhando a gente não mexe, a gente continua o jogo para terminar com uma vitória robusta.

Acirramento

Em meio ao acirramento da campanha interna no Congresso, Lula também afirmou que é preciso “cautela” para que as trocas na presidência da Câmara e do Senado não afetem o funcionamento do governo. No início do ano que vem, os deputados vão eleger o sucessor de Arthur Lira (PP-AL), enquanto os senadores se reunirão para definir o substituto de Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

— Temos uma Câmara que vai trocar de presidente, um Senado que vai trocar de presidente, e tudo isso tem que ter muita cautela para que não tenha nenhuma incidência no funcionamento do governo.

Por enquanto, a situação no Senado está mais encaminhada, com a tendência de o governo apoiar Davi Alcolumbre (União-AP), visto como favorito para a vaga. Na Câmara, por sua vez, o cenário é mais embolado. Há três candidatos considerados mais fortes: Elmar Nascimento (União-BA), Antônio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

O Palácio do Planalto ainda não definiu a atuação e calcula os riscos para evitar uma derrota do governo em fevereiro de 2025. Lira, por sua vez, tenta construir um nome de consenso entre base, governo e oposição.

Os principais embates

União Brasil – O União Brasil, que tem o comando dos ministérios do Desenvolvimento Regional, do Turismo e das Comunicações, só vai estar na mesma aliança que o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Recife, onde os dois partidos apoiam a reeleição do prefeito João Campos (PSB), e em São Luís, onde as duas legendas apoiam a candidatura de Duarte Júnior (PSB). O partido vai estar do lado oposto ao PT em 22 capitais e em outras duas —Macapá e Palmas —não fará parte da coligação de nenhuma candidatura a prefeito.

Progressistas (PP) – Da mesma forma, o PP, do ministro dos Esportes, André Fufuca, vai estar na mesma aliança que o PT em São Luís, capital do estado do titular da pasta, e em Fortaleza, onde apoiam o candidato petista, Evandro Leitão. Em todas as outras 24 capitais, incluindo colégios eleitorais importantes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador, o PP vai rivalizar com o PT nas eleições municipais de outubro. Assim como o União Brasil, o partido apoiou o governo de Jair Bolsonaro e é rachado, mesmo integrando a gestão Lula.

Republicanos – No Republicanos, cujo representante na Esplanada dos Ministérios é Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), são apenas três cidades onde há aliança com o PT — Recife, Fortaleza e Rio Branco. Por outro lado, a sigla fechou coligação com o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro em 12 capitais. Dessas, o PL encabeça a chapa no Rio de Janeiro, com Alexandre Ramagem; em Maceió, com JHC; e em Palmas, com Janad Valcari. O PL tem a vice da candidata do Republicanos em Macapá, Aline Gurgel, numa dobradinha que demonstra a afinidade entre as agremiações.

MDB – Em Belém, o ministro Jader Filho (Cidades), emedebista, apoiará o correligionário Igor Normando. Ele vai rivalizar com o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), apoiado pelo PT. O partido também fez alianças com bolsonaristas, como é o caso do Rio, com Alexandre Ramagem (PL), que irá concorrer contra o prefeito Eduardo Paes (PSD), e em São Paulo e Porto Alegre, onde os prefeitos Ricardo Nunes e Sebastião Melo têm apoio do ex-presidente. Em Campo Grande, foi definido apoio a Beto Pereira (PSDB), que tem a vice do PL. Pelo PT a representante é Camila Jara.

PSD – Em Belo Horizonte, o PSD do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ex-senador por Minas Gerais, apoia o atual prefeito Fuad Noman (PSD). Ele irá disputar o pleito contra Rogério Correia (PT). O PSD também lançou Daniel Coelho como candidato no Recife, que concorrerá contra o prefeito João Campos, apoiado pelo PT. Na capital de Pernambuco, o ministro da Pesca, André de Paula, fazia parte da base de Campos, mas a sigla desembarcou após articulação da governadora Raquel Lyra (PSDB). Há conversas para que ela seja filiada à legenda.

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