Para que servem os partidos políticos? Segundo a coluna de Josias de Souza, antes da aprovação em primeiro turno da proposta de emenda constitucional que cria um Bolsa Reeleição de R$ 91,6 bilhões para Bolsonaro alguém que apresentasse uma proposta de dissolução dos partidos seria aplaudido. Depois do que aconteceu no plenário da Câmara na madrugada de quinta-feira, o hipotético autor de um projeto de extermínio das legendas seria aclamado em praça pública.
As cúpulas partidárias perderam o restinho de controle que imaginavam ter sobre suas bancadas. Na prática, cada deputado virou líder de si mesmo. Nem pagos, os partidos do centrão votaram maciçamente a favor da proposta. Mas quem livrou Bolsonaro da derrota foram as legendas que se dizem oposicionistas ou independentes. Espetada no déficit público, a conta da infidelidade foi alta.
Deputados de legendas que cogitam lançar candidatos ao Planalto votaram de costas para os projetos dos seus presidenciáveis. O mapa da votação contém dados constrangedores para os críticos de Bolsonaro. O capitão precisava de 308 votos para prevalecer. Obteve 312. Apenas quatro votos de lambuja.
O PSDB de Doria e Leite deu 22 votos a Bolsonaro. O PDT de Ciro ofereceu ao Planalto 15 votos. O PSD de Pacheco, 29. O Podemos de Moro, 5. O MDB de Simone Tebet, 10. Quer dizer: qualquer uma dessas hipotéticas legendas poderia ter derrotado o capitão, forçando-o a ajustar seu populismo ao teto.
Tomados pelos seus programas, a maioria dos partidos representa os mais louváveis valores da humanidade. Evoluem sem sentir para a defesa de grupos e corporações. E terminam virando estruturas vazias, sem conteúdo.
Os partidos perderam a função. A própria política tornou-se irrelevante. Não há ideias nem projetos alternativos. As épocas têm trilhas sonoras. Na política, a trilha sonora da redemocratização é o tilintar de verbas. Donos do próprio nariz, os parlamentares são a favor de tudo e contra qualquer outra coisa, desde que seus interesses sejam contemplado$.