O setor petroquímico corre risco de sofrer um processo de reestatização, caso vá a frente a proposta da Unipar de aquisição da participação da Novonor (antiga Odebrecht) na Braskem.
O negócio pode levar a um fatiamento da Braskem e, dessa forma, o pedaço que ficasse com a Petrobras seria, assim, estatizado. A mudança representaria um retrocesso do processo de privatização da petroquímica no Brasil.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, chegou a admitir nesta quarta-feira (14), que está em curso um “trabalho interno” para avaliar o que a empresa fará com sua participação na Braskem, incluindo uma eventual oferta igual ou superior à de R$ 10 bilhões feita pela Unipar pela fatia da Novonor. Prates disse estar confortável na questão da venda da Braskem, já que tem direito de preferência em uma eventual compra das ações.
A presença do Estado poderia representar um incômodo a empresas que decidissem entrar no setor. Dada a desproporção de tamanho entre Unipar e Braskem, haveria pouca chance de a empresa paulista adquirir 100 por cento da maior empresa petroquímica do país e a Petrobras dificilmente se desfazeria de sua participação. A Unipar acabaria tendo que fatiar a Braskem, e assim uma parte voltaria para a Petrobras.
A diferença entre Braskem e Unipar é gritante : em 2021, a primeira registrou receita líquida de R$ 105 bilhões (a primeira acima dos R$ 100 bilhões), com um Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) de R$ 30 bilhões. Já a Unipar – que em 2021 teve um ano que classificou como “excepcional” – teve receita líquida de R$ 6,29 bi, com Ebitda de R$ 3,16 bi.
A Petrobras tem vários motivos para manter-se na Braskem. A localização de certos ativos da petroquímica no Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo. No primeiro, ela tem instalações próximas à Reduc (Refinaria Duque de Caxias) e ao polo GasLub (antiga Comperj), que estão sendo integrados.
A operação precisa de passar pela barreira no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Braskem e Unipar são as duas únicas produtoras de PVC no Mercosul – a Braskem no Brasil (com plantas em Camaçari [BA], Maceió [AL] e Duque de Caxias [RJ]) – e a Unipar no Brasil e Argentina (em Cubatão [SP]) e na Argentina (em Bahia Blanca, cerca de 570 km de Buenos Aires). O “remédio” que o conselho poderia aplicar seria o desinvestimento nessa área – e a Petrobras poderia buscar interessados, devido à complexidade da cadeia de produção da resina (nesse segmento, a estatal deverá focar na produção de polietileno e polipropileno).