Como toda eleição polarizada, a votação presidencial na Argentina deve sofrer grande influência segundo Roberto Lameirinhas, do jornal Valor, da rejeição despertada tanto pelo candidato governista e ministro da Economia, Sergio Massa, da Unión por la Pátria (UxP), quanto pelo oposicionista de extrema-direita, Javier Milei, do La Libertad Avanza (LLA).
Para o segundo turno deste domingo, ambos se lançaram à busca de votos dos candidatos eliminados na primeira votação, de 22 de outubro — quando Massa obteve mais de 36% dos votos e Milei ficou com 30%. O candidato do LLA saiu em vantagem nessa busca ao obter o apoio formal da terceira colocada no primeiro turno, Patricia Bullrich, da coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio (JxC), que teve 28% dos votos.
Mas a declaração do apoio não garante transferência automática de votos. E o descontentamento com o resultado da primeira votação deve ampliar a abstenção no segundo turno.
Além disso, a eleição ocorre durante um fim de semana prolongado — a segunda-feira, dia 20, é feriado do Dia da Soberania Nacional. O voto na Argentina é obrigatório, mas a multa é barata, em torno do equivalente a US$ 1, as sanções são poucas e a regularização é fácil.
Segundo a meteorologia, domingo e segunda-feira serão de temperaturas altas na Argentina — com máximas de 29°C em Buenos Aires.
Esses são os cinco fatores que podem tirar votos de cada candidato.
– Fatores de rejeição à Massa:
1. Economia em frangalhos.
Massa está à frente da administração da economia argentina desde julho de 2022. Mas conseguiu poucos avanços em seu esforço de reduzir a inflação, que deve chegar a mais de 180% em 2023, e controlar o mercado de câmbio desde então.
2. Pouca identificação com o peronismo.
O candidato governista construiu quase toda a sua carreira política à margem do peronismo — a principal força eleitoral da Argentina há décadas, capaz de mobilizar cabos eleitorais em praticamente todos os redutos do maior colégio eleitoral do país, a Província de Buenos Aires.
3. Imagem de obsessão pelo poder.
Massa se tornou conhecido como prefeito de Tigre — município da área metropolitana de Buenos Aires — e se mostrou habilidoso em articulações até se converter em um candidato presidencial viável. O estereótipo da “raposa política”, porém, está em baixa entre os eleitores argentinos, para os quais os políticos de carreira fracassaram em melhorar suas condições de bem-estar.
4. Reputação de pouca lealdade.
O candidato governista chegou a romper com o kirchnerismo há cerca de uma década. Trocas de insultos entre Cristina Kirchner e Massa chegaram a se tornar públicas, colocando em xeque a lealdade dele em relação a seus colegas de aliança.
5. Origem direitista.
Massa iniciou sua carreira política na Ucede — União de Crentro Democrático —, hoje extinta. Depois, fundou o movimento Frente Renovador, de centro, que acabou não decolando como partido. Essa origem sempre despertou desconfiança dos movimentos sociais mais progressistas e sindicatos em relação a Massa.
– Esses são os cinco fatores que rejeição a Milei:
1. Programas pouco viáveis.
Especialistas consideram que duas das principais bandeiras da campanha de Milei são inviáveis. O fechamento do Banco Central dependeria de um apoio do Congresso que ele não tem para mudar a Costituição. E a dolarização da economia exigiria um volume de pelo menos US$ 60 bilhões, segundo estimativas mais otimistas, dos quais o país não dispõe.
2. Excesso de ideologização.
Milei apresenta, em nome de ‘não negociar com comunistas’, ataques diretos a dois dos principais parceiros comerciais da Argentina: a China e o Brasil. Na campanha do segundo turno, sua equipe procurou amenizar suas declarações, mas elas seguem causando temor em empresários.
3. Liberalização radical.
Milei conquistou o eleitor jovem com seu discurso “libertário radical”. Isso incluiria a liberação do comércio de órgãos humanos e o de armas para a população civil — proposta que, na Argentina, tem mais rejeição do que no Brasil ou em outros países.
4. Aliança com Bullrich e Macri.
Após anos criticando a ‘casta de políticos’, Milei obteve no segundo turno apoio do ex-presidente Mauricio Macri e da candidata derrotada da centro-direita Patricia Bullrich — a quem tinha chamado de “guerrilheira assassina”. Muitos de seus eleitores protestaram nas redes sociais.
5. Discurso ‘antiargentino’.
Ao longo de sua carreira cheia de declarações polêmicas, Milei qualificou o argentino papa Francisco de “comunista sem vergonha” e postou nas redes sociais sua opinião de que “Pelé é maior que Maradona” — quase uma blasfêmia para os argentinos. No último debate, foi cobrado por Massa sobre suas declarações de simpatia por Margaret Thatcher, a “inimiga número 1” da Argentina desde a Guerra das Malvinas.