Pesquisa conduzida por universidade de Londres com pacientes de 16 países mostra também que 98% dos infectados são gays ou bissexuais, 75% são da cor branca e 41% são portadores de HIV. Maioria dos casos foi leve. Um estudo publicado nesta quinta-feira (21) pelo New England Journal of Medicine mostra que 95% dos casos estudados de varíola dos macacos foram transmitidos através de relações sexuais.
A pesquisa foi liderada por cientistas da Universidade Queen Mary, de Londres, que analisaram 528 infecções confirmadas, em 43 locais de 16 países, entre 27 de abril e 24 de junho de 2022.
Segundo o estudo, 98% dos pacientes eram homens gays ou bissexuais, 75% eram brancos e 41% tinham HIV. Com idade média de 38 anos, e o número médio de seus parceiros sexuais nos três meses anteriores à infecção foi de cinco. Cerca de um terço tinha frequentado festas sexuais ou saunas no mês anterior à manifestação da doença.
O estudo também mostrou que os pacientes de varíola dos macacos têm apresentado sintomas anteriormente não relacionados ao vírus, como lesões genitais únicas e feridas na boca e no ânus.
Sintomas semelhantes a DSTs
Muitos dos sintomas são semelhantes aos de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e podem levar a erros de diagnóstico, advertem os pesquisadores.
“É importante enfatizar que a varíola não é uma infecção sexualmente transmissível no sentido tradicional. Ela pode ser adquirida através de qualquer tipo de contato físico próximo. No entanto, nosso trabalho sugere que a maioria das transmissões até agora está relacionada principalmente à atividade sexual, mas não exclusivamente, entre homens que praticam sexo com homens”, explicou o principal autor do estudo, John Thornhill.
Os pesquisadores enfatizam, porém, que a varíola dos macacos também pode ser transmitida pelo contato com gotículas respiratórias, roupas ou superfícies.
“A maioria dos casos foi leve e autolimitada, e não houve mortes. Embora 13% tenham sido hospitalizados, nenhuma complicação grave foi relatada na maioria dos internados”, e a maioria das internações foi para gestão da dor.
O DNA do vírus da varíola dos macacos estava presente no sêmen de 29 de 32 testados. Apesar disso, ainda não está claro se se trata de uma via de transmissão a doença.
EUA temem DST
Em contraste com o estudo de Londres, as sutoridades de saúde dos EUA temem que a varíola dos macacos esteja prestes a se tornar uma DST, como gonorreia, herpes ou HIV, embora ainda não haja um consenso entre os especialistas sobre o futuro da doença.
Mais de 2.400 casos foram relatados nos EUA desde o começo do surto global, em 2022. As autoridades têm informações limitadas sobre a propagação da doença, mas temem sua disseminação durante o verão.
Rochelle Walensky, diretora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), informou que a resposta do governo dos EUA está crescendo a cada dia, e que os estoques de vacinas aumentarão em breve. “Acho que ainda temos uma oportunidade de contê-la”, comentou.
No Brasil, até esta quinta-feira o Ministério da Saúde havia contabilizado 592 casos confirmados de varíola dos macacos, a grande maioria no estado de São Paulo.
A varíola dos macacos foi detectada pela primeira vez na década de 1970, na República Democrática do Congo, na época Zaire. Até abril de 2022, ela raramente era registrada fora de alguns países africanos onde é endêmica e geralmente transmitida por mordidas de roedores e outros animais pequenos.