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É verdade: 2020 foi difícil, mas já passamos por anos piores, acredite... / Foto: Reprodução/BBC
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segunda-feira 22 de março de 2021 às 06:47h

Variantes do coronavírus: entenda o que são e por que Brasil é ‘pesadelo’ do mundo

CURIOSIDADES, NOTÍCIAS


O país do futebol, do samba e da Covid-19. Conforme reportagem do Yahoo Notícias, o retrato da pandemia do Brasil aponta que há duas semanas é o país com mais mortes diárias por Covid-19 no mundo. No sábado (20) foram contabilizadas 2.438 mortes em 24 horas. Os dados são do Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford. No início do mês, já havia ultrapassado os Estados Unidos em número de óbitos. Desde o dia 16 de março, morrem mais pessoas de Covid-19 no Brasil do que em toda União Europeia. Em números de infectados também é do Brasil o primeiro lugar do ranking.

Mais do que isso, o Brasil se tornou um verdadeiro pesadelo para o resto do mundo: aqui estão surgindo variantes que preocupam países que já estão em estágio bem mais avançado de vacinação. Afinal, não se sabe o que os novos tipos de coronavírus podem fazer e o quanto as vacinas são eficientes contra eles. Neste artigo, você vai entender mais sobre o que se sabe até o momento sobre as variantes.

Como lidar com as novas variantes do coronavírus?

A forma de lidar com a nova variante não muda, de acordo com o médico infectologista José David Urbaéz, diretor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia do Distrito Federal e consultor da Sociedade Brasileira de infectologia.

Qual o grande problema de novas variantes?

Uma nova variante tem uma escala. Desde novembro de 2020, o Brasil tem praticamente todas as condições para ter essa nova variante. Uma vez que a variante consegue se desenvolver, epidemiologicamente se tem um problema muito sério, por quê? Porque se escalona para cima transmissibilidade e aumenta de maneira significativa o problema, que já era enorme.

Vírus mais transmissíveis têm como consequência quadros de infecções mais graves e afetam, inclusive, crianças e jovens. A variante mais recente que circula no Brasil tem o nome N9 e foi identificada por cientistas da Fiocruz na semana passada. As outras duas, chamadas de P.1 e P.2, foram identificadas há mais ou menos cinco meses e se espalharam pelo país.

O que muda com novas variantes?

O que vai mudar com essas novas variantes, segundo infectologistas, é essa demanda gigantesca para o sistema de saúde porque há um número crescente de pessoas que estão desenvolvendo quadros mais graves e que precisam de internação hospitalar e de suporte de UTI.

Apesar de falar muito em variante no Brasil, não se fala de segurança nos locais que a população precisa frequentar, como supermercados, farmácias e elevadores de condomínios.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou no dia 12 de março que o Brasil representa “um risco para todo o mundo”.

Quais são as novas variantes da Covid-19?

Há informações de que uma nova variante, a N9, já foi detectada em várias macrorregiões brasileiras, exceto no Centro-Oeste. Isso tem que ser manejado com muito cuidado porque supostamente a gente está tendo só uma variante dominante, mas tem uma outra chamada P.2 também (descoberta no Rio de Janeiro). O sistema de vigilância genômico do Brasil ainda é muito precário. Não temos um sistema epidemiológico de detecção para inferir a magnitude da circulação dessas variantes. Então, pode ser que no Brasil já existam outras variantes em desenvolvimento.

No caso da P.1 (descoberta em Manaus), estudos apontam que essa cepa do coronavírus é mais transmissível por causa mutações que sofre na região que o vírus usa para infectar as células humanas.

A transmissibilidade da P.1 também é alta, ou seja, transmite muito mais do que o vírus de 2020. Consequentemente, o número de infectados tende a ser maior.

O infectologista lembra que no atual momento da pandemia o número de vírus que se replica tende a ser infinito. E não tem como quantificar além de um certo número porque não tem mais número. Tende quase a ser infinito por conta das possibilidades gigantescas de mutações todo dia provocadas, e numa dessas o vírus descobre uma via mais perfeita para se transmitir.

Como surgiram as novas variantes?

Hoje pode-se dizer que o Brasil é um laboratório a céu aberto, como falaram vários outros pesquisadores, de evolução do vírus em todas as suas dinâmicas. É uma ameaça para o mundo porque aqui há uma variedade de variedades, sabe-se lá até quando e como e por onde elas terão consequências que nunca vão ser quando variável, se entra como dominante. Tudo isso porque foi uma variável que conseguiu descobrir vantagens para ela.

Praticamente, todos os dias existem variantes. Mas habitualmente, conforme detalha o infectologista, as variantes têm mutações não dão vantagem alguma. Já quando há uma variante que apresenta alguma vantagem ela começa a “andar melhor”.

Na prática, todos os dias as pessoas estão na presença de novas variantes, mas nem todas “vingam” e, consequentemente, não se manifestam.

Mas em algum momento acontece como no velho ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. O país tem potencial de desenvolvimento de variantes que em algum momento pode colocar em risco a estratégia de vacinação contra a Covid-19. Felizmente, ainda não se tornou uma ameaça. Mas se continuar dessa forma é provável que aconteça.

Onde surgiram as novas variantes?

Existe uma sensação de que o primeiro – e talvez o mais grave – fator que deflagrou a segunda onda devastadora em Manaus foi a falta de medidas de restrição. Passada a primeira onda da pandemia, as pessoas circulavam livremente. Outro ingrediente para se somar a esse caos a falta de uma estrutura de assistência suficiente para uma hecatombe dessas.

Então, criaram-se condições de uma onda muito grande e depois de um tempo os anticorpos já não funcionavam. Tudo isso se soma e pode-se dizer que foi feito de tudo para que a variante aparecesse. Mas nunca pode dizer que um fenômeno epidemiológico de uma alça de ampliação muito grande tenha apenas um componente. A variante é um componente importante, mas o que se repara na população, infelizmente, é que há uma tendência a querer simplificar tudo que está acontecendo neste ano com a pandemia de Covid-19 no Brasil. Todo horror diariamente vividos, toda catástrofe com média de 2 mil mortes diariamente, toda essa tragédia não podem ser creditadas a uma variante. Não é de maneira alguma. A variante apenas se somou ao péssimo manejo da pandemia.

Até o dia 12 de março, segundo o boletim do Imperial College de Londres, no Reino Unido, a taxa de transmissão no Brasil estava em 1,14. Isso significa que cada 100 pessoas com o vírus no país infectam outras 114.

Poderemos viver a pandemia para sempre?

Às vezes, muitos especialistas de saúde, como o infectologista José David Urbaéz, têm a sensação de paralisia, de que a pandemia está bem longe de terminar. Mas aflora então a esperança defendida pelo educador Paulo Freire (1921-1997).

“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar”, diz o médico.

O Brasil tem um poder do SUS, tem médicos e enfermeiros competentes, pesquisadores muito bons, um sistema universitário muito poderoso. O Brasil tem a Fiocruz e o Instituto Butantan. Pela luz da esperança, haverá um encaminhamento. Acrescentam-se ao sentimento de esperança as experiências bem sucedidas como HIV, doenças de transmissão viral de todos os tamanhos, todos os sabores, de todas as cores. Em algum momento vai dar certo, mas talvez este fique longe do tempo ideal.

Enquanto isso, às vésperas de abril, ainda não é possível planejar 2021. Brasil faz muito pouco para o controle da pandemia. A única cidade que parece ter tomado decisão certa e colhendo os primeiros frutos é Araraquara, interior de São Paulo. O lockdown que restringe até a venda de bebidas alcoólicas reflete na queda de ocupação de leitos hospitalares e inspira outros municípios brasileiros a seguirem o mesmo caminho.

Fato é que as medidas de controle e prevenção na maioria das cidades até agora, bem diz o médico infectologista, são mornas. E a pandemia, com o nível crítico que está agora, não pode depender de medidas mornas para frear transmissões, comprometer o sistema de saúde.

No final do ano passado, animada com o menor número de internações e mortes em todos os estados brasileiros, a população fez da queda da incidência o controle. Ilusão. O Brasil nunca esteve bem. Por avaliações técnicas dos números, das taxas, especialistas afirmam que o país permanece com altíssimas circulações virais. E havendo altíssimas circulações, com uma população solta para circular, são os suficientes para uma segunda onda pior que a primeira. Isso sem considerar a nova variante. Não é surpresa viver este cenário tão grave que a população no Brasil vive atualmente. E o pior: sem previsão de quando vai passar.

Por que as variantes são muito letais?

A nova variante é praticamente uma alça de amplificação de um problema que já é gravíssimo. É como colocar gasolina em uma fogueira. Ou seja: tornar absolutamente mais explosivo do que já era. Na prática, isso acarreta na impossibilidade de sistema de saúde, já carregado, de assumir essa demanda. E mesmo que assumisse essa demanda e conseguisse dar conta, há chance de um número grande de sequelados, um exército gigante de síndrome pós-Covid e um esgotamento da rede nos recursos humanos.

Em situações de transmissibilidade aumentada, as cargas compartilhadas como consequência são bem maiores. Então, isso é uma das hipóteses desse fenômeno que o país está vendo da maior gravidade dos acometimentos das pessoas mais jovens. As pessoas que pegam na nova variante tem um quadro mais grave. Então, isso com a P1, que é a do Brasil, se supõe que seja o mesmo processo, porque as mutações que compartilham a variante do Reino Unido com a variante no Brasil têm um padrão semelhante. Então, é de se esperar, de se prever que esses comportamentos biológicos sejam e continuem no mesmo caminho.

Chamam a atenção a África e a Ásia, que têm alto índice de contaminação e baixa taxa de mortalidade. A explicação, de acordo com o infectologista da SBI, não se trata de nenhuma fórmula mágica. É que por lá há dispositivos de controle de transmissão que são muito mais eficazes do que os nossos. No começo da pandemia, foram traçadas uma classificação de quais países se sairiam bem, quais países que não sairiam bem. O Brasil era quase o primeiro na lista dos países que se sairiam bem porque tem o Sistema Único de Saúde (SUS), possui a capilaridade da medicina primária. O SUS tem um ordenamento legal e funcional de um sistema que tem precariedades, sim, mas que funciona muito bem tanto na atenção primária quanto em alta complexidade para transplantes de órgãos, por exemplo.

O Brasil frustrou as previsões porque, para especialistas, o SUS e toda a equipe de médicos e professores não puderam fazer o que sabem. O Brasil deveria ter, pelo menos, 75% a menos no número de óbitos por Covid-19.

Na imensa maioria dos casos leves é uma infecção respiratória, é uma “gripezinha”, não tem nada para voltar. Mas tem algumas nuances disso observadas em mulheres entre 20 e 30 anos, de acordo com o infectologista. É a chamada Covid prolongada, definida como um conjunto de sintomas que se manifestam com muita intensidade, dor de cabeça importante, lacunas no pensamento, fadiga persistente, alterações do humor, com muita ansiedade e quadro de depressão. Isso pode ocorrer mesmo em quem teve um caso leve sem alteração pulmonar ou outra complicação.

Quando se fala de casos graves – que são aqueles que precisaram de suporte de oxigênio – o dano avançou mais na estrutura pulmonar e respiratória e a infecção saiu do pulmão e começou a ter todo um acometimento dos outros sistemas. Nestes casos, atinge-se um patamar de situações que são mais sérias, porque pode ter sequelas pulmonares, evidentemente.

Mas um paciente pode ter sequelas cardíacas, que são silenciosas, assim como as renais, igualmente silenciosas. Uma pessoa que teve Covid-19 pode ter problemas musculares, com perda muscular intensa. As sequelas são diretamente proporcionais à gravidade do caso, ou seja, quem foi entubado e ficou UTI pode ter sequelas sempre. E essa sequela é um grande desafio para encarar que às vezes chega a ser tão difícil de tratar quanto a própria Covid.

Muitos não sabem, mas uma boa parte das pessoas que saiu da UTI tem risco aumentado de morte nos seis meses que se seguem a essa permanência de cuidados intensivos. Pneumonias e episódios de trombose enumeram a lista de tais riscos. Enfim, uma pessoa que foi infectada pelo Sars-Cov-2 pode ter uma série de consequências que, em última análise, diminuem a expectativa de vida desses indivíduos. Ou seja, a história não acaba quando sai da UTI e recebe alta do hospital.

História da Covid-19 no mundo

Tudo começou em 31 de dezembro de 2019, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de uma pneumonia desconhecida na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China. Era um novo tipo de coronavírus que não havia sido identificado antes em seres humanos. Sete dias depois, autoridades chinesas confirmaram um novo tipo de coronavírus. Em fevereiro de 2020, o novo coronavírus foi nomeado, recebendo o nome SARS-CoV-2. Esse tipo é o responsável por causar a doença COVID-19.

A primeira morte ocorrida em decorrência desse novo vírus aconteceu no dia 11 de janeiro de 2020. Rapidamente, a doença se alastrou. Em março de 2020, todos os continentes já haviam sido afetados. Isso levou a OMS a declarar, no dia 11 de março de 2020, que a covid-19 é uma pandemia.

A história da Covid-19 no Brasil

O primeiro caso de Covid-19 no Brasil foi confirmado em 26 de fevereiro de 2020. A primeira morte veio em 16 de março, em São Paulo, um aposentado de 62 anos. Mas o primeiro óbito por coronavírus foi anunciado no dia seguinte. Desde então, a Covid-19 se alastrou e chegou a todos os estados brasileiros na chamada transmissão comunitária – quando não é possível saber onde contraiu – causando mortes diariamente.

No dia 8 de agosto de 2020, o número de óbitos atingiu a marca de 100 mil. No Começo de 2021, o número já havia dobrado. Também em janeiro, Manaus entrou em colapso ao viver a segunda onda da pandemia e enfrentar falta de oxigênio. Atualmente, o Brasil é o terceiro país no ranking mundial de número de casos – fica atrás de Estados Unidos e Índia. E segundo colocado em número de mortes, perdendo apenas para os Estados Unidos.

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