O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, assegurou nesta segunda-feira (27) durante o Fórum Jurídico de Lisboa, que a política monetária adotada pela autarquia é capaz e vai frear o processo inflacionário no Brasil e avaliou que a maior parte do processo já foi feita.
“Acreditamos que a ferramenta disponível é capaz e vai frear o processo inflacionário. Acreditamos que a maior parte do processo já foi feita. […] Precisamos fazer trabalho de ancorar expectativas, é muito importante”, afirmou Campos Neto.
Na última ata do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC indicou uma nova alta da taxa básica de juros, hoje em 13,25%, na reunião de agosto, de igual ou menor magnitude do que em junho. Além disso, sinalizou que a taxa Selic deve ficar mais tempo em terreno significativamente contracionista, terminando o ano que vem em nível mais alto do que no cenário de referência (10%).
Campos Neto participou do Fórum Jurídico de Lisboa, promovido pelo ICJP/CIDP (Instituto de Ciências Jurídico-Políticas e Centro de Investigação de Direito Público da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa), pelo IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa) e pela FGV (Fundação Getulio Vargas).
O presidente do Banco Central também destacou que o Brasil é um dos únicos países com revisão positiva para o crescimento econômico neste ano. Em sua avaliação, o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre deve ser forte. Mas Campos Neto ponderou, em linha com a ata do Copom de junho, que a expectativa é de desaceleração no segundo semestre devido ao aperto monetário.
Campos Neto comentou ainda o desempenho melhor do que o esperado do mercado de trabalho no Brasil. “Desemprego está muito abaixo de antes da pandemia. Brasil está gerando mais vagas”, disse, completando que a renda está menor do que no período pré-pandêmico e que a inflação alta tem corroído o poder de compra da população.
Energia
No mesmo evento, Roberto Campos Neto afirmou que vários países têm feito medidas para atenuar a crise de energia com custo fiscal muito maior do que no Brasil, principalmente os países mais dependentes do gás. Para o presidente do BC, o Brasil não é “nem de longe” um dos piores países no que tange ao problema de energia. “É um tema global.”
Segundo Campos Neto, diante da crise alimentar e energética no mundo, vários países adotaram a redução de tributos desses produtos, algo que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) também tem feito. Mostrando uma tabela com medidas na zona do euro, Campos Neto disse que todos os países também têm feito políticas de transferência de recursos para as classes mais vulneráveis.
“Vemos que onde há mais dúvida é sobre regulação de preços ou ações via empresa estatal e alguma coisa de lucros. O que está sendo mais adotado é a parte de tributos ou transferência”, afirmou, sem comentar as discussões sobre o tema no Brasil.
Na avaliação do presidente do BC, a crise energética e alimentar tem raiz na ação descoordenada de governos pelo mundo para garantir a segurança nesses dois quesitos para sua população. “Desconexão entre preços e produção não acontece só com petróleo, mas com alimentos. O anseio de gerar segurança alimentar e energética está sendo descoordenado.”
Campos Neto repetiu que os problemas globais de inflação ainda estão ligados com as políticas de enfrentamento da pandemia de Covid-19 no âmbito econômico, com o estímulo fiscal e monetário sem precedentes no mundo.
Recessão global
O presidente do Banco Central também afirmou que a grande dúvida atual no mundo é se será enfrentada uma recessão global. “O Brasil está muito mais perto de ter feito o trabalho todo. Outros países ainda estão no meio do processo de alta de juros”, disse, citando a memória inflacionária e os mecanismos de indexação “mais vivos” no Brasil.
“Vamos ver alguns países subindo bastante os juros. Precisamos entender quais vão ser as consequências para a economia mundial. Será que teremos recessão mundial? Que tipo de desaceleração a gente vai ter? Acho que essa é a pergunta mais importante”, completou.
Campos Neto citou que a política adotada pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) atualmente é mais agressiva do que era inicialmente esperada. Ele disse que o mercado projeta que os juros americanos devem chegar a uma faixa de 3% a 3,5%, já se aproximando de 4%. “Temos interpretação de que o Fed teve leitura errada de inflação, agora está correta”, afirmou. “Pela primeira vez, o mercado precifica juro dos EUA em nível que controle inflação”, completou.
Segundo o presidente do BC, a inflação global começou com choques de energia e alimentos, mas já se mostra mais disseminada em vários países, embora a China seja uma exceção, com taxa inflacionária mais baixa, que cabe ser avaliada. “BCs atuam de uma forma ante choques e de outra com inflação mais disseminada”, pontuou.