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sexta-feira 8 de outubro de 2021 às 06:29h

Vamos evitar 2º turno entre Lula e Bolsonaro, diz ACM Neto sobre novo partido

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O presidente do DEM, ACM Neto, secretário-geral do partido que resultará da fusão com o PSL, a União Brasil, afirma que a nova legenda terá como uma das prioridades atuar para evitar que o segundo turno seja entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“Vamos trabalhar muito para evitar que este cenário se coloque. O nascimento do partido tem esse objetivo, de dar uma mexida, uma sacudida nesse campo”, afirmou Neto, em entrevista à Folha.

Hoje, ele disse, a União Brasil tem três pré-candidatos: Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde (DEM); o apresentador José Luiz Datena (PSL); e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Evitando definir o partido como de direita, Neto diz que a legenda prega a defesa da democracia e as liberdades individuais e que será um partido “sem dono”.

O presidente do DEM declara ainda ter preferência pelo nome de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, frente a João Doria, governador de São Paulo, nas prévias que o PSDB fará em novembro.

Sobre a visão de líderes partidários, que dizem que o seu partido foi incorporado pelo PSL, Neto afirma que se trata de inveja.

Nos últimos meses o DEM perdeu quadros de relevância, como Rodrigo Maia e Rodrigo Garcia, e viveu uma campanha à presidência da Câmara considerada turbulenta. Foi por isso que o sr. decidiu fazer a fusão com o PSL? Não. O Democratas foi o maior vitorioso nas eleições de 2020. Nenhum partido conseguiu expandir tanto as suas bases nas eleições municipais como nós conseguimos.

E nós já tínhamos traçado um planejamento para o partido ter vida própria. Em qualquer cenário, dada a qualidade dos quadros do Democratas, nós teríamos uma relevância importante em 2022.

O que nos estimulou a fazer esse movimento foi entender que existem novas regras no jogo que vão levar a uma necessária e positiva diminuição no número de partidos no Brasil.

Criamos um partido com uma visão de médio e longo prazo, que traz uma mensagem clara e sabe o seu sentido. Mostrar que a política brasileira não precisa viver de dois polos, de radicalismos, e que sairá muito grande das urnas.

O sr. diz que traz uma mensagem clara. Qual é esta mensagem que o sr. considera clara? Há bolsonaristas ainda no partido. O sr. acha que isso é uma mensagem clara? Primeiro, acho que o nosso manifesto, que apresenta os quatro pilares fundamentais do partido, e os 44 princípios e valores demonstram que, acima de tudo, nós nascemos com o compromisso inafastável de defesa da democracia, que para nós é um valor inegociável.

Depois, a gente traz uma mensagem para se contrapor ao que dominou a política brasileira nos últimos anos, que foram mensagens extremadas. A gente entende que é possível distensionar o ambiente, construir pontes. Vocês vão entender o nosso desenho, e as pessoas, e ver que ele é coerente com nossos princípios em abril, quando houver janela de filiações e debandadas.

Qual é a estimativa? No PSL, metade da bancada deve ir com Bolsonaro. O próprio Onyx [Lorenzoni] indicou que deve deixar a sigla… O tempo verbal que precisa ser adequado nesse caso. O PSL tem, mas não terá.

Não terá o que? Metade da bancada vocacionada a estar ao lado do presidente nas eleições do ano que vem. Não adianta querer ver a fotografia da União pela soma matemática do que éramos o PSL e o DEM.

Eu não constrangi nem aquele quadro mais ligado ao governo nem o mais oposição ao governo. E neste momento estamos montando novo partido, temos de aguardar a decisão de como ficará em cada estado.

Em relação à sua postura sobre apoiadores e oposicionistas a Bolsonaro, as críticas que faziam em relação ao sr. era de que havia uma crise de identidade. E há preocupação de que isso seja levado ao novo partido. O momento das coisas são completamente distintos. A pauta sucessão presidencial vai tomando forma com o tempo. À medida que houver uma consolidação de uma alternativa de poder à polarização hoje estabelecida, será natural o comprometimento dos quadros partidários.

Não dá para exigir hoje um posicionamento tendo em vista que não existe um projeto posto. Aí entra outro aspecto fundamental, que é separar a agenda legislativa da eleitoral. Nem no governo PT, quando fui líder [da oposição], eu era contra tudo. Não temos de ser contra por ser contra.

A União Brasil é um partido de direita? Nunca gostei desses rótulos. Acho que a demanda do cidadão é por resultados, querem que o político entregue o que promete, gestões eficientes. Isso é muito mais importante do que o carimbo ou o rótulo de direita ou de esquerda.

Vocês querem colocar uma terceira via. Se ela for inviável, em um segundo turno, entre Lula e Bolsonaro, quem a União vai apoiar? Vamos trabalhar muito para evitar que este cenário se coloque. O nascimento do partido tem esse objetivo, de dar uma mexida, uma sacudida nesse campo. Temos hoje no partido três quadros que vocês sabem: Pacheco, Mandetta e Datena.

Vamos deixar de conversar com outros partidos? Não. Não vamos. Ao contrário. A gente quer ampliar este diálogo.

Eu acho que nenhum candidato novo, para quebrar a polarização, vai ser realmente viável antes de setembro do ano que vem porque nenhum deles tem o recall, a base de já ter sido testado nas urnas, como Bolsonaro e Lula.

E os partidos que tiverem interesse em uma alternativa para o Brasil vão ter de acreditar, apostar e trabalhar na construção disso.

Mas o partido de vocês permitiria que se fique ao lado do Lula? Não estamos cogitando isso agora. Não tenho que me preocupar agora de ter de ir com Lula ou Bolsonaro. Nós vamos trabalhar para ter uma alternativa e para que os brasileiros tenham opção. Se não acontecer, vamos conversar daqui um ano.

Alguns líderes partidários dizem que o DEM foi incorporado pelo PSL. Como o sr. vê essa afirmação? Eu vejo uma afirmação recheada de inveja. Na verdade, boa parte dos partidos não desejava que essa fusão fosse acontecer.

Na história do país, jamais dois partidos desse tamanho conseguiram se fundir. E não é verdade que tenha havido incorporação porque criamos um partido novo, com um programa novo, com espírito colegiado.

O estatuto prevê que qualquer decisão para ser tomada precisará de três quintos dos membros da comissão executiva. E, na prática, dos 33 membros da comissão executiva, o PSL indicou 17, o Democratas indicou 16. Isso foi uma medida de precaução que interessou aos dois lados.

E confesso, se não me sentisse completamente à vontade para ser presidido por Bivar, jamais teria aberto mão da minha presidência.

Sobre especificidades locais, em São Paulo, vocês convidaram Geraldo Alckmin para se filiar ao partido? Nós combinamos internamente que os estados onde não havia uma saída natural, nós começaríamos a tratar a partir de agora.

Não convidaram Romeu Zema, governador de Minas? Também não. Em Minas, diga-se de passagem, você tem uma liderança do partido, o Rodrigo Pacheco, que nada poderia ser feito ou cogitado sem que passasse por ele, que é o presidente do partido em Minas.

Será ainda? Por nós, sim. Mas só ele pode falar por ele. É claro que desejamos a permanência dele.

Teve um momento em que o sr. disse que não se sentaria à mesa com Doria. Segue assim? Se queremos construir um processo mais amplo, precisamos dialogar com o PSDB, que tem prévias em novembro.

Vejo com mais simpatia, de fora e sem poder me meter no ninho tucano, a candidatura do governador Eduardo Leite. A gente percebe uma postura do governador mais aberta.

A gente vê no governador Doria vontade de querer ser candidato de qualquer jeito, a qualquer custo. E caso se prefira levar a sério um projeto nacional alternativo à polarização será necessário ter uma visão coletiva.

Nesse novo partido há quem defenda Moro como candidato. Na classe política ele é um dos nomes mais odiados. O sr. vê possibilidade de essa candidatura vingar? Essa especulação é precipitada porque ninguém sabe se Moro está no jogo ou não. Eu pessoalmente nunca odiei o Moro. Ele teve acertos e erros. Só que não cabe aqui ficar especulando se ele pode ou não ser candidato.

O sr. não descarta apoio a ele? Eu não suporto trabalhar com imposições e vetos. De fora, talvez existam nomes nesse jogo que agreguem mais do que o dele. É a minha opinião. Porém, não me cabe aqui e não farei ficar estabelecendo vetos ou imposições.

O PSL teve o escândalo das candidaturas laranjas. Qual o cuidado que vocês vão ter em relação a isso? Não tenho nenhum elemento para julgar passado, exceto do próprio Democratas, partido pelo qual eu respondo.

Segundo, o meu espírito, o do presidente Bivar, e de todos os dirigentes partidários é atuar com o máximo de transparência, com todo cuidado e zelo dos recursos do fundo eleitoral, que são recursos públicos. 2020 já foi uma eleição com critérios internos de controle maior do que 2018. E 2022 vai ser maior do que 2018.

Temos absoluta confiança na condução e nas diretrizes que o presidente Bivar estabelecerá na condução do partido.

O Onyx vai sair? Não conversamos sobre o que ele vai fazer ou deixar de fazer, vamos aguardar.

O sr. conversou com Rodrigo Maia, com quem protagonizou embates ao longo deste ano e que acabou expulso do DEM? Sim. Foi um café da manhã organizado pelo Mandetta. Participamos eu, Rodrigo, [Ronaldo] Caiado [governador de Goiás] e Mandetta.

Dos dois lados, nós fizemos a opção de não tratar de passado, das coisas que aconteceram nesses nove meses de 2021.

Temos uma relação construída em 20 anos, nos quais os últimos nove meses foram de absoluta divergência. Foi uma conversa em tom ameno, conciliador.

Um dia, talvez, quem sabe, vale a pena entrar nos últimos nove meses, quando tiver mais distante o que aconteceu. Acho que agora foi mais uma oportunidade de começar do zero do que lavar roupa suja.

Ele pode voltar ao partido? Não sei. Não tratamos sobre isso.

RAIO X

Antônio Carlos Magalhães Neto, 42 anos
Prefeito de Salvador em duas ocasiões, é presidente do Democratas. Formado em direito pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), foi deputado federal por três mandatos. Eleito pela primeira vez em 2002, renunciou ao mandato em 2012 para assumir a prefeitura. Em 2016, foi reeleito em Salvador. Antes, de 1999 a 2002, trabalhou como assessor da Secretaria de Educação da Bahia

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